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A Exposição da obra “o Existencialismo é um Humanismo”

Por:   •  23/10/2017  •  Resenha  •  2.036 Palavras (9 Páginas)  •  589 Visualizações

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Exposição da obra “o Existencialismo é um Humanismo”

A obra “O Existencialismo é um Humanismo” foi publicada em 1946 por Jean-Paul Sartre. Baseado em uma palestra proferida no ano anterior à publicação da obra, o texto visa a defesa da doutrina existencialista, a qual sofrera uma série de críticas articuladas por intelectuais contrários às ideias do filósofo francês. Assim, a presente exposição tem como objetivo destacar os argumentos centrais da defesa sartreana e o cerne da moral existencialista.

        Faz-se necessário destacar as principais críticas que foram direcionados ao Existencialismo. Em primeiro lugar, os comunistas acusaram a concepção sartreana de se resumir a uma filosofia burguesa. Tal acusação deve-se à tese de que o existencialismo levaria ao imobilismo do desespero, desconsiderando a possibilidade da ação. Portanto, a filosofia vigente seria a da contemplação, o que remete ao luxo burguês. Em segundo lugar, tem-se a crítica de que o existencialismo se esqueceu da solidariedade humana, visto que tal corrente filosófica parte do pressuposto de que o homem é puramente subjetivo. Observa-se, então, as críticas cristãs, as quais afirmam ainda que os existencialistas presam pela pura gratuidade, levando a uma espécie de libertinagem em que cada homem age de acordo com as suas vontades, já que a doutrina existencial desconsidera a existência de Deus.

 Com as críticas expostas, torna-se cabível uma definição de existencialismo. Sartre, após destacar que há dois tipos de existencialistas, os cristãos e os ateus, afirma que “O que eles têm em comum é simplesmente o fato de todos considerarem que a existência precede a essência, ou, se se preferir, que é necessário partir da subjetividade.” (pág. 3). Portanto, o existencialismo é uma corrente filosófica que tem a pura subjetividade do homem como ponto de partida. Ela acredita que o homem nasce como uma tábula rasa, e a partir daí se constrói no mundo, sem nenhuma espécie de essência pré-definida. Assim, pode-se estabelecer um primeiro argumento contra as acusações supracitadas. As críticas destacadas se relacionam na medida em que enxergam o existencialismo como uma doutrina pessimista, e, de certa forma, negativa. Retoricamente, Sartre lança o seguinte questionamento:

[...] são estas as pessoas que acusam o existencialismo de ser demasiado sombrio, a tal ponto que eu me pergunto se elas não o censuram, não tanto pelo seu pessimismo, mas, justamente pelo seu otimismo. Será que, no fundo, o que amedronta na doutrina que tentarei expor não é fato de que ela deixa uma possibilidade de escolha para o homem?” (pag. 3).

Com essa provocação, o filósofo demostra um entendimento do existencialismo: “[...] como uma doutrina que torna a vida humana possível e que, por outro lado, declara que toda verdade e toda ação implicam um meio e uma subjetividade humana.” (pag. 2). Assim, o existencialismo não busca a negação humana, mas a sua afirmação, ao passo em que busca conceder ao homem a construção de seu futuro.

Jean Paul Sartre representaria o existencialismo ateu. Tal corrente afirma que não há natureza humana, já que não existe um Deus para defini-la. Isso significa que não há fator exterior que possa influenciar na essência do homem. Para ser, o homem precisa existir, e é existindo que ele começa a escolher e, então, a se construir. Caso existisse um Deus, o homem seria condicionado, o que, em Sartre, não é cabível. O primeiro princípio existencialista, nas palavras de Sartre, é o que afirma que “o homem nada mais é do que aquilo que ele faz de si mesmo” (pág. 4). Esse princípio afirma a subjetividade humana. A definição de subjetividade que mais é compatível com o existencialismo é a seguinte: “[...] escolha do sujeito individual por si próprio e, por outro lado, impossibilidade em que o homem se encontra de transpor os limites da subjetividade humana” (pág. 5). Isso faz com que o homem torne-se responsável por aquilo que é, já que é ele quem faz as escolhas, e escolhendo, escolhe a todos os outros homens. Com essa consciência, a responsabilidade humana torna-se cada vez maior.

Com os preceitos básicos do existencialismo expostos, pode-se agora discutir acerca de uma moral existencialista, a qual partiria das definições existenciais mencionados por Sartre. Como construir uma moral despida de valores pré-estabelecidos? Para isso, é importante avaliar a posição sartreana em relação a outros tipos de moral. Primeiramente, o filósofo cita uma moral laica, a qual foi defendida por alguns professores franceses da época. Ela afirmava a possibilidade de eliminar a existência de Deus com o mínimo de danos possíveis, considerando-o uma ilusão inútil e caduca. Já para a doutrina existencialista, a inexistência de Deus seria algo incômodo, de certa forma. Ao ter a consciência de que Deus não existe, o homem vê-se desamparado, sem valores pré-estabelecidos para definir o que é o bem e o que é mal, por exemplo, e aí está uma consequência. Por outro lado, é justamente esse desamparo existencial que o condena à liberdade. O homem é livre e não possui determinismo que conduza a sua conduta.

Partindo do extremo laico para um extremo religioso, Sartre analisa agora uma moral cristã. Tal moral estabelece que as atitudes humanas devem se fundar na caridade e os homens devem amar uns aos outros. Mas quem são “os outros”? O cristianismo, para Sartre, não é capaz de definir ao certo como os homens devem agir, por possuir uma moral rasa e inespecífica. Há ainda a moral kantiana, que vê no imperativo categórico – o agir de modo que a ação torne-se uma máxima universal – uma solução para determinar a ação humana. Kant afirmava ainda que devemos tratar os outros como fim e nunca como meio. Entretanto, para Sartre, ao agir, o homem escolhe um fim, e tudo aquilo que não foi escolhido, passa a ser um meio. Assim, o francês vê na moral kantiana mais um tipo de doutrina que não concede ao homem a base para o agir.

Agora, então, pode-se introduzir uma moral existencialista. Sartre chama de moral da ação e do engajamento um tipo de moral em que os valores são contemporâneos ao ato. Assim, a moral é construída com o agir, sem se deixar influenciar por fatores exteriores. Nas palavras de Sartre:

“o sentimento constrói-se através dos atos praticados; não posso, portanto, pedir-lhe que me guie. O que significa que não posso nem procurar em mim mesmo a autenticidade que me impele a agir, nem buscar numa moral os conceitos que me autorizam a agir.” (pág.8)

Para melhor exemplificar, o filósofo compara a moral que tenta construir a uma obra de arte e seu autor.  Ao pintar um quadro, o artista não possui valores à priori que ditarão qual será o resultado da obra, e o quadro que ele deveria ter feito, é o quadro que fez. Assim é a moral que Sartre tenta estabelecer: uma moral criativa. A pintura só será julgada se for feita, bem como a moral, que só terá valor com a prática do ato. À priori, não há como decidir o que fazer; o homem inventa e cria seus valores com a própria ação. Com isso, não há gratuidade no ato, mas um “construir a si próprio” por meio do agir. Reforçando tal ponderação, Sartre afirma que:

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