O existencialismo é humanismo Sartre
Por: Elias Sarmento • 7/4/2016 • Resenha • 1.491 Palavras (6 Páginas) • 3.964 Visualizações
RESENHA SOBRE O TEXTO DE JEAN-PAUL SARTRE: “O EXISTENCIALISMO É UM HUMANISMO” (1946)
Mediante o texto “O existencialismo é um humanismo” do filósofo francês Jean-Paul Sartre (1905-1980) apontaremos aqui uma resenha de tipo relatada; que foi proferido no ano de 1946 onde o pensador visa iluminar uma série de questões a respeito da sua filosofia, o existencialismo; que como veremos, de caráter ateu, o existencialismo de Sartre, ao contrário do que pensa o consenso da maioria, se tem uma humanismo e um otimismo. O empenho de Sartre em tornar claro a sua filosofia foram fundamentais para que ela não viesse a extinguir-se. Exporemos de forma sucinta as preocupações de Sartre para que depois possamos evidenciar um quadro bastante geral que costura as principais ideias do texto, como o ponto central do existencialismo, de que a existência precede a essência.
Sartre inicia o seu texto debatendo algumas críticas que foram proferidas a sua doutrina, em particular aquelas direcionadas por marxistas, os mesmos afirmavam que existencialismo seria uma filosofia que prega a contemplação, luxo burguês. E pelos católicos, que da mesma forma criticavam algo, porém declaravam que o existencialismo passa uma imagem negativa do ser humano e transformava a moral num âmbito de relatividade radical, por tirar Deus do “espaço”. Contudo Sartre antecipa que, ao contrário do que pensam, o existencialismo se caracterizará tanto por um humanismo, no sentido de que há uma edificação da subjetividade humana.
Então, coloca uma distinção entre duas escolas existencialistas: o existencialismo cristão, onde ordena Jaspers e Marcel e o ateu, onde posiciona Heidegger e ele próprio como representantes. Embora, Sartre aponte que o existencialismo não está atento em fornecer uma comprovação da inexistência de Deus e que a existência ou não dele é apático para todo seu conjunto, seja no campo ontológico seja no campo da moral.
Posteriormente a essa introdução, Sartre apresenta sua ilustre tese de que “a existência precede a essência”. Essa tese, nada mais é do que uma contribuição das ideias apresentadas em sua obra clássica, O ser o e nada de 1943, três anos antes desse nosso texto. Nessa obra, Sartre relata que o que distingue os seres humanos dos outros seres é a consciência. Não trazemos nada formulado em nossa consciência quando somos concebidos a este mundo, ela é imaculada; nossa consciência é preenchida pelos fenômenos externos a partir do momento que acontece à nossa existência. O interior da consciência é formado pelo que ela percebe e que advém da natureza. É essa consciência que dá significado aos objetos que tomam conta da natureza, consciência envolve intenção, toda consciência é consciência de algo. Dessa fenomenologia evidencia uma distinção, já existente em Hegel: entre ser em-si, no caso, o homem, aquele que percebe e utiliza essa habilidade para dizer o que é e o que fará e entre ser para-si, que apenas são percebidos, mas não se inferem e não são providos de autonomia.
Toda essa base teórica está subordinado ao que Sartre está enunciando em O existencialismo é um humanismo, não temos natureza e caráter humana, não somos algo que possui uma predeterminação por nada, existimos apenas por nós mesmos, edificamos a nós mesmos, daí que surge o humanismo do existencialismo, a doutrina sugeri uma construção de si mesmo: “O homem nada mais é do que aquilo que ele faz a si mesmo: é esse o primeiro princípio do existencialismo” (SARTRE, 1987, p. 6). Uma coisa é evidentemente decorrente da outra, na proporção em que não há natureza que nos define, só nos resta a nós mesmos, após sermos sensibilizar-nos pelos fenômenos do mundo, nos formamos enquanto seres que existem, pode-se proferir que não nascemos com uma alma, mas que a obtemos com o passar do tempo.
Fazer uma bondade ou uma maldade é algo que provem da escolha de cada um, deixar de sê-lo também: “o existencialismo afirma é que o covarde se faz covarde que o herói se faz herói; existe sempre, para o covarde, uma possibilidade de não mais ser covarde, e, para o herói, de deixar de o ser (Sartre, 1987, p. 14)”. Eis aí o lado otimista do existencialismo, não se diz a respeito do individuo vim a ser um fracassado e conformar-se com isso ou aceitar de forma passiva, pois cabe a cada um modificar sua natureza, na medida em que não há natureza que nos ponha alguma sentença sem que não possamos de alguma forma intervir nisto.
Desde dessa questão claramente decorre o outro ponto relevante que apontamos, que é a questão da liberdade, outro símbolo do pensamento existencialista. Se “a existência precede a essência, nada poderá jamais ser explicado por referência a uma natureza humana dada e definitiva, ou seja, não existe determinismo, o homem é livre, o homem é liberdade (SARTRE, 1987, p. 9), o homem está “condenado” a ser livre. Disso elencaremos alguns outros quesitos: a angústia pela qual o homem vive no existencialismo, por estar incondicionalmente livre, por ser o único consciente pelos seus atos, que não são seus em concepção egoísta, mas são de cada um, ou seja, os atos de todos os homens (SARTRE, 1987, p. 6), o homem traz o peso e a preocupação que conduz sua liberdade extrema e também o “imperativo categórico” sartreano, tonificando o porquê do existencialismo ser um humanismo: “Humanismo, porque recordamos ao homem que não existe outro legislador a não ser ele próprio” (SARTRE, 1987, p. 21).
Dessa forma, o pensamento existencialista desata com a herança essencialista que domina o ente à sua essência ao expor que o ente não só não se submete à sua essência como a produz. Nessa conjuntura, como o existencialismo entende a liberdade?
Do mesmo modo, há um afastamento com a tradição, não simplesmente aborda apenas identificação do livre-arbítrio, adotar entre preferencias possíveis, não é apenas optar entre variáveis. Mas, como sobrepomos na questão da angústia, a liberdade para Sartre é a preferencia livre mais a responsabilidade consciente pelos próprios atos. Disso realçamos também, que a conceito sartreana não aprova um “tudo pode” anárquico ou egoísta, na proporção em que o engajamento é determinado, não julgo apenas a minha liberdade, mas a de todos os outros na sociedade em que convivo, a escolha que faço não é minha, mas universal.
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