A Filosofia Moral Ética Ou Filosofia Moral
Ensaios: A Filosofia Moral Ética Ou Filosofia Moral. Pesquise 861.000+ trabalhos acadêmicosPor: BernadeteFadel • 26/8/2014 • 2.530 Palavras (11 Páginas) • 823 Visualizações
Toda cultura e cada sociedade institui uma moral, isto é, valores concernentes ao
bem e ao mal, ao permitido e ao proibido, e à conduta correta, válidos para todos
os seus membros. Culturas e sociedades fortemente hierarquizadas e com
diferenças muito profundas de castas ou de classes podem até mesmo possuir
várias morais, cada uma delas referida aos valores de uma casta ou de uma classe
social.
No entanto, a simples existência da moral não significa a presença explícita de
uma ética, entendida como filosofia moral, isto é, uma reflexão que discuta,
problematize e interprete o significado dos valores morais. Podemos dizer, a
partir dos textos de Platão e de Aristóteles, que, no Ocidente, a ética ou filosofia
moral inicia-se com Sócrates.
Percorrendo praças e ruas de Atenas – contam Platão e Aristóteles -, Sócrates
perguntava aos atenienses, fossem jovens ou velhos, o que eram os valores nos
quais acreditavam e que respeitavam ao agir.
Que perguntas Sócrates lhes fazia? Indagava: O que é a coragem? O que é a
justiça? O que é a piedade? O que é a amizade? A elas, os atenienses respondiam
dizendo serem virtudes. Sócrates voltava a indagar: O que é a virtude?
Retrucavam os atenienses: É agir em conformidade com o bem. E Sócrates
questionava: Que é o bem?
As perguntas socráticas terminavam sempre por revelar que os atenienses
respondiam sem pensar no que diziam. Repetiam o que lhes fora ensinado desde
a infância. Como cada um havia interpretado à sua maneira o que aprendera, era
comum, no diálogo com o filósofo, uma pergunta receber respostas diferentes e
contraditórias. Após um certo tempo de conversa com Sócrates, um ateniense
via-se diante de duas alternativas: ou zangar-se e ir embora irritado, ou
reconhecer que não sabia o que imaginava saber, dispondo-se a começar, na
companhia socrática, a busca filosófica da virtude e do bem.
Por que os atenienses sentiam-se embaraçados (e mesmo irritados) com as
perguntas socráticas? Por dois motivos principais: em primeiro lugar, por
perceberem que confundiam valores morais com os fatos constatáveis em sua
vida cotidiana (diziam, por exemplo, “Coragem é o que fez fulano na guerra
contra os persas ”); em segundo l ugar, porque, inversamente, tomavam os fatos da
Marilena Chauí
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vida cotidiana como se fossem valores morais evidentes (diziam, por exemplo,
“É certo fazer tal ação, porque meus antepassados a fizeram e meus parentes a
fazem”). Em resumo, confundiam fatos e valores, pois ignoravam as causas ou
razões por que valorizavam certas coisas, certas pessoas ou certas ações e
desprezavam outras, embaraçando-se ou irritando-se quando Sócrates lhes
mostrava que estavam confusos. Tais confusões, porém, não eram (e não são)
inexplicáve is.
Nossos sentimentos, nossas condutas, nossas ações e nossos comportamentos são
modelados pelas condições em que vivemos (família, classe e grupo social,
escola, religião, trabalho, circunstâncias políticas, etc.). Somos formados pelos
costumes de nossa sociedade, que nos educa para respeitarmos e reproduzirmos
os valores propostos por ela como bons e, portanto, como obrigações e deveres.
Dessa maneira, valores e maneiras parecem existir por si e em si mesmos,
parecem ser naturais e intemporais, fatos ou dados com os quais nos
relacionamos desde o nosso nascimento: somos recompensados quando os
seguimos, punidos quando os transgredimos.
Sócrates embaraçava os atenienses porque os forçava a indagar qual a origem e a
essência das virtudes (valores e obrigações) que julgavam praticar ao seguir os
costumes de Atenas. Como e por que sabiam que uma conduta era boa ou má,
virtuosa ou viciosa? Por que, por exemplo, a coragem era considerada virtude e a
covardia, vício? Por que valorizavam positivamente a justiça e desvalorizavam a
injustiça, combatendo-a? Numa palavra: o que eram e o que valiam realmente os
costumes que lhes haviam sido ensinados?
Os costumes, porque são anteriores ao nosso nascimento e formam o tecido da
sociedade em que vivemos, são considerados inquestionáveis e quase sagrados
(as religiões tendem a mostrá-los como tendo sido ordenados pelos deuses, na
origem dos tempos). Ora, a palavra costume se diz, em grego, ethos – donde,
ética – e, em latim, mores – donde, moral. Em outras palavras, ética e moral
referem-se ao conjunto de costumes tradicionais de uma sociedade e que, como
tais, são considerados valores e obrigações para a conduta de seus membros.
Sócrates
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