A Filosofia da Religião, Filosofia Analítica da Religião, Espaço Sagrado, R. Otto, W. James
Por: Umberto Maciel • 14/6/2022 • Trabalho acadêmico • 1.646 Palavras (7 Páginas) • 177 Visualizações
Disciplina de Filosofia da Religião[pic 1]
2021/2
Prof. Dr. Rogério Passos Severo
Prof. Alexandre Rodrigues e Prof. Wiltonn Leite
Discente: Umberto de Bem Maciel (00326075)
1-b) Tomando como referência o debate da chamada Filosofia Analítica da Religião, apresente três argumentos que fazem parte do escopo dessa abordagem.
O debate em questão, toma como base o famoso texto de Bertrand Russel, “Por que não sou cristão”, de 1927, do qual o filósofo britânico faz críticas aos argumentos a favor do teísmo. Russell busca se posicionar de forma contrária a posição católica sobre a prova da existência de Deus, argumentando que tal prova, se for verificada de forma analítica, não se sustenta. No artigo publicado por Agnaldo Portugal, ele argumenta que Russell apenas apresenta os pontos negativos dos argumentos, não demonstrando contraexemplos positivos para tais teses. O que é proposto por Swinburne - um dos autores citados no artigo - é justamente demonstrar que para cada um dos argumentos contrários desenvolvidos por Russell, é possível apresentar argumentos que são a favor da existência de Deus, e que apesar da existência em Deus não poder ser comprovada, podemos estar amparados por boas probabilidades.
Com base na questão de Swinburne, selecionei os três argumentos abaixo que são parte do artigo, e que demonstram que muitas máximas podem ser rejeitadas, tendo em vista suas limitações epistêmicas quanto a existência de Deus:
- Ciência parece demandar um complemento metafísico;
Tal argumento demonstra que a própria ciência parte de teses que muitas vezes não podem ser comprovadas, segundo Swinburne “a investigação científica começa com o pressuposto de que há um mundo a ser pesquisado” (PORTUGAL, p. 416) e isso demonstra a limitação da ciência a este universo. Mas como dito por Swinburne, não podemos limitar a “existência do universo físico a um fato bruto, que não carece de explicações” (p.416), desta forma, estaríamos limitando o universo ao que é conhecido e desconsiderando a possibilidade de existência de algo além do que é considerado pela ciência, ou que outra realidade existiu. A própria ciência pressupõe o universo existente e isso não comprova a não existência de outra realidade.
- Teísmo é uma tese metafísica que não se baseia em leis, mas em intenções;
O teísmo, como explicado por Swinburne, não está baseado em “leis naturais e condições empíricas” (p. 416), ele se baseia em “intenções, crenças e poderes” e não pode ser limitado as leis da ciência. Limitar a fé, por exemplo, a modelos científicos, acabaria por determinar a impossibilidade da fé, sendo que está não pode ser demonstrada com palavras, ela é uma condição singular, nem poderíamos aceitar a existência de milagres.
- Simplicidade do Teísmo
Swinburne explica que Deus é a tradução da simplicidade, Deus é “um ser incorpóreo onisciente, onipotente e infinitamente bom” (p. 417), argumento esse base do teísmo e por isto, Deus seria “uma pessoa de tipo mais simples do que os seres humanos” (p.419) e desta forma, Deus não teria os limites que interferem nos humanos e “sua percepção do que é certo, sua decisão de fazer o que é certo e a realização do que é certo, o que é muito mais complexo no caso humano.” (p. 419). Além do que, Deus não seria explicável pela ciência, visto que Deus estaria além da ciência e não está considerado dentro dos limites de estudo da ciência.
2-a) Explique o que M. Eliade pretende quando escreve que o Espaço Sagrado deve ser compreendido como o início do mundo.
Eliade descreve que o sagrado está presente desde o início da humanidade, ele detalha que em diversas épocas o sagrado é apresentado, seja para o homem primitivo, que entende que tudo na natureza é divino ou sagrado, ou para os gregos que cultuavam deuses como da luz (Apolo), ou dos mares (Poseidon). Eliade diz que “a revelação de um espaço sagrado permite que se obtenha um ‘ponto fixo’, possibilitando, portanto, a orientação na homogeneidade caótica, a ‘fundação do mundo’, o viver real.” (Eliade, p. 18), ou seja, a revelação de um espaço sagrado, em detrimento de uma homogeneidade caótica (vista no profano), permite ao homem ter um “ponto fixo”, revelado pela hierofania, um local de adoração e desta forma o homem religioso pode ter uma orientação, um centro, que acaba por ser entendido como o próprio “centro do mundo” e com isto o distanciamento do ‘caos anterior’.
Conforme escrito por Eliade: “Para viver no Mundo é preciso fundá-lo – e nenhum mundo pode nascer no ‘caos’ da homogeneidade e da relatividade do espaço profano.” (ibidem, p. 17), em outras palavras, quando o homem passa a ter um ponto fixo para se orientar, Eliade explica que isto “equivale à Criação do Mundo”, a experiência religiosa acaba por dar uma qualidade distinta ao espaço, possibilitando a vida real, que por sua vez acaba por “fundar o mundo” e desta forma ele se inicia. Para Eliade, o nosso mundo, onde o sagrado já se manifestou, é o “Cosmos”, um território consagrado e é preciso entender que “se todo território habitado é um ‘Cosmos’, é justamente porque foi consagrado previamente, porque, de um modo ou outro, esse território é obra dos deuses ou está em comunicação com o mundo deles.” (ibidem, p. 21). O nosso mundo, este em que vivemos, por já ter o sagrado se manifestado, ele permite a orientação, “portanto, funda o mundo, no sentido de que fixa os limites e, assim, estabelece a ordem cósmica.” (ibidem, p. 21). Ou seja, através da manifestação do sagrado, é possível a ruptura do caos e então a fundação do mundo se dá.
Para Eliade:
Se precisássemos resumir o resultado das descrições que acabamos de ler, diríamos que a experiência do sagrado torna possível a “fundação do Mundo”: lá onde o sagrado se manifesta no espaço, o real se revela, o Mundo vem à existência. (ibidem, p. 36)
Partindo da constatação dada por Eliade, podemos afirmar que o mundo só se inicia com a presença do sagrado, que apenas com a presença do sagrado é possível haver a “comunicação entre os níveis cósmicos (entre a Terra e o Céu)” (ibidem, p. 36), em outras palavras, Eliade não está se referindo ao “início do mundo”, em sua formação geológica, mas sim o início de sua existência como mundo sagrado.
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