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A IRONIA PÓS-MODERNA E SUA RELAÇÃO COM A REALIDADE DO SER

Por:   •  27/2/2018  •  Artigo  •  3.018 Palavras (13 Páginas)  •  218 Visualizações

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A IRONIA PÓS-MODERNA E SUA RELAÇÃO COM A REALIDADE DO SER

Pedro A. de Sá[1]

Samara P. Baleeiro[2]

RESUMO: Investigar as relações do homem com a realidade sempre foi objeto de estudo de filósofos desde os gregos até os contemporâneos. Com o presente artigo tenta-se uma aproximação da relação entre ironia e pós-modernidade, em como esta se dá no âmbito de criação e existência do ser. Buscou-se apresentar o homem enquanto sujeito decorrente de um processo histórico, cronológico, e evolucionário, metafísico. Utilizando de embasamento principal as percepções de Nietzsche e Markus Gabriel. Enquanto um sugeriu a desconstrução, o outro busca solidificar as estruturações de uma nova ontologia.

Palavras-chaves: Novo realismo de Markus Gabriel, modernidade líquida, ironia pós-moderna.

ABSTRACT: Investigating the relations of man with reality has always been the object of study of philosophers from the Greeks to the contemporaries. With the present article, an attempt is made to approximate the relationship between irony and postmodernity, as it occurs within the scope of the creation and existence of being. It was tried to present the man as subject arising from a historical process, chronological, and evolutionary, metaphysical. Using the main basis of the perceptions of Nietzsche and Markus Gabriel. While one has suggested deconstruction, the other seeks to solidify the structuring of a new ontology.

Keywords: New realism of Markus Gabriel, liquid modernity, postmodern irony.


  1. INTRODUÇÃO

Compreender o que é o homem e suas necessidades, é trazer à reflexão um universo de possibilidades, que, assim como Debord (2003, p. 84), este mesmo homem é “igual ao tempo. A apropriação do homem da sua própria natureza é, de igual modo, o apoderar-se do desenvolvimento do universo”. Na perspectiva de Cassirer (1945) este universo é completo quando contempla as dimensões da cultura, linguagem, arte, história e religião resultando no homem simbólico. Dessa maneira, classifica-se o homem do contexto pós-moderno como salientado por Bauman (2001) como pertencente à uma realidade liquefeita.

Em tempos hipermodernos não entender uma ironia é quase que o mesmo de se declarar um inapto para a vida social que se desenvolveu ao longo de anos de estímulos do pensamento pós-moderno. Pois

A ironia na pós-modernidade tem exatamente esse valor: criar uma noção de rompimento da assimetria, uma sensação de privilégio intelectual ao participarmos de um clube restrito, daqueles que captaram a piada. Cientes de que vender bobagem nos coloca na posição de tolos, ao nos informar descaradamente que sim, estamos sendo feito de bobos, começamos a sonhar estar penetrando um âmbito mais esperto. (PINHEIRO, 2015)

Exatamente o que Markus Gabriel(2016) caracteriza a pós-modernidade, sendo ela uma grande cena de um espetáculo, no qual esforços não são medidos na tentativa de iludir mutuamente os demais, tornando-se assim figuras de poder e manipulação. Nesse jogo de poder vemos a ironia sendo empregada de forma a explorar o homem em suas misérias constitucionais, sejam elas consequências históricas, sociais ou ambas.

 [a]

  1. O SURGIMENTO DO HOMEM PÓS-MODERNO

Para entendermos o homem pós-moderno precisamos retornar à sua raiz: a modernidade, marcada pelo uso da razão como fonte verdadeira do saber e fundamentada no pensamento como definidor da existência de Descartes(1996), tem toda trajetória filosófica constituída pela busca da verdade acerca do homem, realçando sua funcionalidade na produção do próprio pensar. Contrariando o estímulo cartesiano pela busca da verdade através do pensar, Nietzsche(2013) aponta uma nova corrente que tem por fim questionar e aniquilar todas as verdades antes estabelecidas, instaurando um ceticismo e um pessimismo extremos. O fim do poder da razão, o abandono da mesma enquanto norteadora do homem, e somado aos[b] fundamentos do niilismo, decretam o aniquilamento da modernidade e de toda e qualquer dogmatização[c].

A razão, outrora subordinada a fé encontra-se livre de seus grilhões teológicos, neste período de iluminação do conhecimento vemos a humanidade ir além. Surgindo de um ideal de igualdade, liberdade e fraternidade, promovidos pela Revolução Francesa e seu iluminismo, passa a ter o homem como um ser “divino”, protagonista da sua existência e da sua própria criação. Desse modo Nietzsche[d] (2013) critica tanto o metafísico quanto o religioso pela busca de algo transcendente, de um mundo suprassensível. Para ele isto seria uma depreciação da vida e da finalidade do homem, esta atitude valoriza o pensamento platônico expresso no mito da caverna de valorização da essência e do verdadeiro, do racional. Tal depreciação pelos sentidos se fortalece de tal forma que o sensível não possui mais credibilidade alguma[e][f].

Jean Baudrillard[g] (1985) aborda a liquefação de conceitos na pós-modernidade como produtora de massa. O pensamento próprio que deveria ser o responsável por colocar o homem em movimento na “roda da vida” [h]e empenhá-lo na sociedade é descartado e atribuído ao líder da ideologia que a massa segue. Funciona como ratos de laboratório que tem seus estímulos regidos e guiados pelo cientista, que em determinado momento os coloca todos a correr em uma mesma esteira, de tal ato surge um condicionamento que nem mesmo o produtor dele será possível controlar, ao ponto de que os camundongos de laboratório, as massas, já não lhe respondem mais. A identidade não é mais algo concreto, mas sim fragmentado assim como diz Stuart Hall (2010, p.12[i])

O sujeito previamente vivido como tendo uma única identidade unificada e estável, está se tornando fragmentado; composto não de uma única, mas de várias identidades, algumas vezes contraditórias ou não-resolvidas. Correspondentemente, as identidades, que compunham as paisagens lá fora [...] estão entrando em colapso[...]. O próprio processo de identificação [...] tornou-se mais provisório, variável e problemático[j].

Tal crítica é encontrada em várias obras cinematográficas, mas que muitas vezes por conta da massificação ou falta de interesse coletivizada[k], não são abordadas as devidas críticas sociais contidas, poderíamos citar o caso do Filme Splited, em inglês fragmentado, que conta a história de um homem que tem distúrbio de personalidade e possui 24 identidades psicológicas distintas, cada um com seu vocabulário, forma de expressão, temperamento, idade e claro ideologias. Estabelecendo um paralelo entende-se a realidade, contrariedade e a fragmentação da pós-modernidade como possíveis reflexões acerca das abordagens do conteúdo, apresentando o ser enquanto povoado por identidades que o forma e transforma.

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