ANGÚSTIA: TENSÃO EXISTENCIAL EM KIERKEGAARD
Por: cristian1979 • 26/10/2015 • Projeto de pesquisa • 3.746 Palavras (15 Páginas) • 397 Visualizações
PRÉ-PROJETO DE PESQUISA
Cristian Ribeiro de Oliveira
ANGÚSTIA: TENSÃO EXISTENCIAL EM KIERKEGAARD
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São Paulo
2015
RESUMO
A presente pesquisa abordará o tema que é essencial para um prelúdio seguro à Filosofia Kierkegaardiana: a angústia. Vale enfatizar que o presente tema, tratado por Kierkegaard, é um alicerce primordial a compreensão do homem contemporâneo e o entendimento da filosofia do século XX, principalmente a corrente existencialista[1]. A originalidade com que Kierkegaard tratou a existência e as tensões inerentes a ela, o coloca entre os grandes pensadores que interpretaram plenamente as problemáticas existenciais. Como a angústia é a temática do presente trabalho dar-se-á enfoque as duas vertentes que originam esse “desassossego existencial” e são analisadas pioneiramente por Kierkegaard: o possível e o desejo presentes na existência. Também pensaremos na relação entre o desejo, o possível e a finitude, baseando-nos na teoria kierkegaardiana na qual a existência é viver a finitude humana confrontada com o possível.
JUSTIFICATIVA E DESENVOLVIMENTO
A filosofia de Kierkegaard é uma reflexão a respeito da posição do indivíduo diante da existência. O existir autêntico é concebido por Kierkegaard como um momento dramático, uma tensão entre a liberdade e o determinismo; a obrigação moral e a falta da mesma, em suma, o mistério que é o homem. Seguindo essas concepções preliminares temos a angústia como a primordial problemática do presente projeto, assim, o enfoque estará direcionado a angústia vivida pelo indivíduo diante do possível e desejo numa existência plenamente finita.
Urgente se faz explicar alguns tópicos importantes da Filosofia Kierkegaardiana para assim justificarmos a pesquisa proposta. No pensamento de Kierkegaard há uma incansável “busca” que precipita o indivíduo na dualidade do viver ou morrer por uma idéia, de tal forma essencial que a existência é impossível sem ela, pois, então a vida não teria sentido. O indivíduo cuja alma é incessantemente agitada pelas possibilidades da existência e pelas escolhas diante das quais elas o colocam, busca uma verdade[2] que sirva de baluarte à existência, verdade que é o cerne da busca existencial, logo, nessa busca ele pode experimentar; pode moldar sua vida de acordo com os estádios que lhe são ofertados pela existência.
O ser humano é obrigado à escolha! Essa forma imperativa de decidir se dá o tempo todo. O indivíduo tem consciência de que a escolha carrega o certo ou o errado, a felicidade ou a tristeza, o amor ou o ódio, isso porque o possível está presente nas escolhas. É nesse embate que o indivíduo depara-se com a tensão existencial que o faz ferver, tensão que é uma grande preocupação presente na sua vida e a qual Kierkegaard tratou com magistratura. A angústia é essa tensão existencial.
Para melhor compreensão da angústia presente na filosofia kierkegaardiana, vale explicar os conceitos do possível e do desejo para este. Assim, a palavra possível origina-se do latim: posse, que a seu passo é derivada de potis esse, que significa ser patrão de, ter em seu poder. O possível, para Kierkegaard, é o que se pode realizar na concretude da vida. O possível kierkegaardiano não remete a um juízo sobre o suceder das coisas ou o acontecer de um estado de coisa, o possível caracteriza o existir humano. Para o filósofo dinamarquês a vida não é um movimento que se resume no nascer e morrer, mas, a vida é existência, é relação com o mundo e com as pessoas, é preocupação com a sobrevivência, é antecipação e projeto, enfim, é desenvolvimento de um programa que está se escrevendo. O existir é contingência absoluta: não conhece outra necessidade a não ser a das escolhas exigidas. O existir do homem é encontrar-se sempre num duelo ante o infinito do possível. A possibilidade kierkegaardiana encaixa-se perfeitamente na indagação de Hamlet: Ser ou não ser? O possível kierkegaardiano enquadra o indivíduo como um ser livre, único e responsável pela sua alegria ou tristeza.
O existir humano é possibilidade, diferente dos animais onde a espécie prevalece ao indivíduo, no homem a espécie não decide por ele, é o indivíduo quem deve decidir por sua conta e essa decisão não tem escapatória. O homem não tem uma existência teórica, mas prática, sendo no confronto com os possíveis que ele dá forma a sua singularidade existencial.
“Digo, portanto, que existe tudo o que possui por natureza a possibilidade de fazer uma coisa qualquer ou de sofrer uma ação (...) E é por isso que coloco essa definição: os seres não são nada além de possibilidade.[3]”
Sem serenidade, a existência coloca o indivíduo diante de alternativas perante as quais é preciso optar. No entanto há algo que paralisa este “ser de possibilidades”, ele encontra-se, mais cedo ou mais tarde, completamente indeciso diante de uma possibilidade que se apresenta a ele e cuja importância é tão grande que qualquer escolha parece impossível. A possibilidade é indeterminada, positiva ou negativa, pode ser plena de satisfação ou um repositório de lamentações. Essa dualidade faz com que o ser humano pese, compute, calcule. Diante da possibilidade da infelicidade, compreende-se que se possa usar de subterfúgios, consoante um guerreiro que antes de ir a uma batalha por uma aspiração fica a dar voltas em torno do túmulo por muito tempo. A hesitação em escolher e a incerteza provocada pelas possibilidades provoca um sentimento de mal-estar, esse sufocamento diante do que não é conhecido eclode um desassossego ímpar.
As possibilidades que se apresentam ao indivíduo não oferecem nenhuma garantia de sucesso, uma ilusão irá representá-las como boas notícias ou boas promessas, mas, o que é possível carrega consigo sucesso ou fracasso, vida ou morte. Cada exigência que a possibilidade faz assumir mobiliza o indivíduo de forma integral: eis a premissa do poder paralisante da existência como possível.
Passemos à explicação do conceito do desejo, evocando a atmosfera existencial dos estádios estético e ético. O indivíduo é movido pelo desejo, pelo prazer de seduzir, pela ironia de deixar suspensa a decisão sobre qual escolha fazer. No homem há uma incessante busca de satisfação dos desejos que termina por deixar a alma guiar-se conforme uma nau num oceano de turbilhão. Para esse Indivíduo a vivência está no instante, entretanto, o limite que o tempo impõe é superior ao seu desejo, então ele, que é dominado pelo afã de tudo usufruir, percebe que os prazeres repetem-se; são breves demais; a sua durabilidade é consoante o tempo que dura o alvorar, uma manhã. O homem sofre a brevidade dos dias diante da infinidade dos desejos: ei-lo precipitado na angústia que é o resumo da vida baseada no desejo.
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