Análise Sociológica do Episódio de Black Mirror
Por: denisefrancci • 25/3/2020 • Trabalho acadêmico • 1.388 Palavras (6 Páginas) • 334 Visualizações
FACULDADE PAULUS DE TECNOLOGIA E COMUNICAÇÃO
RELAÇÕES PÚBLICAS 2° SEMESTRE
SOCIOLOGIA DA COMUNICAÇÃO
“RACHEL, JACK AND ASHLEY TOO”
UMA ANÁLISE SOCIOLÓGICA DO EPISÓDIO DE BLACK MIRROR
SÃO PAULO
2019
Black Mirror é um seriado britânico de televisão lançado em 2011 com o gênero de ficção científica que retrata as possíveis consequências dos novos aparatos tecnológicos na sociedade. Os episódios possuem narrativas distintas umas das outras, com diferentes personagens e atores. Os temas são quase sempre retratados de maneira satírica e obscura. Sua primeira temporada já foi amplamente aclamada pela crítica pelas suas análises e inovação.
O episódio escolhido para uma análise sociológica foi o terceiro da quinta temporada, denominado “Rachel, Jack and Ashley Too” lançado em 5 de junho de 2019 pela plataforma de streaming Netflix.
O episódio conta a história de Rachel, uma adolescente de 15 anos introspectiva e solitária, e Ashley O, uma popstar controlada por sua tia. Rachel, muda de cidade com sua irmã mais velha Jack e seu pai, que está quase sempre ausente por conta de seu trabalho após a morte de sua mãe. Rachel, por ser tímida, tem dificuldade em se relacionar com seus novos colegas, passando o tempo todo sozinha.
Já a pop star Ashley O é amada por todos e aparenta ter uma vida perfeita, fazendo shows todas as noites, entrevistas e milhares de fãs por todo o mundo. Incluindo Rachel, que é uma de suas grandes fãs que encontra em suas músicas uma companhia, uma vez que as letras retratam temáticas como auto ajuda, superação e esperança. Porém Ashley não possui a vida retratada pela mídia e suas músicas. Apesar de toda fama, possui uma vida solitária e controlada por sua tia Catherine, que mantém uma relação abusiva e a usa como um robô de criação musical.
Naquela realidade distópica, Ashley O lança uma boneca com Inteligência Artificial, chamada de Ashley Too, baseada em sua própria personalidade. A boneca é capaz de manter conversas com seus usuários e Rachel encontra na boneca uma companhia e logo se vê obcecada por ela, considerando ela sua melhor amiga e a tratando como uma pessoa real. Isso deixa sua irmã Jack preocupada e logo ela faz uma intervenção, escondendo a boneca e dizendo a irmã que jogou ela fora.
Neste meio tempo, a popstar elabora um plano para se livrar de sua tia por meios legais, alegando que ela a droga ilicitamente, mas o plano é descoberto por Catherine que coloca todos os comprimidos que Ashley se recusou a tomar em sua comida, causando uma overdose na menina que a coloca em um coma irreversível. Devido a notícia do coma, Jack decide devolver a Ashley Too para sua irmã que acaba desistindo da boneca.
Seis meses depois, uma reportagem na TV atualiza os fãs sobre o estado de saúde da artista e diz que com ajuda da tecnologia, Catherine pôde, junto com a equipe de produção musical, extrair músicas novas do cérebro da Ashley a partir de seus pensamentos. A reportagem acaba ligando a boneca que surta ao descobrir que a artista está em coma durante todo esse tempo.
Jack e Rachel, ao tentar consertar a Inteligência Artificial, desligam o limitador cerebral da boneca e descobrem que duplicaram a personalidade da Ashley em sua boneca, conectando a boneca ao seu cérebro em coma. A boneca passa a ter “vida própria” e então explica às irmãs o que a tia dela fez durante toda sua trajetória e pede ajuda delas para desmascarar Catherine; ao saber do ocorrido, as irmãs mesmo a contragosto concordam em ajudar.
Ao chegar na casa de Ashley para elaborar o plano de ajuda, a boneca desliga os aparelhos revelando que não pretendia conseguir evidências e sim matar a menina num ato de eutanásia. Porém, o que ocorre é que, ao desligar as máquinas conectadas a garota, eles a libertam do coma e ela acorda. Então Ashley O., Rachel, Jack e Ashley Too correm para acabar com os planos de Catherine de fechar contrato por seu novo produto, a “Ashley Eternal”, que seria um holograma de sua sobrinha, capaz de realizar shows simultâneos em várias localizações ao mesmo tempo. Elas conseguem chegar ao local já com a polícia e desmascaram a Catherine em frente a todos.
Se passa um “gap” de tempo onde mostra Ashley O e Jack tocando uma versão alternativa de sua música em um bar de rock, mostrando então qual era a verdadeira vontade da popstar.
Podemos dizer que esse episódio se relaciona com a ideia de Indústria Cultural de pensadores como Adorno e Horkheimer, onde os produtos da cultura da técnica de comunicação são um dos elementos para conduzir ao processo de alienação, com a massificação e exploração de bens culturais. No episódio, vimos que até os pensamentos de Ashley O. durante o coma foram transformados em produto a fim de alimentar a indústria cultural.
A Indústria Cultural tenta cortar qualquer tipo de sinal de manifestações subversivas, exemplificado no episódio na cena em que a tia de Ashley, Catherine, tenta inibir as subversões de Ashley com remédios, controlando-a para que ela só faça músicas que poderão ser comercialmente atraentes para o lucro dela.
É função da Indústria Cultural também preencher o cotidiano vazio das pessoas na sociedade, que procuram se libertar disso com o consumo. Isso acontece com Rachel, uma garota solitária, com tempo para consumir e que não só consome as músicas da cantora Ashley O, como também compra a versão em boneca da mesma. O poder que foi exercido em Rachel para que ela comprasse a versão boneca da, foi possível porque a Indústria Cultural é um poder de controle social.
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