BARUCH DE SPINOZA: A Razão como religião
Por: clodomir araujo • 15/2/2017 • Trabalho acadêmico • 9.146 Palavras (37 Páginas) • 452 Visualizações
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ
INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS - ICSA
FACULDADE DE SERVIÇO SOCIAL
BARUCH DE SPINOZA: A Razão como religião
CLODOMIR DOS SANTOS ARAÚJO
Trabalho de Filosofia – Tema: Baruch de Spinoza
Professor Dr. OSMAR PANZERA
BELÉM - PARÁ
2016
Apresentação
A filosofia é a disciplina que ensina a reaprender a leitura do mundo, que faz os indivíduos ter uma visão panorâmica dos mais variados aspectos da vida humana que os cercam, quais vão dos movimentos da sociedade, dos acertos e erros gerados por ela, além de todas as complexidades e conflitos que a levam a colidir com princípios nem sempre racionais, mas, idealizados de acordo com convicções e interesses de grupos, quase sempre alheios a ela. Criar mentes que lutem contra essas correntezas, seja por modismos, seja por culturismo de servidão, é tarefa fundamental da filosofia. E, somente através dela, bem mais que ensinar os indivíduos a se proteger dessa escravidão ao ostracismo, ou mesmo, da exploração desenfreada dos indivíduos, mas, a coloca-los no fronteiriço das lutas contra velhos discursos de uma sociedade que consome até o sorriso do cidadão, de um mundo ‘ab eterno’ em crises, onde só quem marca constante presença no olho do furacão e da tormenta é o cidadão, o comum, aquele que tem apenas as mãos como ferramentas, manipulados na crença do impossível de ser... e da competição por um nada.
Escritas no século XVII, sendo sua maioria publicada somente décadas depois de sua morte, as obras de Baruch de Spinoza ou Bento de Spinoza, se mostram sempre atuais, fundamentais para nos ensinar a entender melhor os meandros da filosofia moderna. Obras estas contundentes na afirmação de que a evocação do pensamento e de sua racionalização é atributo característico humano, como ser que se amalgama ao longo do seu tempo e da história, e se projeta para uma melhor convivência em grupo e uma sociedade mais justa, pertencente a todos! Diferente dos demais animais que cobrem de existência a terra, que não diferem sequer a necessidade de um novo amanhã, dessa forma, essa capacidade singular de poder refletir, de questionar e de transformar a sua própria realidade e da natureza, nos faz deduzir que o mesmo seja, então, o grande e único responsável por tudo o que o cerca, pelo destino da sua humanidade, e, principalmente, da conservação e proteção da vida em uma sociedade cada vez mais globalizada, sedenta na busca da multiplicação do seu capital e, extremamente desumana.
As experiências humanas sobressaltam de um mundo qual lhe é fornecido, de forma que sua estrutura e sua fenomenalidade são o que são; desta maneira, como pensar então em uma ordem a que venha a pertencer todo o universo e que, também, o torne explicável racionalmente? O pensamento de Baruch de Spinoza surge em meio a esse pensamento, adequando-se plenamente à luz da razão de ser, no tudo em que existe e na vida espiritual, convertendo ideias construídas de beatitude para um novo homem, o homem integral, ou por outras palavras, em uma plena compreensão de alterável contentamento, tendo a consciência que seu destino está em suas próprias mãos. Quase todas as obras de Spinoza se endereçaram ao esclarecimento destas questões, a começar no seu primeiro escrito filosófico, O “Tratado Breve sobre Deus, o Homem e sua Felicidade” (Korte Verhandeling van God de Mensch en deszelfs Welstand) publicado pela primeira vez em 1862.
Baruch Spinoza (1632 - 1677)
Introdução
Baruch de Spinoza era filho de portugueses judeus, e que, apesar da longa batalha portuguesa em tentar provar o contrário e tê-lo como filho ilustre, nasceu no dia 24 de novembro de 1632, no bairro Vloedenburg, agora Waterlooplein, em Amsterdam, Holanda, onde sua família buscou refúgio após fugir das perseguições, primeiro da corte portuguesa, de onde a família de Spinoza fora expulsa e, mais tarde, quando na Espanha, que tinha política colonialista, quando este estado-nação começou a perseguir os judeus, com o objetivo de confiscar seus bens e assim manter suas guerras imperialistas no outro lado do mundo, devido a essa situação sua família retorna a Portugal. Anos depois, o rei português faz a mesma coisa ocorrida na Espanha, começa a caçar, confiscar e, dessa vez até pior: com mortes e deportações na "Santa" Inquisição portuguesa. Então seu pai Miguel de Spinoza, um pequeno comerciante, resolveu novamente migrar, passando primeiro por Lens, uma cidade francesa, acabando por fixar domicílio na cidade de Amsterdã, Holanda. Esta cidade, por razões econômicas, deu forte apoio e abertura aos judeus que estavam fugindo dessa perseguição na península ibérica.
O pai de Spinoza, homem do comércio e muito bem relacionado, é bem recebido pela comunidade hebraica local, e começa a ter bastante sucesso nesse novo domicílio. Nasce então seu filho: Baruch de Spinoza, e como de costume, começa a prepara-lo para futuramente assumir os negócios da família, Spinoza perde sua mãe e fica órfão aos seis anos de idade, seu pai casa-se novamente e, agora, é criado pela madrasta. Nesse momento, seu pai já era um comerciante bem sucedido, e vai construindo mecanismos necessários para que Baruch – Benedicto - o suceda futuramente e lhe ensina entre outas coisas, um ofício paralelo: o polimento de lentes. Esse ensinamento lhe foi muito útil, tempos à frente, após trágicos acontecimentos em sua vida. No entanto, aconteceu que Spinoza, passou a ter muito interesse pelo estudo religioso não só pelo ofício que o pai estava a lhe ensinar, mas de certa forma que, não fosse o estudo comum dado a todas às crianças daquela época, sim um estudo bem mais aprofundado, qual foi atingido através do estudo do hebraico, da Torá, do estudo da Cabala e do Talmude, de forma a se assemelhar de tudo sobre religião e se influindo muito sobre o tema.
Observando isso, seu pai começa a mudar de opinião em relação ao futuro do filho, dar-lhe-á oportunidade de continuar na religião, objetivando que Spinoza se torne um rabino, começou então a relacionar o filho com pessoas influentes e de grandes estudos, dos
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