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Diferenças entre o Filósofo e o Sofista

Por:   •  7/8/2018  •  Trabalho acadêmico  •  1.703 Palavras (7 Páginas)  •  1.696 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

  1. Sofistas X Filósofos

O que é um Sofista? Essa é uma pergunta que já foi feita inúmeras vezes, e inúmeras vezes respondida. Tentaremos com esse texto responder mais uma vez a essa intrigante questão, baseando-nos em outras interrogações como: qual o significado da palavra sofista?, qual o valor atribuído ao sofista? e o que diferencia um sofista de um filósofo?

  1. O Termo “Sofista”

Antes de começar-mos a indagar sobre a sofística, é vital esclarecermos o significado do termo “sofista” (Sophistés).

Durante muito tempo os sofistas foram depreciados e vistos como os “vilões” da história, aqueles que por meio de um raciocínio indutor e enganador convencem sobre um ou outro assunto (esse quadro só começou a mudar no século XIX, com as obras de Hegel e Grote). Aqueles que são capazes de convencer qualquer um do certo ou do errado, os que cobram pelo ensino das ciências que não possuem, os inimigos dos filósofos. Mas qual era o significado original da palavra sophistés?

O termo sophós, originalmente, significa simplesmente “sábio”, “possuidor do saber”, “especialista no saber” ou “perito em um ofício”. Sophistés deriva desse verbo e é, num primeiro momento, sinônimo de sophós. Depois as palavras se separaram, sophós passou a significar o sábio (sábio teórico) e sophistés designa o técnico, como o sofista habilidoso na arte de falar. Gradualmente o termo passou por várias interpretações e valorações que veremos agora.

  1. Qual o Valor do Sofista?

Sabemos pouco sobre os sofistas porque temos apenas fragmentos dos seus principais representantes. Existe também a doxografia sobre essas personagens, porém foram escritas por seus inimigos: Tucídides, Aristófanes, Platão e Aristóteles. Alguns historiadores, no entanto, consideram os sofistas como os primeiros pedagogos, mestres na arte da educação. Giovanni Reale escreve: “Compreende-se, portanto, que alguns intérpretes tenham exaltado os sofistas como grandes filósofos e, ao contrário, outros tenham podido acusar os sofistas de superficialidade ou tenham até mesmo negado que tenham sido filósofos. Os primeiros olharam prioritariamente para importância da nova problemática filosófica levantada pelos sofistas, os segundos, ao invés, para a falta de fundamentos reconhecível nesta problemática.”[1].

Já dissemos que o termo sophistés significa “sábio”, mas os sofistas também eram conhecidos por serem ótimos professores, foram eles os primeiros a fazer uma reforma na história da educação. Os sofistas se apresentavam como professores de retórica (arte de persuadir), ensinavam a defender e a atacar uma mesma questão com argumentos igualmente fortes. Assim seus alunos poderiam ganhar qualquer discussão ou combate verbal (erística).

A força educativa da obra dos poetas era algo de inquestionável para os gregos. Todos admiravam a sua beleza e respeitavam os seus ensinamentos. Assim, para além de reconhecerem uma elevada importância aos poetas, os sofistas tinham consciência de que, tomando-os como referência, seriam bem aceitos, ouvidos e respeitados. O recurso aos antigos era, de fato, muito utilizado. No diálogo "Protágoras" podemos observar que, a dado momento, Protágoras se dirige para Sócrates dizendo:

"Creio eu, Sócrates, que para um homem a parte mais importante da educação consiste em ser perito em matéria de poesia, e essa perícia significa poder entender e saber distinguir, na obra dos poetas, o que está feito de modo correto e o que não está e justificar-se perante qualquer dúvida. Pois a minha pergunta de agora é precisamente sobre esse assunto acerca do qual tu e eu temos estado a discutir, acerca da virtude, só que transferido para a poesia." Protágoras (338e-339)

Porém os sofistas, diferentes dos filósofos, cobravam por seus ensinamentos e, por isso, sofreram duras críticas por parte deles. Xenofonte chegou a chamá-los de prostitutos: “E, do mesmo modo, os que vendem a sabedoria por dinheiro aos que o desejam são denominados ‘sofistas’, que é o mesmo que dizer indivíduos que se prostituem.” Memoráveis 6,13.

Sobre esse ponto temos também a definição dada por Platão em seu diálogo “Sofista”: “Em primeiro lugar, verifica-se que [o sofista] é um caçador remunerado de jovens ricos [...]; em segundo lugar, um comerciante por atacado dos saberes relativos à alma [...]; em terceiro lugar, não se mostra também como um comerciante a varejo dos mesmos saberes? [...] Em quarto lugar, parece-nos como um vendedor dos saberes por ele próprio produzidos [...]; em quinto lugar, [...] é um atleta na arte agonística relativa aos discursos, apropriando-se da arte erística.” (231d).

Outra crítica dos filósofos era em relação ao conteúdo do que era ensinado pelos sofistas. Diziam que eles não tinham conhecimento sobre as artes que ensinavam. Os sofistas, por sua vez, se diziam capazes de ensinar qualquer coisa. O conteúdo desse ensino abraçava todo o saber, a cultura,  não para si mesma, mas como meio para fins práticos e políticos e, portanto, superficial. Na “República” Platão diz ser impossível um homem praticar bem duas artes distintas, por isso o sapateiro vai ser somente sapateiro, o escultor somente escultor, e assim com todas as coisas. Portanto, seria impossível para o sofista saber todas as coisas e poder falar bem sobre todas elas.

Xenofonte critica o conteúdo dos ensinamentos dos sofistas, e ainda o estatuto de sábio adquirido por eles: “Os sofistas falam para enganar e escrevem para o seu próprio benefício e não são úteis de forma nenhuma a ninguém. Não existe nenhum deles que se tenha tornado sábio, nem que seja sábio, mas basta a cada um ser chamado sofista, o que junto dos que pensam bem é como uma injúria.”Cinegético(13,8)

Também vemos essa crítica em Aristóteles: “A sofística é uma sabedoria aparente, mas não real; e o sofista é um negociante de sabedoria aparente, mas não real”. Refutações Sofísticas (1 165 a 21).

Os principais pontos de acusação dos filósofos aos sofistas são dois: (i)a sofística é um saber aparente e não real e, além disso, ela (ii) é professada com fins lucrativos e de modo algum por desinteressado amor à verdade.

Reale escreve que “a responsabilidade máxima em desacreditar os sofistas foi de Platão, e o foi, mais do que pelo que disse, pelo modo particularmente eficaz como o disse, com o instrumento da sua arte: e dado que Platão é a fonte mais importante para a reconstrução do pensamento sofístico, é claro que, fatalmente, por muito tempo os historiadores tomaram por boas não só as informações que ele nos fornece sobre os sofistas, mas também os juízos que dá sobre eles”. Foi em Atenas onde os sofistas viram a conquistar mais fama e prestígio, mas foi em Atenas também que encontraram seus grandes rivais, os filósofos.

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