Gladiador Epicurista
Ensaios: Gladiador Epicurista. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: • 1/7/2013 • 659 Palavras (3 Páginas) • 416 Visualizações
O Gladiador Epicurista
“As águias voam tão alto que, de onde estão, não se incomodam em repreender os porcos pelo seu mau gosto” (Dito Popular)
A indústria cinematográfica norte-americana traz ao público, na maior parte das vezes, uma violentíssima quantidade de lixo cultural. Por vezes, contudo, acertam tanto a mão que ficamos estarrecidos. É o caso do filme “Gladiator”, obra absolutamente irrepreensível de Ridley Scott.
A história tem tantos pontos de verossimilhança que empolga mesmo e foi merecido o prêmio de “Melhor Filme” no Oscar passado. A Academia de Hollywood por vezes acerta... Marco Aurélio entrou para a história como “O Imperador Filósofo”. Foi general, em seu tempo (segunda metade do segundo século de nossa era) o Império Romano atingiu a maior expansão conhecida e, na velhice, escreveu uma obra em idioma grego, mais para sua orientação pessoal, intitulada “A Mim Mesmo”, que já se tornou um clássico da literatura universal e recebe em português o título de “Meditações”.
Consta haver repreendido severamente o seu filho pela sua imoralidade e estar cogitando em outra pessoa para a sua sucessão (cabia ao imperador indicar o sucessor, não necessariamente de sua família, naquele período) quando teria sido assassinado por invejoso e ambicioso Cômodo. Este, filho e sucessor de Marco Aurélio, restabeleceu os “jogos” sangrentos no Coliseu Romano (abolidos pelo sapiente Marco Aurélio) e buscava formas de governar “com o povo”, suprimindo o senado. Tinha o hábito de dopar gladiadores que pessoalmente matava na arena sob o aplauso da plebe. Foi o único imperador romano morto por um gladiador no Coliseu...
Russell Crowe incorpora a plenitude do estóico, do epicurista clássico. Excepcionalmente treinado fisicamente, só fala se não puder manter o silêncio, lacônico mesmo, dotado de humanismo e princípios éticos inamovíveis... Não encontrei a referência histórica à existência do general Maximus, mas não era raro um general cair em desgraça com a troca de um imperador romano e não chega a ser inverossímil que um deles tenha-se tornado escravo e, a seguir, gladiador.
Impressiona a veridicidade dada ao personagem do general, que entra em combate junto com a sua tropa. Raros paralelos com a história contemporânea. O mais notório de todos Patton, que se considerava reencarnação de Hannibal, o general cartaginês. Hoje em dia os generais de todo o mundo comandam suas tropas de longe, sempre seguros em suas trincheiras tremendamente distantes dos palcos de combate.
Ressalta-se ainda a perfeição com que se retratam os costumes romanos. O culto aos antepassados em altares nos Lares, o vôo dos pássaros como presságios, referências a sacrifícios de animais em honra aos deuses, etc. A trilha sonora também é um verdadeiro achado!
O epicurismo nasceu, como as outras filosofias ditas “do absurdo”, em uma época de grave crise, numa Grécia dominada pelos Macedônios mas fez escola. Em Roma, os principais expoentes desta corrente filosófica são ainda Marco Aurélio (o imperador), Sêneca (que foi preceptor de Nero) e Epiteto. Em síntese prega a aceitação das inevitabilidades da vida, o reconhecimento de que, num mundo onde a corrupção é mais regra do que exceção, deve-se buscar a Serenidade da Alma, a Imperturbabilidade no Espaço Interior, ser sempre coerente consigo mesmo e seus princípios éticos... As mais recentes “Filosofia do Absurdo”, tendo embora algum valor histórico e mesmo humanista, são o Existencialismo e o Estruturalismo francês. O existencialismo traz sérios pontos de contato com o estoicismo, o epicurismo. O estruturalismo é conhecido pelos marxistas como “A Miséria da Razão”, uma tentativa ilógica de reduzir o fenômeno humano a cálculos matemáticos, algo bem ao gosto dos positivistas lógicos, hoje em extinção...
A excelente página "Falha Nossa" aponta 117 erros técnicos e mesmo imprecisões históricas no filme. Confesso que não assisti procurando erros e gostei muito, principalmente porque o livro "Meditações" de Marco Aurélio, foi o primeiro que li na vida, aos 11 anos de idade. Minha aproximação ao filme se deu mais por nostalgia e percepção da verossimilhança de um comportamento epicurista do que por qualquer veleidade técnica que o filme possa apresentar...
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