Irmão urso de um ponto de vista do existencialismo sartriano
Por: Daniel Violante • 2/4/2019 • Artigo • 1.298 Palavras (6 Páginas) • 361 Visualizações
Libertarismo sartreano: uma abordagem filosófica do filme Irmão Urso
Daniel Augusto Violante Daldegan de Paula1
Este ensaio tem como objetivo apresentar aspectos filosóficos do filme Irmão Urso. Nele irei
mostrar a vertente filosófica libertarista, do ponto de vista do existencialismo sartreano sem,
contudo, a pretensão de aprofunda-la. Essa vertente seria a do Libertarismo, que veremos por
um ponto de vista do existencialismo sartriano. O conceito que eu usarei para estudar esse tema
é o de totem, um colar com a figura de um animal e que ganha uma característica selecionada
pelos espíritos, espécies de divindades que habitam nas luzes que tocam o chão (uma aurora
boreal, que remete um plano astral, um pós vida) que o guiara por sua vida adulta. No filme,
Kenai (o protagonista) recebe o seu totem (o urso do amor) mas não o aceita, por achar que o
urso não aparenta ser um animal destemido ou competente e o amor uma característica que não
gera honra. Com isso, ele joga o seu totem fora e tenta viver sem algo determinando a sua vida.
No libertarismo, pode-se dizer que o homem tem total controle das suas escolhas e nada está
completamente definido. Sartre (1997) diz que cabe somente ao homem estabelecer, através de
suas ações, os critérios para tomar as suas decisões:
O que se poderia chamar de moralidade cotidiana exclui a angústia ética. Há
angústia ética quando me considero em minha relação original com os valores.
Estes, com efeito, são exigências que reclamam um fundamento. Mas
fundamento que não poderia ser de modo algum o ser, pois todo valor que
fundamentasse a sua natureza ideal sobre seu próprio ser deixaria por isso de
ser valor e realizaria a heteronomia de minha vontade. […] Daí que minha
liberdade é o único fundamento dos valores e nada, absolutamente nada,
justifica minha adoção dessa ou daquela escala de valores. P.82
De acordo com Sartre (1997), o homem, ao se deparar com o poder de escolha, experimenta
uma grande angustia, já que se vê diante da necessidade de assumir sua responsabilidade, e, ao
mesmo tempo, encara a afirmação do valor de sua escolha. O sentimento de angústia retrata a
realidade de um ser inacabado, autor de sua própria vida, e, portanto, incapaz de construí-la
com perfeição. O nada, nesse sentido, é o oposto da totalidade do ser e, dessa forma, a
consciência aponta e define o homem como nada em relação aos seus planos e seu futuro. O
ser, nessa medida, reclama decepção com o presente que vive e sonha o futuro que não tem.
1 Graduando em filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais
Isso significa que o indivíduo é o único responsável por decidir sua vida e organizar seu entorno
por meio de escolhas métodos próprios para alcançar seus objetivos. Sartre (1943) conceitua a
liberdade como uma condição intransponível do homem, da qual ele não pode, definitivamente,
esquivar-se, isto é, “o ser humano está condenado a ser livre” P.182, e, consoante o mesmo
autor, é a partir desta condenação à liberdade que o homem se forma. Logo, não existe nada
que obrigue o ser humano a agir desse ou daquele modo.
Para Sartre (2012), somos totalmente responsáveis por nós e também por toda a humanidade:
“Escolher ser isto ou aquilo é afirmar ao mesmo tempo o valor do que escolhemos, porque
nunca podemos escolher o mal, o que escolhemos é sempre o bem, e nada pode ser bom para
nós sem que o seja para todos” P.12
Numa analogia com o pensamento de Sartre (2012), pode se dizer que Kenai sofre uma angustia
ao desistir de seu totem, uma vez que, tomar suas próprias decisões causa-lhe uma grande dor.
Outro exemplo da vivencia dessa angustia se dá quando Kenai decide matar o urso que, para
ele, teria matado o seu irmão. O ápice de seu drama existencial se dá quando ele se transforma
em urso, pois Kenai não consegue entender o por quê seu irmão o transformou em urso.
Diante do exposto entendemos, que não há nada que possa isentar o homem da sua condição de
ser livre e, portanto, de seu comprometimento de seus atos. Nesse sentido, barreiras históricas,
psicológicas ou socioeconômicas não são capazes de eximir o sujeito do exercício de sua
liberdade. Sem tais condições, de acordo com Sartre (2019), a escolha seria impossível; mais
do que isso: toda a existência seria impossível. Lembrando que essa "condição de ser livre" não
é querer dizer que se está controlando totalmente a vida, pois, mesmo em situações como a de
escravidão ou aprisionamento sempre se tem uma escolha. Tanto que Sartre diz que:
Nunca fomos tão livres, quanto durante a ocupação alemã. Perdemos todos os
direitos. Primeiramente, o de livre expressão. Éramos insultados todos os dias,
e tínhamos de ficar calados. Mas, é precisamente por isso que éramos livres.
Enquanto o veneno alemão adoecia nossas mentes, éramos constantemente
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