O Fichamento Flâneur
Por: almerito1980 • 14/6/2023 • Resenha • 1.432 Palavras (6 Páginas) • 75 Visualizações
CHARLES BAUDELAIRE UM LÍRICO NO AUGE DO CAPITALISMO |
FICHAMENTO |
BENJAMIN, Walter. Charles Baudelaire um lírico no auge do capitalismo. Obras escolhidas, v.III. São Paulo: Brasiliense, 1995. |
Capítulo O flâneur |
Benjamin inicia o capítulo descrevendo a literatura da época, uma literatura panorâmica que de certo modo representava a cidade de Paris, seus hábitos, sua arquitetura e seus habitantes sempre em movimento. |
“Mas as grandes reminiscências, o frêmito histórico são urna esmola que ele (o flâneur) deixa Lara o viajante, que então crê poder acercar-se, com uma senha militar, do genius loci. Nosso amigo pode calar-se. (...) Com a proximidade de seus passos, o local já se anima; sem fala e sem espírito, sua simples e íntima aproximação já sugere e indica. Ele está parado diante da Notre Dame de Lorette, e suas solas recordam: eis o local onde, outrora, o cavalo suplementar o cheval renfort o cheval de renfort era atrelado ao ônibus que subia a rue des Martyrs em direção de Montmartre.” P. 185 |
“Deve-se tentar compreender a constituição moral absolutamente fascinante do flâneur apaixonado. A polícia, que aquí, como em tantos outros objetos de que tratamos, aparece como verdadeira perita fornece, no relatório de um agente secreto parisiense de outubro de 1798 (?), a seguinte indicação: "É quase impossível recordar e manter os bons costumes numa população amontoada, onde cada um é, por assim dizer, desconhecido de todos os demais, e não precisa enrubescer diante dos olhos de ninguém". Citado em Adolf Schmidt, Pariser Zustände während der Revolution (Condições Parisienses Durante a Revolução), III, Iena, 1876.” P. 187 |
“A rua conduz o flanador a um tempo desaparecido. Para ele, todas são ingremes. Conduzem para baixo, se não para as mães,¹ para um passado que pode ser tanto mais enfeitiçante na medida em que não é o seu próprio, o particular.” P. 186 |
O laissez-faire do flâneur tem sua contrapartida até nos filosofemas revolucionários da época. "Sorrimos da pretensão quimérica (por exemplo, em Saint-Simon) de reconduzir todos os fenômenos físicos e morais à lei da atração universal. Contudo, esquecemos muito fácil que tal pretensão não estava isolada e que. antes, sob o influxo das revolucionárias leis naturais da fisica mecânica, podia surgir uma corrente de filosofia natural que visse no mecanismo da natureza a demonstração de um mecanismo idêntico na vida social e, até mesmo, em todos eventos". P. 190 |
“O "fenômeno da banalização do espaço" é a experiència fundamental do flâneur. Como ele também se mostra, sob outra perspectiva, nos interiores da metade do século, não se deve rejeitar a hipótese de que o flores cimento da flânerie ocorra na mesma época. Por força desse fenômeno, tudo o que acontece potencialmente nesse espaço é percebido simultaneamente. O paço pisca ao flâneur: o que terá acontecido em mim? Fica nada por esclarecer. De certo, como esse fenômeno se relaciona com a banalização.” P. 189 |
“As ruas são a morada do coletivo. O coletivo é um ser eternamente inquieto, eternamente agitado, que, entre os muros dos prédios, vive, experimenta, reconhece e inventa tanto quanto os individuos ao abrigo de suas quatro paredes. |
Para esse ser coletivo, as tabuletas das firmas, brilhantes e esmaltadas, constituem decoração mural tão boa ou melhor que o quadro a óleo no salão do burguês; os muros com "défense d'afficher" (proibido colocar cartazes) são sua escrivaninha, as bancas de jornal, suas bibliotecas, as caixas de correspondência, seus bronzes, os bancos, seus móveis do quarto de dormir, e o terraço do café, a sacada de onde observa o ambiente.” P. 194 |
A inebriante interpenetração da rua e da moradia que se consuma na Paris do século XIX e sobretudo na experiência do flàneur tem valor profético. Pois essa interpenetração permite à nova arquitetura tornar-se uma sóbria realidade. Assim, Giedion observa oportunamente: "Um detalhe de uma criação anônima de engenharia uma passagem de nivel se torna, numa villa, elemento arquitetônico". P. 194 APUD BERLIM, 1928. |
E. T. A. Hoffmann como arquétipo do flâneur; seu testamento é o conto A Janela de Esquina do Primo. Daí o grande sucesso de Hoffmann na França, onde se tinha uma compreensão particular para com esse tipo. Nas notas biográficas que acompanham a edição em cinco volumes de seus últimos escritos (Brodhag?) se lé: "Hoffmann nunca foi amigo especial da natureza. O ser humano comunicar-se com ele, observá-lo, apenas ver o homem para ele valia mais que tudo. Se fosse passear no verão, o que, com bom tempo, acontecia diariamente ao entardecer... então não era fácil encontrar uma taverna, uma confeitaria, onde não tivesse aparecido para ver se lá havia gente, e de que espécie". P. 197 |
Uma vez Musset chamou a parte dos bulevares que fica atrás do théâtre des Variétés, não frequentada pelos flâneurs, de les grandes Indes. (...) O flâneur é um observador do mercado. O seu saber é vizinho à ciência oculta da conjuntura. Ele é, no reino dos consumidores, o emissário do capitalista. (...) O flâneur e a massa: aqui o rêve parisien (sonho parisiense) de Baudelaire poderia ser muito instrutivo. (...) A ociosidade do flâneur é uma demonstração contra a divisão do trabalho. P. 199 |
A cidade é a realização do antigo sonho humano do labirinto. O flâneur, sem o saber, persegue essa realidade. Sem o saberpor outro lado, nada é mais insensato que a tese convencional que racionaliza sua conduta e é a base inconteste da literatura ilimitada que persegue o comportamento ou a figura do flâneur; a tese de que ele estude a aparência fisionômica das pessoas para ler-lhes a nacionalidade e a posição, o caráter e o destino, pelo seu modo de andar, pela sua constituição corporal, pela sua mimica facial. Como devia ser urgente o interesse em dissimular seus motivos, para dar curso a teses tão desgastadas. P. 202 |
Sobre a psicologia do flâneur. "As cenas inapagáveis que todos nós podemos rever fechando os olhos não são aquelas que contemplamos com um guia nas mãos, mas sim aquelas a que não prestamos atenção, que atravessamos pensando noutra coisa, num pecado, num namorico ou num dissabor pueril. Se vemos agora o pano de fundo é porque não o viamos então. Do mesmo modo. Dickens não recolhia em seu espírito a impressão das coisas: era ele quem imprimia o seu espírito nas coisas". G. K. Chesterton. Dickens (Vidas de Homens Ilustres). P. 212 |
Sobre O Homem da Multidão: Bulwer instrumenta sua descrição da multidão das cidades grandes em Eugen Aram, IV, 5, referindo-se a uma observação goetheana de que todo ser humano, o melhor e o mais miserável, leva consigo um segredo que, se conhecido, o tornaria odioso a todos os outros. Mai:; além, eencontra-se já em Bulwer o confronto entre cidade e campo, com vantagem para a cidade. P. 215 |
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