O Problema da Imagem Para os Modernos
Por: Jordy Dantas • 24/8/2019 • Artigo • 2.887 Palavras (12 Páginas) • 194 Visualizações
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Universidade de Brasília
Instituto de Ciências Humanas
Departamento de Filosofia
Epistemologia
JORDY DANTAS DA SILVA
O problema da imagem (imaginação) para os modernos
Brasília
2019
JORDY DANTAS DA SILVA
O problema da imagem (imaginação) para os modernos
Trabalho final tendo como base a obra A Imaginação de Sartre, para a obtenção da nota final da matéria de Epistemologia referente ao 1º semestre de 2019.
Orientador: Prof. Fábio Mascarenhas
Brasília
2019
O filósofo francês René Descartes, rompendo com a tradição cristã escolástica de conceber as espécies como entidades semi-materiais e semi-espirituais, escreve em suas Meditações uma nova interpretação acerca do conhecimento humano, onde corpo mecânico passa a ser separado do pensamento, com o intuito de retirar a autonomia de produção de conhecimento que outrora era restrito à igreja, que controlava os meios de conhecimento na época que mais tarde foi chamada de Idade Média, ou Idade das trevas, por uma parte mais crítica de historiadores; passando então a colocar no Homem, de maneira bem inicial, esse motor de pensamento, visto que como disse o próprio filósofo “sou, portanto, precisamente, só coisa pensante” (Meditações, p. 27), ou seja, Descartes inicia uma tradição epistemológica que buscará, a explicação das coisas, a partir do conhecimento humano do ‘eu’, e não mais resumindo a uma figura metafísica como no período medieval.
Para o filósofo moderno, imagem seria um produto da ação de corpos exteriores sobre nosso corpo por meio dos sentidos e dos nervos, como ele irá explicar de maneira sistemática e com um caráter mais biológico em seu livro As paixões da alma, ao ponto que a Imagem então é algo desenhado em nosso cérebro, mas não ao ponto dela se tornar algo consciente. Logo “ela é um objeto, tanto quanto o são os objetos exteriores. É, exatamente, o limite da exterioridade.” (A Imaginação, p.11 §1)
Para Descartes “a imaginação ou conhecimento da imagem vem do entendimento; é o entendimento, aplicado à impressão material produzida no cérebro, que nos dá uma consciência da imagem” (A Imaginação, p.11 §2). A imaginação “possui a propriedade estranha de poder motivar as ações da alma; os movimentos do cérebro, causados pelos objetos exteriores [...] despertam idéias na alma” (A Imaginação, p.11 § 2) e para ele as idéias são inatas ao Homem, pois só aparecem na consciência pelos movimentos, considerando movimento aqui, como signos que provocam na alma certos sentimentos, contudo ele não avança em explicar o que seja esse signo nem como se tem a consciência dele, entretanto supõe que a alma tenha certa materialidade e caráter de espírito na imagem material, ficando então a pergunta de que, como o entendimento é aplicado à realidade corporal, que é a imagem, se os corpos só são apreendidos pelo puro entendimento?
Aqui o pensamento cartesiano encontra um limite, por não conseguir distinguir as sensações das ficções, pois nos dois casos são movimentos cerebrais, onde os espíritos animais são excitados pela alma para que tenha o entendimento sobre algo. Logo
“somente o juízo e o entendimento”, como escreverá Sartre, “possa decidir quais delas”
(imagens) “correspondem a objetos existentes.” (A Imaginação, p. 12 §3)
Descartes partirá então, para fazer descrições de como o corpo se comporta, à medida que a alma pensa, explicar como são essas realidades corporais(imagem) e como elas são produzidas, não tratando de diferenciar os pensamentos, seguindo esses mecanismos assim como de outros corpos. Essas descrições são feitas por Descartes no livro As Paixões da alma.
Com uma explicação melhor do que a de Descartes, o também filósofo moderno Baruch Espinosa, dirá que só com o entendimento que o problema da imagem se resolverá, teoria da imagem então é separada da teoria do conhecimento, se prendendo a descrever o corpo, “a imagem é uma afecção do corpo humano; o acaso, a contiguidade, o hábito são as fontes de ligação das imagens e a lembrança, a ressurreição material de uma afecção do corpo, provocada por causas mecânicas” (A Imaginação, p.12 §5) a imaginação e entendimento não são totalmente diferentes sendo possível a passagem de uma para outra a depender do desenvolvimento de suas essências.
Para Espinosa a imagem tem um duplo aspecto “é o pensamento do homem enquanto modo finito, e, no entanto, é idéia e fragmento do homem infinito, que é o conjunto das idéias” (A Imaginação, p.13 §7). Em Descartes a imagem é separada do pensamento, como em Espinosa, só que de maneira mais radical.
Em Leibniz, ela não é um processo mecânico, já que o mundo da imaginação está atrelado ao mundo inteligível; Leibniz busca estabelecer uma continuidade entre imagem e pensamento, sendo que para ele a imagem está inserida dentro da intelectualidade. Ele explica como se dá o funcionamento do mecanismo que nos permite distinguir imagens das sensações, o associacionismo Leibniziano não é ligado ao fisiológico do homem, mas sim à alma, ou como ele vai definir mônada, é dentro dela que as imagens são produzidas e mantidas até serem compreendidas pelo fisiológico.
A relação imagem-entendimento é explicada pelos seguintes fatores, primeiramente “o entendimento nunca é puro, pois o corpo se acha sempre presente à alma” sob outra perspectiva “a imagem não tem mais do que um papel acidental e subordinado, o papel de um simples auxiliar do pensamento, de um signo” (A Imaginação, p. 13 §10) e por isso ele aprofundará a noção de signo para explicar com essa imagem é expressa para a totalidade e para cada parte.
Imagem é um objeto claro, enquanto idéia é objeto confuso, essa confusão se dá pelo cérebro perceber a infinidade quando comparada ao universo, infinidade das idéias claras; a claridade das idéias se dá pelo fato de estarem nas idéias confusas, que são inconscientes e só são percebidas quando advertidas, pela soma total que nos parece simples quando comparados à nossa ignorância que achamos a respeito de seus componentes. Sendo por fim a diferença de idéia e imagem resumida “uma pura diferença matemática: a imagem tem a opacidade do infinito; a idéia, a clareza de quantidade finita e analisável” (A Imaginação, p.14 §12). Contudo se a imagem se reduz a elementos inconscientes em si mesmo sendo racional seu aspecto subjetivo não se explica como a percepção do amarelo somada a percepção do azul implicará na apercepção do verde? Leibniz buscará explicar isso de maneira fazendo analogia à matemática, dizendo que confusão é aquilo que é infinito, que é irracional, como o irracional do matemático que é algo racional ainda não compreendido, mas que ainda pode ser compreendido como tal. Qualidade não é quantidade, mesmo sendo infinita; e Leibniz não consegue instituir a ação do caráter de sentir.
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