O Universo das artes
Por: dsoliva • 8/7/2018 • Resenha • 950 Palavras (4 Páginas) • 1.255 Visualizações
Diogo Sarcinelli de Oliva Mena
RESENHA CRÍTICA
Marilena Chauí - Convite à Filosofia, unidade 8, capítulo 3 [38]
“O universo das artes”
Conservatório Brasileiro de Música
2017
- convite à filosofia
O livro de Marilena Chauí se concentra na análise de diversos aspectos da arte: deste a forma como é concebida até a forma como é entendida. Na unidade 8, O mundo da prática, que contém o capítulo aqui analisado, Chauí se dedica a explorar os aspectos ordinários da arte, independente do estágio em que a mesma se encontra de conclusão.
- REsenha
O capítulo começa explorando um trecho de um poema de Fernando Pessoa, publicado através de seu heterônimo Alberto Caeiro, que, segundo Chauí, leva o leitor ao âmago do que se entende, ou se percebe, por arte. Explorando trechos de ensaios de Merleau-Ponty e Gaston Bachelard na tentativa de explicar de forma concreta o que é a arte e como podemos descreve-la ou representa-la formalmente ela desafia o senso comum perguntando o significado de ações corriqueiras que entendemos como indisputáveis, oferecendo respostas, mesmo que inconclusivas, que catalisam a reflexão mais profunda. Em uma análise histórica e social Marilena propõe que a desvalorização do trabalho manual como forma de arte se explica através de sua fundação no trabalho escravo e que este, o trabalho manual, foi valorizado gradualmente até entendermos a arte como a entendemos até hoje: as belas-artes, que buscam o belo, e a artes mecânicas, que buscam o que é útil ao homem. Indo além, a autora incita mais o pensamento ao inserir a perspectiva do juízo de gosto, exercido pelo público sobre a obra, concluindo então a apresentação dos três fundamentos da Estética como perspectivas unidimensionais sobre o universo que cerca o exercício criativo da concepção artística. Até este ponto, contudo, uma desconfiança pode vir a espreita, mas Chauí, possivelmente ciente desta possibilidade, guia rapidamente o texto para uma resposta: desde o começo do período moderno a relação entre a arte e a técnica se mostrou cada vez mais próxima, ao ponto de reconsiderar, inclusive em caráter retroativo, o entendimento de arte. O texto mantém o ritmo apresentando análises das relações que a Arte teve com o tempo e como estas relações moldaram a forma como não só a arte é atualmente, mas também porque ele é entendida e digerida da forma que é atualmente. Chauí faz de forma sucinta e fluída esses breves estudos, entretanto certa conflituosidade parece emergir, como por exemplo no trecho:
“O artista era mago – como o médico e o astrólogo -, artesão – como o arquiteto, o pintor e o escultor -, iniciado num ofício sagrado – como o músico e o dançarino. É na qualidade de mago, artífice e detentor de um ofício que realizava sua arte. Esta, por ser parte inseparável do culto e do ritual, não se efetuava segundo a liberdade criadora do técnico-artesão, mas exigia a repetição das mesmas regras e normas para a fabricação dos objetos e a realização dos gestos.”
Anteriormente no texto ela discorre sobre como a sociedade, desprezando o trabalho manual, seguia um padrão de valorização de artes liberais frente as mecânicas, sendo a medicina uma destas atividades mecânicas, no entanto no trecho acima o médico é retratado em paridade. É de se notar, contudo, que a contextualização histórica não é muito trabalhada no texto e talvez por uma disparidade temporal este pequeno equívoco tenha ocorrido. Mas convém refletir de outra forma, que não induza à conclusão de equívoco, pelo menos não em primeira análise: Marilena introduz a disparidade entre os dois tipos de arte sem contextualização temporal específica, mas também demonstra que a arte, hoje, já é analisada de outra forma. Este trecho levanta um questionamento importante acerca dele próprio: o trecho já está escrito conforme entendemos a arte hoje em dia e, não importando a forma como ela era entendida na época, atualmente sabemos que o médico e o astrólogo eram magos como o artista? Esse pequeno trecho e essa pequena reflexão demonstram, talvez de forma causal, o que Marilena Chauí queria e aparentemente conseguiu alcançar com este livro, o convite ao pensamento filosófico. Adentrando ainda mais o capítulo a autora expande o conceito do que é a Estética, da evolução da forma como a filosofia aristotélica entendia a arte como poética até como a analise filosófica evoluiu ao ponto de substituir completamente esta visão antiquada pela visão investigativa da Estética quando o objeto de análise filosófica é a arte.
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