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O papel do Senso o ser no pensamento humano e as conseqüências que encerra a perda do senso do Ser, do Lumen Rationis e da perda do conceito de pessoa

Por:   •  30/4/2019  •  Trabalho acadêmico  •  3.778 Palavras (16 Páginas)  •  244 Visualizações

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1. O Esplendor da boa consciência

        “Fiz calar e sossegar a minha alma; ela esta em grande paz dentro de mim, como criança bem tranquila e amamentada no regaço acolhedor de sua mãe”.[1] Uma criança que dorme no colo de sua mãe, não teme nada, mas está segura de que sua mãe irá protegê-la de toda e qualquer coisa que queira lhe fazer algum mal. Esta paz de alma que o salmista compara com a tranquilidade de uma criança, bem poderia ser comparada com a serenidade que uma reta consciência produz em todo aquele que a mantém.

1.1 O Senso do Ser

        Todos os homens, desde a mais tenra infância, tendem a se relacionar com o mundo externo, utilizando de seus sentidos- visão, audição, olfato, paladar e tato- para tomar contato com as coisas que os rodeiam e, assim, mesmo sem o completo uso da razão, vão organizando hierarquicamente todos estes dados que os sentidos lhe fornecem.  

        Basta tomar contato com qualquer criança para constatar que existe esta hierarquia no escolher: cada uma tem um movimento de agrado em relação a certos objetos e um movimento de repulsa a outros.  

        Ora, esta concatenação das coisas exteriores na mente de toda criança, só pode ser feita através de padrões universais que são iguais em todos e, prescindindo destes, não é possível chegar a nenhuma verdade.

        Os primeiros princípios são, pois, estes padrões que todos têm para chegar a qualquer verdade. Propriamente, um princípio é algo primário que ajuda a explicar o que é percebido pela inteligência.

        Comumente, os primeiros princípios são reduzidos a quatro: o de contradição (ou não contradição), identidade, terceiro excluído e razão suficiente, mas há um que é primordial. A este respeito, de maneira magistral o Rev. Mons. João Scognamiglio Clá Dias afirma:

De todos esses princípios, numerosos tomistas consideram o de contradição como o primeiro e mais        importante, dele dependendo todos os outros. Com efeito, a negação desse princípio leva a dificuldades insolúveis, tornando absurdos todos os elementos essenciais do conhecimento intelectual.[2]

        Deus, em sua infinita providência, quis que todos os homens tivessem este principio de não contradição para com ele poder solidificar a formação de ideias. Difícil seria para alguém classificar algo como belo ou como feio, se não tivesse algo que servisse de modelo, um padrão pelo qual soubesse distinguir quando uma coisa é mais ou menos boa ou mais ou menos má.

        Os primeiros princípios, alicerces de nosso pensamento e de nossas certezas, são os primeiros dados que recebe a nossa inteligência. Eles não são inatos, mas são de imediata apreensão e são obtidos através da realidade captada pelos cinco sentidos externos.  A propósito deste essencial princípio, neo-tomista francês, Réginald Garrigou-Lagrange OP, comenta:

Sobre o primeiro dado da inteligência se apóiam as certezas primordiais e indestrutíveis que resistem a toda crítica, como o ouro a todos os ácidos. [...] Daí o espírito é levado também a afirmar com certeza absoluta que não pode haver experiência propriamente dita sem uma realidade existente experimentada.[3]

1.2 Synderesis

        Como vimos, os primeiros princípios são estes suportes que a inteligência se apóia para formar as certezas. Ora, por que estes padrões são sempre certos? Como uma criança sem saber ainda pronunciar uma palavra, já sabe distinguir algo como sendo verdadeiro ou errado, bom ou mau?

        A este propósito, o Doutor Angélico afirma:

Com efeito, nada estável, nada certo haveria no que procede dos princípios se eles próprios não pudessem ser firmemente estabelecidos. Daí todas as coisas mutáveis reduzirem-se a algum primeiro imutável. [...] Portanto, se queremos que haja alguma retidão no domínio do agir humano, deve haver necessariamente algum princípio permanente que seja de uma retidão inabalável, em relação ao qual todas as ações humanas possam ser examinadas de tal modo que este princípio permanente resista a todo mal e afirme todo bem.[4]

        Assim sendo, este “principio permanente” ou “Sinderisis” é quem dá o parâmetro onde se baseiam toda a inerrância de nossas especulações.

         O termo “Sinderisis” foi usado, com este sentido, pela primeira vez por São Jerônimo em seu “Commentarium in Ezechielem” quer dizer “centelha de consciência” que tem como missão corrigir os erros da razão e dominar os apetites sensitivos.[5] 

        Em suma, a “Sinderisis” é a conservação na consciência de um conhecimento da lei moral, como conservação no fundo de si mesmo desta lei à maneira de uma centelha ou fagulha que indica ou sussurra a cada um os desvios em que possa incorrer acerca do cumprimento das leis morais.[6]

2. O apagamento do “Lumen Rationis”

“Dessas camadas profundas, a crise passa para o terreno ideológico. Com efeito - como Paul Bourget pôs em evidência em sua célebre obra Le Démon du Midi - “cumpre viver como se pensa, sob pena de, mais cedo ou mais tarde, acabar por pensar como se viveu”. Assim, inspiradas pelo desregramento das tendências profundas, doutrinas novas eclodem. Elas procuram por vezes, de início, um modus vivendi com as antigas, e se exprimem de maneira a manter com estas um simulacro de harmonia que habitualmente não tarda em se romper em luta declarada”.[7]

2.1 Um Processo Remoto

        Esta ordem posta por Deus no intelecto humano, para que O conhecêssemos e louvássemos, foi aos poucos definhando com o decorrer do “processo revolucionário”[8], tendo como consequência que, em muitas pessoas, já não primam pela boa ordenação do intelecto , deixando-se influenciar por doutrina, que por vezes, são inteiramente opostas aos princípios mais elementares.        

        Depois da decadência da Idade Media penetrou em todo o mundo uma onda de libertinagem extrema. O esmorecimento religioso e a decadência dos costumes característicos daquele século difundiram na Europa uma sede imoderada dos prazeres da vida, incentivados pelo Humanismo e pela Renascença, tocando muito mais o homem nas suas tendências que nas suas convicções doutrinárias. Porém não tardaria em passar do âmbito das tendências para o campo intelectual e doutrinário.        Contudo, essa perda da noção do certo e do errado, do bem e do mal, não no grande alcance que temos hoje em dia, já vinha sendo percebida desde os tempos antigos.

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