POR UMA MORAL PLANETÁRIA: CONTRA O HUMANICÍDIO
Por: dienifercmp • 6/4/2017 • Projeto de pesquisa • 410 Palavras (2 Páginas) • 458 Visualizações
POR UMA MORAL PLANETÁRIA: CONTRA O HUMANICÍDIO
Michel Lacroix
O valor da vida
A ética da sobrevivência prende-se, primeiro, à mera lógica. A moral planetária apresenta um primeiro argumento. Questão de simples bom senso: quantos planetas temos à nossa disposição? Apenas um. Se tornarmos a Terra inabitável, onde é que nos refugiaremos? Estamos vendo que nossa biosfera é nosso único habitat. Evidência banal, cuja lembrança é oportuna: “Temos uma só e única biosfera que nos permite viver”. Um segundo argumento repousa na anterioridade lógica. Desejamos que nossos descendentes vivam melhor que nós? É uma preocupação louvável. Mas antes, não é preciso tomar providência para que, simplesmente, vivam? Em todo pensamento orientado para o futuro, não é a sobrevivência a condição sine qua non? A Declaração de Haia datada de 1989 inicia-se com as seguintes palavras: “O direito à vida está na base de todos os outros”. Certo. E antes do direito à vida, o que há? Há o direito a nascer: o que devemos desejar antes de tudo não é que indivíduos nasçam, no próprio interesse deles, e por nenhuma outra razão? Por isso o discurso da moral planetária tende a pôr o melhorismo em segundo plano. A prioridade absoluta não é melhorar a qualidade da vida, e remediar a injustiça, e construir sociedades novas, moldar um novo homem etc. “Que homens vivam”, escreve Hans Jonas, “que vivam bem, é o mandamento que vem depois". A invenção e a própria edificação de um futuro pressupõem que a possibilidade de um futuro não tenha sido abolida. O pré-requisito para qualquer projeto de futuro é haver futuro. É preciso destacar a importância desse mandamento que se inscreve no frontispício de qualquer reflexão sobre o terceiro milênio. Com a moral planetária, somos trazidos de volta ao indiscutível, ao inexorável, à brutal e prosaica evidência do primum vivere.
A ética da sobrevivência baseia-se, em segundo lugar, numa recusa de banalização do holocausto planetário. A moral planetária está plenamente consciente do fato de que um dos maiores perigos que nos ameaça seria começarmos a encarar friamente a extinção da raça humana. Por exemplo, é preciso recusar a sórdida contabilidade em megamortes. A fim de manter intactas as forças da recusa é preciso que a extinção mantenha seu poder de escândalo. Não tornar tolerável o que deve permanecer intolerável. É preciso impedir que a sensibilidade enfraqueça. A moral planetária pretende evitar a anestesia, o costume, e suscitar o despertar da sensibilidade, a rejeição, a indignação e a ação.
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