RAZÃO E FÉ NA IDADE MÉDIA
Por: Victor Mariano • 3/6/2018 • Monografia • 2.132 Palavras (9 Páginas) • 437 Visualizações
CAPÍTULO I
RAZÃO E FÉ NA IDADE MÉDIA
Neste capitulo é apresentado um itinerário dentro da história da fé e razão esboçando a ideia de alguns filósofos que desenvolveram o pensamento da época sobre este problema passando por Boécio, à Escolástica e chegando a Anselmo de Aosta. Este é de grande importância para entender o contexto da época situado na fé e razão para que assim, nos outros capítulos ocorra uma melhor compreensão sobre o problema de Deus e a filosofia de Tomás de Aquino.
- - A “Ratio” em função da “Fides”.
RAZÃO – 1º Referencial de orientação do homem em todos os campos em que seja possível a indagação ou a investigação. Nesse sentido, dizemos que a Razão é uma “faculdade” própria do homem, que o distingue dos outros animais [...] Cícero dizia: “A Razão única diferença do bruto, por meio da qual podemos conjecturar, argumentar, rebater, discutir, levar a termo e concluir, certamente é comum a todos; diferente em termos de preparação, mas igual quanto a ser faculdade de aprender” (De leg., I, 10, 30). [...] segundo Plotino, a Razão emana do intelecto, ela é a função formadora do intelecto. (ABBAGNANO, 2007. p. 969).
FÉ – Crença religiosa, como confiança na palavra revelada. Enquanto a crença, em geral, é o compromisso com uma noção qualquer, a fé é o compromisso com uma noção que se considera relevada ou testemunhada pela divindade [...] quando se fala de coisas que não se veem, distingue-se fé de ciência e intelecto, nos quais alguma coisa se faz aparente. (ABBAGNANO, 2007. p. 501).
O início das primeiras teorias sobre a razão em função da fé surgiu na idade média, com a figura de João Escoto Eriúgena afirmando que: “Nenhuma autoridade deve te afastar das coisas que são ensinadas pela reta razão, nem esta à verdadeira autoridade, porque ambas derivam de uma única fonte, isto é, da sabedoria divina.” Anselmo de Aosta afirma também que a razão reflete as verdades da fé, e esta que busca a inteligência pode ser amadurecida pela razão. Pedro Abelardo e também a vinda da escolástica e das primeiras universidades, contribuiram em afirmar a teoria da razão em função da fé.
1.1.1 - Razão e fé na Escolástica
No programa de estudo da Escolástica era usado o método racional como forma de argumentar sobre as verdades cristãs e assim obter uma compreensão dos textos bíblicos usando de instrumentos lógicos, deste modo, a filosofia pode ser denominada como serva da teologia, fazendo uma melhor exegese e contribuindo na formação dogmática.
A argumentação racional na doutrina cristã passa a ter importância em resolver o problema religioso da conversão dos infiéis, pois para muitos, não basta apenas crer, é preciso compreender a fé, de modo que, as verdades aceitas pela fé não sejam contrárias aos princípios fundamentais da razão.
Segundo princípios platônicos e aristotélicos em seu papel, essas verdades aceitas pela fé não se diferem às exigências feitas pela razão humana, pois são nelas que a fé se realiza.
1.1.2 - A situação político-social e situação cultural
O século XIII é marcado para a história da filosofia, com a criação das universidades, que se tornaram centros de pesquisa e ensino aplicando uma nova literatura e o predomínio central nos escritos metafísicos e físicos. Aparecem também neste período às ordens mendicantes (franciscanos e dominicanos), que tinham contatos com textos filosóficos desconhecidos.
No século XIII ocorreram grandes mudanças, na situação político-social com o desenvolvimento das camadas burguesas, na situação religiosa onde a fé católica professada no Ocidente penetra em todas as classes sociais e a Igreja obriga todos a serem guia da Igreja. Na situação das instituições eclesiásticas se destacam as ordens mendicantes, os franciscanos e dominicanos que pregavam um método de vida de assim desapegar-se de tudo e viver confiando na providência divina. Escolheram as cidades como centro de suas atividades e logo sentiram a importância da universidade para a obra eficaz de sua evangelização.
No âmbito da situação cultural, diante das instituições eclesiásticas, era integrada da seguinte forma: surgiram às primeiras universidades, independentes da autoridade eclesiástica, com tinha elaborada uma cultura teológica mais sólida. O diálogo entre fé e razão, dentro das universidades, era dividido em faculdade das artes e faculdade de teologia, que através desse modelo de ensino na universidade em Paris, repercutiu por todas as universidades da Europa.
Do ponto de vista mais propriamente cultural, o século XIII era bastante influenciado pelos escritos lógicos assim como os de Cosmologia e Metafísica, onde buscavam uma explicação racional das coisas, independente das verdades cristãs, mesmo diante da Teologia, filósofos começaram a colocar a razão a serviço da fé. A razão, porém começa a ter conteúdos próprios. Pode-se dizer que o século XIII é o século da formação da relação fé e razão.
1.2 - Razão e fé em Boécio
Boécio (480 – 526) o primeiro escolástico, foi o tradutor e intérprete das obras lógicas de Aristóteles. Dentro da tradição filosófica compõe vários tratados teológicos: um deles foi sobre a Santíssima Trindade, alguns escritos sobre questões dogmáticas e uma obra contra Nestório. Em sua obra “De Consolatione” apresenta um pouco sobre a visão cristã, mas, influenciado pelo pensamento medieval, experimentou expressar sobre fé e razão, apesar de serem obras teológicas.
Foi o primeiro filósofo a tratar sistematicamente de uma conceituação, afirmando que a razão está a serviço da fé. Seu ponto de apoio é a cultura cristã e as temáticas em vista da teologia. Com isso buscou conciliar essas duas dimensões.
Boécio no final do terceiro livro afirma que o uno, o bem e Deus são a mesma coisa e portanto o mundo é governado por Deus, mas no quarto livro o filósofo levanta uma questão: como então existe o mal e porque o mau permanece impune? Chega-se à conclusão de que o homem, não sendo honesto, se transforma em animal, pois são pessoas condenadas, embrutecidas e infelizes.
Entretanto, através disso surgem outras questões, analisando o resultado do homem que abandona a honestidade e se torna como animal. Será que a felicidade está nisso? Vendo que são os bons que sofrem e ao contrário os maus que se dão bem, qual é portanto, a razão de tão injusta confusão de valores? A razão mostra a “providência” como o princípio de tudo, imutável à mente divina; ela “constitui a própria razão divina que tudo governa e mantém cada coisa ligada à sua ordem” (REALE, 1990, p. 474)
Portanto, cabe à Providência dar ordem às coisas, pois, todas as coisas estão voltadas para o bem. Não há nada que seja feito visando o mal, nem mesmo partindo dos próprios maus. Estes na verdade buscam o bem, mas erram despercebidamente. Mesmo em relação à alma, os maus não fazem uma avaliação do seu íntimo.
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