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Resenha do Filme Narradores de Javé

Por:   •  19/9/2021  •  Resenha  •  963 Palavras (4 Páginas)  •  226 Visualizações

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Universidade Federal de Juiz de Fora

Instituto de Ciências Humanas

Especialização em Ciência da Religião

Linguagens da Religião

Docente: Prof. Dr. André Sidnei Musskopf

Discente: Ana Flávia Fernandes Alvim

Resenha do filme “Narradores de Javé[1]

O filme a ser analisado se passa em um pequeno e longínquo vilarejo de Javé. Afastado dos grandes centros urbanos e situado às margens de um rio, o lugarejo está ameaçado de ser extinto por conta de uma barragem a ser construída no lugar. É nesse enredo que o espectador é inserido. É apresentado um personagem Zaqueu[2], que narra para outros que não são moradores de Javé sobre a história que se passou naquele lugar. E seus ouvintes são apresentados a temática do filme, juntamente com os espectadores. A narrativa vai sendo construída para fazer com que aquele que está assistindo o filme seja inserido naquela temática. E se coloque na posição de alguém que espera para ver o que virá a seguir.

Sob ameaça de terem suas casas, e não só elas, mas suas vivências e memórias submersas nas águas, os moradores se reúnem para tentar encontrar uma solução para o drama que os assola. Foi quando surgiu a ideia de registrarem em um livro a história do lugar, para que assim possam transformá-lo em Patrimônio Cultural e sob essa argumentação seria possível conter a construção da barragem. O lugarejo era composto em sua maioria por pessoas analfabetas e surge aí uma das problemáticas abordadas pelo enredo. Só havia um morador letrado, ex-funcionários dos Correios na cidade. Como um estabelecimento focado no envio de correspondências sobreviveria em um local onde as pessoas não sabem ler e nem escrever? Este astuto personagem, chamado Antônio Biá, ou somente Biá, para manter seu emprego começou a escrever e a inventar histórias dos moradores e mandar para pessoas de fora do lugarejo. Só que tal fato caiu na boca dos moradores da cidade e o privilegiado detentor do privilégio dom da escrita, foi expulso da cidade e foi então que ele passou a morar longe, como isolado.

O ex-carteiro é incumbido de escrever a história de cada morador no livro que ele mesmo nomeia “O livro da salvação”. Ele não escreve nada; “grava tudinho na memória”. Nota-se,porém, que cada morador possui uma história do início de Javé diferente das outras e gera conflitos; e Biá sempre aproveita para gozar da situação. O filme traz uma mistura de classes sociais - em especial as excluídas - etnias e religiões que fazem refletir sobre a realidade do Sertão nordestino. Reflete a simplicidade de uma região remota, onde saber escrever ou ler sempre faz toda a diferença para o crescimento de um lugar.

Iniciados os trabalhos, Biá começa então a ouvir as histórias dos moradores sobre o surgimento do lugarejo. Cada pessoa começa a contar uma história diferente, alterando os heróis, fazendo surgiru a pluralidade de fatos fantásticos e lendários e impossibilitando o escritor de colocar no papel relatos grandiosos. Diante da necessidade de produzir algo convincente para salvar Javé da inundação e dos relatos surreais. Biá entrega o livro em branco e o trabalho dele torna-se em vão, o que faz os moradores viverem o drama de ver a cidade ser inundada. O filme aborda diversos temas,como, a formação cultural de um povo; heranças históricas; crenças; valores; oposição entre memória, história e invenção; importância da oralidade na construção científica.

A religião aparece de forma não escancarada, mas percebe-se que é algo que está presente no quotidiano e nas tradições daquele povo. Uma cena que pra mim fica marcada é que logo no começo, o local onde as pessoas da cidade se reúnem para ouvirem Zaqueu lhes informar sobre a caótica situação é a pequena Igreja do lugarejo. Característico de cidades menores, usa-se o sino da igreja para chamar a atenção dos moradores e convidá-los para a reunião.  No filme, percebe-se que mais do que uma imposição dogmática a religião está presente através de uma linguagem entranhada na vida do povo. Me chama atenção e pra mim foi muito forte a cena quando o Biá vai até um lugarejo distante, atrás de narrativas sobre o surgimento do local, e se encontra com um líder negro. Nesse momento mostram-se elementos de religiões Afro e aparece aí uma narrativa até então inédita acerca do surgimento do lugarejo. E que pra mim, como espectadora, fica sendo a verdadeira. Aquele lugar foi escolhido por motivos religiosos, o rio que banha o lugarejo era usado para rituais, os fundadores do lugar, além de se refrescarem na natureza, tinham nas águas uma conexão com o sagrado.

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