SÍSIFO: O ECO DA EXISTÊNCIA NO TEATRO DO ABSURDO
Por: Rafael Melo • 28/8/2018 • Artigo • 745 Palavras (3 Páginas) • 148 Visualizações
SÍSIFO: O ECO DA EXISTÊNCIA NO TEATRO DO ABSURDO
FERREIRA DE MELO, Rafael. RU: 2578947
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O Mito de Sísifo consiste em um texto elaborado pelo filósofo existencialista francês Albert Camus, e veio a propagar um modo de pensar que vem a ser conhecido como O Teatro do absurdo (HINOJOSA, 2010). Assim, essa obra apresenta o desamparo enquanto uma questão inerente à vivência humana, onde o vazio ocupa o lugar da insignificância vital, fazendo com que observemos nossa vida através de um vitral fenomenológico opaco.
A impotência humana vem a ilustrar a única questão importante da filosofia para o niilismo humanista, a qual seria chamada pelos absurdistas de suicídio filosófico. Esta questão é resumida por no seguinte trecho: “Só existe um problema filosófico realmente sério: é o suicídio. Julgar se a vida vale ou não vale a pena ser vivida é responder à questão fundamental da filosofia (CAMUS, 1961, p.8).
Assim, nota-se que o homem absurdo, de acordo com Camus (1961), é aquele que se revolta após angariar uma percepção suprassensível da realidade, como o Zaratustra de Nietzsche. O homem revoltado não aceita ser dobrado e vê no vazio a única resposta para suas perguntas irrespondíveis. Carregando em suas costas uma pedra de um féretro incalculável até sucumbir ao peso dela, e mesmo ao sucumbir sorri agradecido.
“A divina disponibilidade do condenado à morte diante de quem se abrem as portas da prisão em meio a um certo - e tênue - alvorecer, esse inacreditável desinteresse em relação a tudo, salvo para com a pura chama da vida, a morte e o absurdo são então - percebe-se claramente - os princípios da única liberdade razoável: a que um coração humano pode experimentar e viver. Esta é uma segunda consequência. O homem absurdo entrevê, assim, um universo ardente e gélido, transparente e limitado, em que nada é possível, mas tudo já se deu, depois do que vem o desmoronamento e o nada. Ele pode, então, decidir aceitar sua vida em semelhante universo e dele retirar suas forças, sua recusa à espera e o testemunho obstinado de uma vida sem consolação.” (CAMUS, 1961, p.38).
Seria um erro não interpretar a obra camusiana enquanto uma entrada dionisíaca na alma humana, uma porta de entrada para o nada enquanto uma possibilidade de contemplar o todo. A escrita poética do autor chega a doer de tal forma que liberta, e libertar de tal forma que aprisiona.
Essa antítese existencialista quase vital traz à luz do ego a possibilidade que parece mais razoável ao indivíduo que se vê além da moral de rebanho. Há de se viver e experimentar para se libertar, subir as montanhas de si mesmo, viver até o limite da razão e da voz (NIETZSCHE, 2001).
O grande erro da maioria dos comentadores das obras nietzschianas e existencialistas é assumir que o ser humano perde-se em seu absurdo, sucumbe a falta do seu desejo, sendo que ao desejo, nada falta, uma vez que nos limites do real tudo se faz possível. O desamparo mais do que uma força motriz para se reinventar é a essência do suicídio filosófico.
Lidar com o silêncio expressivo das vozes que habitam o existir é de um cunho quase beckettiano, esperar por aquilo que nunca vem, a voz questionando no vácuo suas angústias abissais, o calor da praia argelina que faz um estrangeiro matar seu amigo (BECKETT, 2017; CAMUS, 2001). As prisões edificadas sob o peso das nossas escolhas não somem, se fôssemos capazes de renunciar nossa culpa aí sim seríamos aptos a gozar das vicissitudes plenas do desejo.
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