Um Dilema Ético em Tempos de Pandemia
Por: inesmcteixeira • 30/1/2022 • Trabalho acadêmico • 2.478 Palavras (10 Páginas) • 104 Visualizações
Índice
1. Introdução - 3
2. Um dilema ético: caracterização e enquadramento - 4
3. Análise do problema à luz do pensamento aristotélico, kantiano e utilitarista - 6
3.1. A Ética aristotélica - 6
3.2. O Imperativo categórico de Kant - 7
3.3. O critério utilitarista - 9
4. Conclusão - 10
5. Recursos bibliográficos 11
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1. Introdução
O presente trabalho propõe a análise de uma situação real ocorrida numa escola em Rio
de Mouro no ano letivo de 2020/2021 cuja questão primordial se centra na reflexão
sobre a dicotomia estabelecida entre o cumprimento de regras em detrimento de um
ato solidário entre alunos: a partilha de um lanche.
Tendo em conta a natureza verídica deste acontecimento concreto, a nossa investigação
centrar-se-á na problematização prática de um dilema ético de âmbito escolar à luz dos
pressupostos e fundamentos filosóficos abordados ao longo aulas da disciplina de Ética
e Educação que orientarão respostas à pergunta de investigação que rege este trabalho:
Terá o aluno agido bem ou mal ao oferecer o seu lanche, infringindo as regras?
Assim, o objetivo deste trabalho será, por um lado, encontrar respostas possíveis para
o problema tendo em conta as diferentes perspetivas estudadas e, por outro, refletir
sobre a sua validade e adequação considerando a dimensão ética e pedagógica que a
escola assume.
Por último, foram utilizados métodos de pesquisa descritiva, que envolveram a análise
de determinadas correntes e contributos teóricos de diferentes pensadores, assim como
de pesquisa documental, tendo sido realizado o visionamento e levantamento das
notícias que tornaram este caso público.
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2. Um dilema ético: caracterização e enquadramento
A meados de outubro de 2020, um aluno de 12 anos do Agrupamento de Escolas
Escultor Francisco dos Santos foi suspenso de frequentar as aulas por um dia por ter
partilhado o seu lanche com colegas e, consequentemente, ter colocado “em perigo o
bem-estar de todos” devido ao desrespeito pelas regras de contenção da disseminação
da Covid-19.
O aluno suspenso alega que um dos colegas lhe teria dito que tinha fome, visto que
ainda não teria comido até àquele momento. Porém, segundo a diretora da escola,
Cristina Frazão, as crianças estariam a dar dentadas no mesmo pedaço de comida,
depois de terem sido avisados sucessivamente para não o fazerem, sendo esta uma
sanção prevista no Estatuto do Aluno, como aponta o jornal “Observador”. Além disso,
foi enviada uma carta ao encarregado de educação do aluno a explicar a natureza da
sanção e a informá-lo de que o filho teria ignorado algumas chamadas de atenção
prévias relativas ao constante incumprimento das medidas de contenção estabelecidas
na escola e pedindo que retirasse os comentários nas redes sociais onde tinha escrito
“inverdades” sobre o caso, visto que não se tratou de uma situação de generosidade,
mas de vários incumprimentos, como “do uso obrigatório de máscara, a distância física,
a distância quando se come e a mistura de turmas no intervalo”.
Tendo em conta o disposto – e desconhecendo-se até ao presente dia a posição do
Ministério da Educação sobre a veracidade dos factos apresentados pelas partes, isto é,
pela escola e pelo encarregado de educação do aluno – será considerada neste trabalho
a versão do aluno por se tratar de um dilema ético que poderia ocorrer em qualquer
estabelecimento de ensino desde o início da pandemia.
Assim, a situação em apreço apresenta uma decisão que caberia ao aluno tomar:
partilhar ou não um lanche com um colega que tinha fome. Esta ação é precedida de um
exercício reflexivo que pesa as vantagens e desvantagens que decorrerão da escolha,
implicando um juízo de valor e a responsabilidade assumida pelo agente que a realiza.
No caso concreto, o agente (aluno) conhece as regras assim como a existência da sanção
disciplinar a ser aplicada no caso do seu incumprimento (suspensão). Porém, hesita na
hora de se abster de partilhar o lanche com o colega porque se sente solidário com o
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outro e, ao não fazer nada, isto é, ao não oferecer a sua merenda, automaticamente
pratica o “mal” por omissão, já que o colega continuaria sem comer.
Desta forma, estamos perante um dilema ético pois, por um lado, o aluno tem o seu
interesse pessoal em não criar problemas e receber uma sanção disciplinar; contudo,
fazendo-o, permite que o amigo passe fome, o que torna ambas as opções desfavoráveis
e de difícil escolha, dada
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