VERNANT, Jean – Pierre. As Origens do Pensamento Grego, Capítulo IV – O universo espiritual da polis
Por: João Santos • 27/8/2016 • Resenha • 1.131 Palavras (5 Páginas) • 1.758 Visualizações
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia – IFBA Campus Salvador[pic 1]
Discente: João dos Santos Turma: 11821
Docente: Kennedy Disciplina: Filosofia
RESENHA CRÍTICA
VERNANT, Jean – Pierre. As Origens do Pensamento Grego, Capítulo IV – O universo espiritual da polis
A polis surge em um momento emblemático da cultura grega vigente à época, vem justamente para quebrar com a ordem do período homérico, visando à isonomia frente a monarchia ou a tyrannís. A sua fundação constitui um acontecimento decisivo para a mudança do pensamento grego, influindo diretamente na criação da philosofhia.
A oratória transforma-se no meio de dominação mais comum de forma que o Peithó, arte da persuasão, é o que vai gerir as relações de poder na acrópole das polis, ele quem vai conferir honras e créditos aos que melhor souberem dominá-lo e, consequentemente, estabelecer domínio intelectual sob os demais cidadãos. Ora, a palavra, no entanto, sempre desempenhou relativa eficácia para o controle das massas, um exemplo prático era o valor conferido aos pronunciamentos dos reis, dos sacerdotes.
Entretanto a principal diferença é que, na polis, a palavra destaca-se de os demais instrumentos de poder justamente por assumir a forma de debate antagônico, vira instrumento de discussão, de argumentação descaracterizando, assim sua antiga faceta de “fórmula justa”. Logo, toda a problemática que era de interesse comum a arché era submetida a oratória, consequentemente, ao Peithó. A arte política é um exercício da linguagem e os logotipos. A retórica e a sofística são a que abre o caminho das investigações de Aristóteles e definem as regras da demonstração, sentam uma lógica do verdadeiro, própria do saber teórico.
Frente a realidade em que a vida do grego é levada ao público, tornar-se-á um dos pilares que fundamentam a existência da polis, ao levar os conhecimentos, os valores, as técnicas à praça pública, onde tornam-se causa de análises, tomada de posição, debates e interpretações. Faz, assim, da vida privada um assunto coletivo, instaurando uma maneira diferenciada de relação entre os homens, o que é inédito e original. Este duplo movimento de democratização e de divulgação terá decisivas consequências no plano intelectual. A cultura grega constitui-se abrindo um círculo a cada vez maior e finalmente ao demos em sua totalidade.
Enquanto a palavra desempenha um papel político, é na escrita que a polis encontrará a cultura comum e a permissão de uma completa divulgação dos conhecimentos até então reservados. Retira-se a escrita do jugo dos escribas, passando a ser um bem comum de todos os cidadãos. Inicia-se, com esse processo de abertura do conhecimento, a aglutinação de conhecimentos, o pré-socrático Anaxemandro, por exemplo, tornou público seu conhecimento através de livros. Quando analisado as consequências do processo de transcrição das sabedorias tem-se então um processo de aceitação enquanto verdade conhecida e, novamente, aceitar submete-las ao debate público, ainda que não sejam acessíveis a todos.
A redação das leis, enquanto prática escrita, é o exemplo que melhor testifica tal faceta, pois elas passam a ser conhecidas e aplicadas a todos da mesma forma quebrando, assim, a diké, que vigorou durante todo o mundo de Hesíodo. A escritura constituirá o elemento fundamental da paideia grega. Em virtude da publicidade que lhe confere a escritura, a diké, sem deixar de aparecer como um valor ideal poderão ser encarnado em um plano propriamente humano, realizando na lei, regra comum a todos mas superior a todos, norma racional submetida a discussão e modificável por decreto mas que expressa uma ordem concebida como sagrado.
Ainda no processo de transparência, a polis, ao confiscar as propriedades dos antigos sacerdócios e as transforma em cultos públicos, gera obstáculos no que se refere ao processo de divulgação enquanto todo, já que este é lento, gradual e paulatino. Entretanto, como trunfo de poder muitas das cidades-estado ainda mantinham para si certas relíquias tidas como sagradas que, em verdade, não passava de uma prerrogativa de dominação política dos cidadãos, afinal ao atribuir a um talismã o poder de arruinar toda uma sociedade, dar-lhe-á poder ilimitado sob todas as antíteses que fossem levantadas. Os “sacra” convertem-se em um “ensino sobre os deuses”, os relatos secretos despojam-se de seu mistério e de seu poder religioso para converter nas “verdades” que debaterão os Sábios.
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