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A Análise Física de: Maioria Absoluta, Theodorico: o imperador do sertão e Como nasce a cidade

Por:   •  28/9/2023  •  Resenha  •  1.839 Palavras (8 Páginas)  •  46 Visualizações

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                                        UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

                               INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS - IGC

                                   DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

                       

Disciplina/Turma: Povos tradicionais e questão agrária brasileira/ TN1

Aluno: João Lucas Anselmo Eleutério (2020037984)

Professora: Débora Assumpção e Lima

ATIVIDADE 1: ANÁLISE FÍLMICA

De acordo com o artigo 2 da Lei Nº. 4.504/64 do Estatuto da Terra “é assegurada a todos a oportunidade de acesso à propriedade da terra, condicionada pela sua função social (...)”. Uma vez assegurada pela Constituição atual, faz-se saber que a terra é um elemento extremamente importante, imprescindível para a agricultura e, consequentemente, para o desenvolvimento das sociedades. Todavia, as relações estabelecidas com a terra se diferem no que tange às concepções a respeito dela - para determinados grupos, ela é norteadora do seu modo de vida, para outros, ela é fonte de obtenção de lucro - o que ocasiona as disputas políticas acerca do seu uso e ocupação, configurando a questão agrária brasileira, que tem suas raízes desde o Período Colonial.

A contar do momento em que os portugueses colonizaram o território brasileiro, houve desproporcionalidade quanto à divisão de terras, uma vez que, por meio das Sesmarias e das Capitanias Hereditárias, as terras foram repartidas entre poucas pessoas, em sua maioria, portugueses. Posteriormente, em 1850, foi promulgada a Lei de Terras que passou a regulamentar a posse da terra pelo mecanismo de compra e venda, o que apenas acentuou as discrepâncias sociais, uma vez que a maior parcela da população brasileira, composta por indígenas, ex-escravizados e escravizados, não possuía poder de compra.

Deste modo, ressalta-se que a zona rural brasileira sempre foi marcada pela desproporcionalidade na distribuição das propriedades rurais, desde o início, os camponeses, por não possuírem terras próprias, ficaram reféns dos grandes proprietários, trabalhando como arrendatários e dividindo grande parte de sua produção com os donos das terras.

Diante desse cenário, em 1964 o cineasta brasileiro, Leon Hirszman, dirigiu o documentário crítico “Maioria Absoluta”. Ressalta-se que o curta metragem de pouco mais de 18 minutos foi produzido um ano antes do golpe civil militar, no fervor social, econômico e político do país. O filme ancorado em dados estatísticos e depoimentos de pessoas de classes sociais distintas, onde a elite branca, sofisticada e preconceituosa das grandes cidades contrasta com a população trabalhadora, pobre, preta, nordestina, doente e analfabeta. Dessa forma, o cineasta explicita as desigualdades sociais do Brasil que remontam desde o período escravocrata, como supracitado. Em meio a vários fatos, Hirszman expõe que os analfabetos — que não possuíam sequer direito ao voto — eram a maioria absoluta do país, e constata que o analfabetismo é o resultado de uma história triste de uma maioria marginalizada, que teve seu destino traçado quando lhes negaram direito a terra, e que este não reside nas casas arejadas das grandes cidades e sim “[...]  nas palhoças de chão úmido, nas casas de taipa e nos barracos de lata [...] . (Maioria Absoluta,1964).

A produção ainda aclara que a má distribuição de terras no campo está ironicamente ligada a miséria do trabalhador rural, já que o camponês não detém totalmente o alimento que produz sendo subordinado aos fazendeiros, ou seja, o filme retrata as condições subumanas em que estes sujeitos vivem, sendo constantemente explorados por latifundiários. Diante disso, Hirszman finaliza o curta com uma indagação objetivando uma reflexão:

“Dos 40 milhões de brasileiros analfabetos, 25 milhões, maiores de 18 anos, estão proibidos de votar. No entanto, eles produzem o teu açúcar, o teu café, teu almoço diário. Eles dão ao país a sua vida, e os seus filhos, e o país o que lhes dá?” (Maioria absoluta, 1964)

Assim, ao mostrar as disparidades nos discursos e no modo de vida dos sujeitos de grupos sociais dessemelhantes, em que os brasileiros de classe média não se entendem como favorecidos e exploradores dentro do sistema capitalista, o filme de Hirszman de certa forma dialoga com o um trecho do texto “A alma da fome é política” do sociólogo Herbert de Souza:

A história do Brasil pode ser contada da vários modos sob vários ângulos, mas para a maioria ela é a história da indústria da fome e da miséria. Um modo perverso de dividir o mundo em dois, produzindo um gigantesco apartheid. Nesse campo, fizemos verdadeiros milagres de desenvolvimento. Um dos maiores PIB do mundo abraçado com a pobreza e a miséria mais espantosa. Aqui não houve lugar para o acaso. Tudo foi produzido como obra calculada. Fria. O resultado está aí diante dos olhos de todos. Uma parte ostensiva, rica branca, educada, motorizada, dolorizada. Outra parte imensa na sombra, negra, analfabeta, dando duro todos os dias, comendo o pão que o diabo amassou em cruzeiros, reais. Dois mundos no mesmo país, na mesma cidade, muitos próximos pela geografia e infinitamente distantes como experiencia de humanidade (Acervo Digital FGV, 2021).

   Imagens 01 e 02: Os dois lados da sociedade brasileira expostos em “Maioria Absoluta” (1964):

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    Fonte: Pedagogia da imagem, 2021.

Tendo em vista esta estrutura social posta, em 1978 foi ao ar o documentário “Theodorico, o Imperador do Sertão, produzido pelo programa Globo Repórter da Rede Globo de Televisão. Baseado na narração própria do personagem central e em entrevistas de alguns trabalhadores rurais, a produção de pouco mais de 50 minutos apresenta a história do controverso Theodorico Bezerra, político e latifundiário nordestino de até então 75 anos. O documentário exibe a forte influência e controle que Theodorico possuía no estado do Rio Grande do Norte, já que através de práticas coronelistas, como o voto de cabresto, controlava não só suas terras, mas também a vida dos sujeitos em seu entorno, que por sua vez viviam sob condições precárias. O fazendeiro — que erroneamente se dizia socialista — estabelecia regras para quem quisesse trabalhar em suas terras, cujo modus operandi remete ao feudalismo em pleno século XX, revelando assim, a hipocrisia das oligarquias agrárias brasileiras. Dessa forma, nota-se que a produção é atual, já que o coronelismo ainda impera em algumas regiões do país.

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