A Geopolítica do Desenvolvimento Sustentável
Por: tdias202 • 1/12/2019 • Trabalho acadêmico • 1.414 Palavras (6 Páginas) • 198 Visualizações
Anápolis, 09/11/2019
Docente: Juvair Freitas
Discentes: Thiago Dias
Disciplina: Geografia e Meio Ambiente
A geopolítica do desenvolvimento sustentável: reflexões sobre o encontro entre economia e ecologia
Celso Furtado ensina que o desenvolvimento tem sido utilizado em dois sentidos ambíguos na contemporaneidade: como a eficácia da acumulação e da técnica de um sistema social e como o grau de satisfação das necessidades humanas. Segundo o autor, ainda que a tendência inicial dos intelectuais fosse compreender o avanço das técnicas como um meio de contornar a escassez, a constante renovação técnica (e a conquista de novas tecnologias) acaba condicionada aos interesses dominantes.
A tecnologia, que é uma força produtiva par excellence traz embutida consequências inevitáveis de desqualificação e perda de controle imediato dos trabalhadores sobre o processo de trabalho. As máquinas fortaleceram ainda mais os capitalistas, já que o lugar da tecnologia se torna também o lugar da servidão, e o potencial libertador da técnica revela-se ao avesso, com a instrumentalização do homem. Ao mesmo tempo em que carrega elementos aniquiladores das relações de produção nos moldes do desenvolvimento como nós a conhecemos, traz consigo potenciais emancipatórios capazes de favorecer o desenvolvimento da interação social e promover, paradoxalmente, a humanização das relações de produção.
E a técnica, através de seu constante progresso, será a responsável pela reconstrução constante do desenvolvimento. Por sinal, o desenvolvimento das máquinas e instrumentos que possibilitam o trabalho industrial nos mostra até que ponto a totalidade do conhecimento social e da ciência se transformou numa força produtiva imediata. A noção de desenvolvimento é um paradoxo de nosso tempo: a vontade do progresso convivendo com a desconfiança face ao mesmo.
Sob a égide do sistema capitalista, o desenvolvimento significa o aumento na formação de capital e introdução de inovações tecnológicas, mas ideologicamente se constitui como um sinônimo de modernização e progresso, mitos para a ilusão necessária de que somente com o sistema capitalista obtêm-se um crescimento econômico e tecnológico para toda a sociedade.
O geógrafo Massimo Quaini acrescenta que tal desenvolvimento das forças produtivas se espraia de maneira progressiva, integrando vários lugares e regiões, e criando um sistema de interdependências funcionais, econômicas e geográficas. Aliás, desde os seus primórdios, o capitalismo mostrou com clareza a sua face territorial, marcadamente com o processo de privatização das terras através do “cercamento dos campos”, determinante no fim do mundo feudal, que transformou em capital os meios de subsistência e dissociou o trabalhador dos meios de produção e da própria natureza.
De acordo com os argumentos relacionados, podemos sintetizar que o desenvolvimento, sob a égide do sistema capitalista, significa: a) domínio sobre a natureza, e, por conseguinte, sobre o território, através da subserviência das riquezas naturais aos ritmos da produção econômica; b) progresso econômico, entendido aqui como acumulação de capital a ser obtido, especificamente, através da opressão de classe e exploração da força de trabalho, ocultados ideologicamente; c) modernização técnica, que compreende a evolução massiva da maquinização do processo produtivo, que geograficamente implica em um processo de tecnificação espacial; d) hegemonia econômica na perspectiva do sistema-mundo, na medida em que o desenvolvimento é um modelo a ser atingido pelos países que compõem a periferia econômica mundial; e por fim, e) uma ideologia extremamente potente, capaz de indicar um futuro próspero a ser construído através da reprodução do modelo então vigente.
No momento subsequente a Segunda Grande Guerra, iniciou-se uma profunda reflexão sobre o modelo de desenvolvimento, envolvendo a tomada de consciência do atraso econômico em que vive a grande maioria da humanidade. Com essa proposta, houve a participação ativa da ONU, suas comissões regionais e agências especializadas, no processo de reflexão sobre o desenvolvimento, com o consequente desmantelamento das estruturas coloniais e emergências de novas formas de hegemonia internacional fundadas no controle da tecnologia e da informação e na manipulação ideológica.
Ainda que o período pós-guerra seja identificado com uma “Era de Ouro”, para os países centrais (especialmente para os Estados Unidos), pelo grande desenvolvimento econômico e pela produção concentrada de riqueza, não há dúvidas sobre a emersão de um verdadeiro “vazio” teórico, analítico e doutrinal que transpôs diferentes classes, Estados e regiões da economia-mundo. Ocorreu a complexificação dos problemas da agenda global com a degradação socioambiental e os riscos sistêmicos de crise financeira de processos especulativos e de fraudes.
Os problemas da agenda do desenvolvimento se tornaram questões efetivamente globais, exigindo um enorme esforço de reconstrução de estruturas, organizações e movimentos de porte mundial. Assim, a década de 1960 é a responsável pela emersão do movimento ecológico/ambientalista, organizado de forma autônoma e independente, sem uma referência classista imediata. Esse movimento imprime um caráter questionador do modo de vida, sobretudo em relação à “destruição do meio ambiente”, e acaba englobando questões diversas, como o desmatamento, o uso de agrotóxicos, a extinção das espécies, e até mesmo, a crítica ao american way-of-life.
É importante alentar que, evidentemente, os problemas de ordem ambiental não nascem no Pós-Guerra, mas que, desde a Idade Média, há registros de destruição ambiental. Jean Gimpel nos aponta os graves desmatamentos europeus do período, com alguns dados factuais: em 1330, as florestas da França cobriam 13 milhões de hectares, ou seja, apenas 1 milhão de hectares a menos que em nossa época; na Inglaterra, em 1170, a construção do castelo de Windsor exigiu o corte de uma floresta inteira, sacrificando 3.004 robles, e mais 940 robles dos bosques de Combe Park e Pamber.
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