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A Globalização Como Fator De Exclusão

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Por:   •  2/6/2013  •  8.812 Palavras (36 Páginas)  •  356 Visualizações

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A Globalização como factor de Exclusão

1.O que é a Globalização?

A Globalização – a que os franceses preferem chamar mundialização – é um processo progressivo de integração à escala planetária, nomeadamente no campo da informação, da comunicação e da economia, não excluindo no entanto a própria esfera política. Num mundo em que os meios de transporte e de comunicação nos permitem contactar com facilidade qualquer parte do nosso planeta ou, pelo menos, sabermos o que se passa em todo o lado, é inevitável que as redes de interacção locais e nacionais sejam complementadas por outras à escala planetária. Cada vez mais nos conhecemos

uns aos outros, cada vez mais comunicamos uns com os outros, cada vez mais criamos redes de interesses para lá de quaisquer fronteiras tradicionais. No fundo é o culminar de processos multisseculares, iniciados

quando pequenos grupos de homens de Cro-Magnon foram descobrindo que não estavam sózinhos no mundo, e que, do outro lado do rio, ou da montanha, outros grupos existiam, com os quais se começava por lutar e se acabava por negociar e inter-casar. É nessa óptica que reclamamos para nós, portugueses, uma intervenção significativa nesse processo de globalização, no quadro das nossas viagens de Descobrimentos e de estabelecimento de relações com a Ásia, com a África e com as Américas, a partir do século XV. Do ponto de vista social – e poderia dizer, sociológico – a globalização é um processo

natural, inevitável, progressivo, de descoberta mútua e, como tal, indiscutível.

2. Os efeitos da globalização

Ora a globalização – tal como o liberalismo económico que a tem vindo a impulsionar – não é um processo inocente de consequências negativas. Espécie de darwinismo económico, apenas garante a

sobrevivência dos mais aptos ou dos mais fortes. Só por ingenuidade ou má-fé se pode afirmar que esta globalização a todos beneficia, sabendo-se que a lógica da concorrência fundamentalista conduz à

destruição ou absorção dos mais fracos pelos mais fortes. Creio que foi Hieronimus Bosch quem, há cerca de 500 anos pintou um quadro chamado “Os peixes grandes comem os pequenos”, onde podemos ver uma antecipação artística do que é a essência do actual sistema económico. E não há legislação anti-trust que tal impeça, pois se uma empresa mais fraca é levada à falência por outra mais forte, que legislação liberal é capaz de a salvar, salvaguardado assim a concorrência? Assim, nos países mais desenvolvidos,

a concorrência global tenderá a reduzir o número de concorrentes até ao limite do oligopólio ou do monopólio, destruindo as indiscutiveis vantagens a curto e a médio prazo das economias de mercado. Quanto aos países menos desenvolvidos que não beneficiem de mercados internos significativos – como a China, Índia, Brasil ou Indonésia –, a globalização liberal matará no ovo quaisquer iniciativas empresariais locais (exceptuando aquelas que geram produtos de baixo valor económico), condenando essas economias menos desenvolvidas à dependência de produtos ou matérias-primas essencialmente

interessantes para os países desenvolvidos. Continuar-se-á a explorar petróleo, diamantes e madeiras tropicais, e a cultivar café, cacau, chá e pouco mais. E garantir-se-á, pelo excesso de produção destas culturas, que o preço pago aos países produtores será cada vez mais baixo, permitindo margens de lucro cada vez mais altas aos transformadores e distribuidores, todos eles sediados nos países desenvolvidos.

Este processo é de tal forma reconhecido pelos países menos desenvolvidos, que se tem tido de recorrer à pressão financeira (por via do FMI e do Banco Mundial), à chantagem política e à corrupção activa de governantes, para garantir a sua aceitação para este processo tão injusto como destrutivo.

A globalização e os seus efeitos

Decorre uma discussão entre o Daniel Oliveira e o João Miranda em torno das práticas e consequências da globalização económica. O Daniel tem, se posso dizer assim, o "coração" no sítio certo, mas o João tem do seu lado a frieza dos mecanismos económicos: as práticas laborais das empresas que conduzem a globalização são em muitíssimos casos atentados ao bem-estar e à dignidade das pessoas, sim - mas sem investimento estrangeiro não há outro meio para milhões no terceiro mundo saírem da pobreza.

Isto não significa que o laissez faire global seja a panaceia para todos os males e que não haja necessidade de, sempre a nível global, criar mecanismos regulatórios capazes de evitar práticas que ponham em causa o bem-estar das populações: a recorrência de praticas especulativas contra moedas nacionais; a facilidade com que o capital pode fugir de um país tão rápida como impunemente, deixando-o num caos (como se viu na crise asiática de 1997-8); ou o facto de muito capital seguir o caminho oposto ao 'previsto', viajando de alguns países pobres para alimentar o investimento (ou a divida) em países ricos.

Mas eventuais regulações que combatam estas práticas perversas, por benignas que possar vir a ser, não resolverão os dilemas que os mais pobres enfrentam hoje. E' verdade que o argumento de que "ah, dantes, no campo, trabalhavam 20 horas para produzir o que lhes permitia viver ao nível de subsistência" pode ser, no limite, perverso e cínico, e que pode servir para legitimar qualquer prática que melhore nem que seja um pouco, do ponto de vista subjectivo, a anterior condição do trabalhador (e não é difícil satisfazer alguém que está habituado à escravidão: as suas expectativas são por definição muito baixas). Mas quem acha que isto é só retórica auto-justificadora esta a ser terrivelmente arrogante e etnocêntrico: estamos a falar de casos em que a alternativa não é entre um salário de, por exemplo, 20 ou 2000 euros (e convém não esquecer que as empresas multinacionais até pagam em norma salários mais altos do que as empresas locais, precisamente para atrair os melhores trabalhadores; portanto a nível global a race pode ser to the bottom, mas a nível local/regional pode ser to the top), mas entre 20 euros e, por exemplo, o desemprego de massa, a miséria, o crime, o terrorismo, a prostituição, etc. Para milhões, esses míseros 20 euros significam, objectiva e subjectivamente, um verdadeiro progresso - mesmo que concordemos que, por agora, se tratam de valores insuficientes para levar uma vida 'decente'.

A verdade é que se Marx hoje fosse vivo veria na globalização económica um real progresso, uma forma

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