A Invenção do Nordeste e Outras Artes
Por: Denis De Moura Santos • 24/11/2019 • Ensaio • 1.248 Palavras (5 Páginas) • 261 Visualizações
A Invenção do Nordeste e outras artes
Capítulo II - Espaços da Saudade
A região Nordeste que surge na “paisagem imaginária” do país, no final da primeira década do século XX, é resultado da mudança no eixo do país que antes era somente entre Norte e Sul, e esse surgimento vem através da saudade. O texto visa a história deste objeto, como o Nordeste apareceu adequado para os estudos na academia, para exposição no museu, para o programa de TV, sendo tema de romances, pinturas, filmes, peças, discursos políticos, medidas econômicas.
Vale notar que esta concepção atual que temos de Nordeste não é desde sempre, o Nordeste é uma espacialidade fundada historicamente, originada numa tradição de pensamento uma imagística e textos que lhe deram realidade e presença. Esse pensamento se fundamenta através de discursos e práticas “nordestinizadores” que surgiram dispersos e foram agrupados posteriormente. A intenção do texto não é traçar o desenho do Nordeste “real” e sim analisar a constituição destes topos, o conjunto de referências, coleção de características, uma imagem que sempre se repete, um feixe de recorrências.
A origem do Nordeste é longe de ser um processo linear e ascendente, em que a identidade está desde o início assegurada e preservada, seu começo está na discórdia entre prática e discursos, é necessário afirmar que a origem do Nordeste não é linear e pacífica para negá-lo como objeto político-cultural colocando a região como neutra, natural ou histórica.
A consolidação do Nordeste vem embasada na formalização de uma “região” em oposição ao discurso de nacionalização que praticamente diluiria a área, o Nordeste surge buscando reafirmar os interesses particulares e oligárquicos da região, que com a perda dos espaços econômicos, comerciários e intelectuais, abre mão do topos, de símbolos, por uma unidade regional contra a unidade “nação” que sem essa oposição facilmente diluiria a especificidade regional. Buscando então através da natureza, história, economia, aspectos sociais, culturais e artísticos como base para ordenar essa formalização da região Nordeste.
Em 1919 o termo Nordeste é usado inicialmente para designar a área de atuação da Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (INFOCS), através do discurso institucional, o Nordeste surge como a parte do norte sujeita às estiagens. O Nordeste é produto da seca e desse produto imagético discursivo de uma séria de textos e imagens produzidos a respeito disso, desde 1877 com a grande seca é considerado como o maior problema dessa área. Através da seca faz-se um recorte específico no país.
Utilizando o meio e raça como fator determinantes de uma organização social, o Norte surge com seus problemas em contraposição ao Sul, o problema da seca levam os olhares do restante do país para essa região. Oswald de Andrade em 1925 ao visitar Recife evidência a “ignorância” dos sulistas ao verificar que aquela que era uma das maiores cidades do país e ela não era o “flagelo” que os jornais retratavam.
Até 1920 o Norte e o Nordeste ainda são usados como sinônimos, a separação dentre eles ainda está se processando. Surge o discurso de separação do Norte entre a área amazônica e área “ocidental” do Norte motivados pela preocupação da migração de trabalhadores das lavouras do Nordeste para a extração de borracha.
O grande desafio político e cultural do Nordeste é se livrar da visão oligárquica e provinciana de espaço a que estava presas em prol da necessidade da institucionalização do Nordeste. Os interesses de Estado pessoal, agora passa a ser pensado como interesses de um todo maior, o interesse regional.
Em 1878 após a exclusão das províncias do Norte do Congresso Agrícola, realizado no Rio de Janeiro, surge em contraposição o Congresso Agrícola de Recife, um fórum com duras críticas à atuação discriminatória do Estado Imperial em relação a região Norte no que tangia a investimentos, política fiscal, construção de obras públicas e política de mão de obra. A seca entre 1877-1879 foi a primeira a ter grande repercussão nacional por parte da mídia. Fato que fez que houvesse comoção dos sulistas com campanhas com recursos para as pessoas que sofriam com a seca. Os políticos então descobriram aí uma grande arma para reclamar de tratamento igual. Em 1981 conseguem através do artigo 5º da constituição, que a União é obrigada a destinar verbas especiais para o socorro de áreas, vítimas de flagelos naturais, incluindo a seca.
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