A QUESTÃO REGIONAL BRASILEIRA
Por: LAR1VIEIRA • 7/5/2019 • Artigo • 3.787 Palavras (16 Páginas) • 222 Visualizações
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A QUESTÃO REGIONAL NO BRASIL:
UMA INTRODUÇÃO AO DEBATE
Alcides Goularti Filho1
Resumo
O objetivo desta nota é apresentar uma introdução ao debate sobre a
questão regional no Brasil a partir de vários enfoques: desconcentração
concentrada; articulação comercial e produtiva; desconcentração poligonal
e reversão da polarização; desconcentração fragmentada, e desconcentração
e inflexão econômica regional.
Palavras-chaves: economia regional brasileira – concentração e desconcentração
regional.
Classificação JEL: 0180
1 INTRODUÇÃO
Esta nota traz o debate recente sobre a questão regional no Brasil. O
texto enfoca as duas abordagens: a neoclássica, centrada na teoria da localização,
e a heterodoxa, centrada na formação histórica e na atuação do Estado.
O texto está dividido em três partes. Inicialmente serão apresentados os
fundamentos da teoria da localização e a busca pelo ponto de equilíbrio. Em
seguida, serão discutidos os resultados da pesquisas acadêmicas sobre a questão
regional brasileira numa perspectiva crítica dando ênfase à história econômica
e social e ao papel desempenhado pelo Estado. E, por último, será apresentada
uma breve consideração final.
1 Doutor em Economia pela UNICAMP e professor do Departamento de Economia da UNESC. E-mail:
alcides@unesc.rct-sc.br
Textos de Economia, Florianópolis, v.9, n.1, p.09-22 , jan./jun.2006
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Alcides Goularti Filho
Textos de Economia, Florianópolis, v.9, n.1, p.09-22 , jan./jun.2006
2 TEORIA DA LOCALIZAÇÃO: ABORDAGEM NEOCLÁSSICA
Na literatura sobre economia regional dentro de uma perspectiva
neoclássica destaca-se principalmente a Teoria da Localização, que tem
como referência os trabalhos de J. H. Von Thünen (1826), Alfred Weber
(1909) e August Lösch (1940). Para esses autores, as características
locais definem a viabilidade ou a inviabilidade para realizar um investimento.
Numa simples análise de custo/benefício, as abordagens neoclássicas
tornam a localização determinante na maximização do lucro buscando
o ponto ótimo de localização que minimize os custos para chegar
ao equilíbrio (LEME, 1982).
Para Weber (1909), as matérias-primas são distribuídas desigualmente
no espaço, sendo assim a localização de uma unidade produtiva será determinada
pelo menor custo de produção, tendo o transporte como o fator
mais preponderante na composição dos custos, ao contrário da mão-deobra
que tem oferta ilimitada. Weber (1909) trabalha com concorrência
perfeita e coeficiente de produção fixo, isto é, nega a crise. Já Lösch, “concentra-
se mais no lado da demanda, da receita, relegando a plano secundário
as variações de custos” (AZZONI, 1982). Para Lösch (1940), a renda e
os fatores de produção são distribuídos de forma uniforme e a localização
dos investimentos está dentro de uma área previamente determinada e a
maximização dos lucros é que define a localização. Thünen, o pioneiro na
teoria da localização, voltou seus estudos mais para a agricultura, afirmando
que a localização das atividades agrícolas dá-se no entorno de uma área
urbana, que é independente do restante do sistema econômico (LEMOS,
1988). A partir dessa análise, brotou a idéia de “anéis de Thünen”, que são
“circunferências em torno da cidade, cada uma delas delimitando a área de
cultivo de um produto” (AZZONI, 1982). A fertilidade da terra, segundo
Thünen, é distribuída de maneira uniforme.
Destaca-se nessa escola a ilusão de que os recursos são distribuídos de
forma uniforme e que o equilíbrio regional será naturalmente alcançado, ficando
a cargo da “mão invisível” alocar os recursos nas regiões que têm
mais capacidade e “sensibilidade” para receber os investimentos, os quais
em seguida serão espraiados para outras regiões menos capacitadas, gerando
desenvolvimento uniforme.
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A questão regional no Brasil: uma introdução ao debate
Textos de Economia, Florianópolis, v.9, n.1, p.09-22 , jan./jun.2006
A Teoria da Localização foi sintetizada por Walter Isard (1956), para
quem a teoria, até então, tratava apenas de modelos particulares e sua função
foi torná-la geral. Isard elabora um modelo de minimização de custo e de área
de mercado (variação espacial da receita) unificando-os no final (AZZONI,
1982). É daí que nasce
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