TrabalhosGratuitos.com - Trabalhos, Monografias, Artigos, Exames, Resumos de livros, Dissertações
Pesquisar

Modernizacao agricola

Por:   •  5/11/2015  •  Dissertação  •  2.834 Palavras (12 Páginas)  •  222 Visualizações

Página 1 de 12

A MODERNIZAÇÃO AGROPECUÁRIA BRASILEIRA[1]

1.        Introdução

        A maioria das análises sobre a modernização da agropecuária brasileira mostra que esta seguiu a dinâmica da economia brasileira como um todo. Após um período de constituição e consolidação das indústrias de base (siderúrgica, metalúrgica, etc.), tem início a chamada internalização do departamento de bens de produção, que é o ramo da indústria responsável pela produção de máquinas utilizadas na produção de outros bens e produtos. A indústria de tratores nacionais, por ex., que em 1960 detinha 0,3% da oferta, dez anos depois respondia por 99% da oferta.

        Baseando-se nestes marcos, a modernização da agropecuária é dividida em três períodos:

I -        Início da alteração do padrão tecnológico mediante importação de máquinas e fertilizantes (princípio da década de 50);

II -        Industrialização dos processos de produção rural a partir da instalação no país de indústrias de bens de produção e insumos para a agricultura, com a colaboração dos incentivos patrocinados pelo Estado (fins da década de 50);

III -        Ampliação e intensificação do processo de modernização com a constituição e desenvolvimento do capital financeiro na agricultura, sob o comando do grande capital, a partir da implantação do Sistema Nacional de Crédito Rural (de 1965 até o final da década de 70).

2.        Características e conseqüências da modernização da agropecuária brasileira

a)        A modernização baseou-se na adoção de um padrão tecnológico que combinava o uso intensivo da química mineral (fertilizantes e agrotóxicos), mecanização e melhoramento genético de plantas e animais. Este processo ficou conhecido como “Revolução Verde”.

        No período de 1964-79 o consumo de fertilizantes no Brasil cresceu 125%; inseticidas 234%; fungicidas 585%; herbicidas 5.414%; e o número de tratores aumentou 389%.

        A aplicação massiva desse padrão tecnológico poupador de mão-de-obra, as mudanças nas relações de trabalhistas e o caráter excludente do conjunto das políticas adotadas contribuíram para que o êxodo rural alcançasse 28 milhões de pessoas entre 1960-80. Na agropecuária paulista, no período 1964/75 houve uma redução de quase um terço do total da mão-de-obra ocupada.

b)        Esse modelo foi capaz de aumentar a produção e produtividade, particularmente das culturas destinadas à exportação (soja, cacau, laranja e outras) e daquelas que constituem matérias primas agroindustriais (cana, trigo, tomate, fumo, etc.). Se considerarmos, no entanto, as 15 principais culturas, o aumento da produtividade cresceu apenas 16,8% no período 1964-79.

        A Tabela 1 (p. 05) mostra que houve um aumento da produção de todos os produtos no período de 1962-85, mas a oferta per capita foi negativa para os produtos de consumo interno (como arroz, feijão e mandioca) e positiva para os produtos exportáveis e para a cana (insumo agroindustrial). O algodão, mesmo sendo um insumo agroindustrial, nesse período era produzido basicamente por pequenos e médios produtores. No período 1985-2000 houve menor disparidade no crescimento da produção (total e per capita), mas sem mudar significativamente a tendência do período anterior. O algodão sofreu um enorme impacto negativo da abertura comercial no início da década de 1990, sendo que somente em 2010 recuperou a produção que possuía em 1985. A laranja apresentou diversos problemas fitossanitários, queda de preços internacionais e concorrência com a cana-de-açúcar entre a década de 1990 e 2000. No período 2000-2010 a cana e a soja voltaram ter crescimento expressivo, quase dobrando a oferta per capita, enquanto arroz, feijão e mandioca tiveram redução per capita.

        Em relação à produção animal, os rebanhos de aves, bovinos e caprinos tiveram aumentos significativos no número de cabeças entre 1970 e 1980, respectivamente, 94%, 50% e 38,5%; enquanto suínos e ovinos se mantiveram praticamente estáveis. Quando se observa o período entre os Censos de 1970 e 2006, somente as aves e os bovinos (produtos dirigidos também à exportação) tiveram grande expansão do número de cabeças e os demais tiveram decréscimo ou aumentos pífios. No caso das aves o crescimento do número de cabeças foi de 556%, enquanto o rebanho bovino aumentou 118% (Tabela 2, p. 05). No período mais recente, entre 1996 e 2007, este crescimento do rebanho bovino ocorreu na região Norte (80,5%) e especialmente em alguns estados como Rondônia (114,6%) e Pará (113%), como se verifica na Tabela 3 (p. 05). Estes dados indicam claramente o movimento da pecuária bovina em direção à Amazônia, enquanto no Centro Oeste esta atividade vem sendo substituída pelas culturas de grãos em parte das áreas e consegue manter o rebanho pela derrubada de novas áreas de floresta.

c)        Todo esse processo de mudança tecnológica foi realizado sem que houvesse qualquer alteração significativa na estrutura fundiária profundamente desigual que caracteriza o meio rural brasileiro. A concentração da propriedade e posse da terra, na verdade, teve um ligeiro aumento neste período.

        Dados do IBGE mostram que metade dos estabelecimentos rurais do Brasil detinha apenas 2,5% do total das terras agrícolas em 1975 e reduziram sua participação em 1985 (2,2%). Já 5% dos maiores estabelecimentos ocupavam 68,7% da área agrícola em 1975 e representavam 69,2% em 1985.

        A manutenção da concentração fundiária e a expulsão de milhões de trabalhadores do campo provocaram a intensificação dos conflitos pela posse da terra em todo Brasil na década de 80, resultando em centenas de mortes todo ano. No início da década de 1990 diminuiu o número de mortes, mas em alguns anos houve grandes massacres como o de Corumbiara (RO) e Eldorado dos Carajás (PA). A violência atingiu mais freqüentemente posseiros, trabalhadores rurais, ocupantes e, de modo particular e intenso, as suas lideranças.

d)        A modernização trouxe também a participação da esfera financeira nas atividades da agropecuária, promovendo a integração de capitais agroindustriais e agro-comerciais; e fortaleceu a valorização especulativa do imóvel rural.

        O preço real da terra, no período 1966-81, aumentou 3,6 vezes no Estado de São Paulo. Como não houve aumento da área cultivada, este aumento indica que o capital passou a investir na terra como especulação e forma de proteção de seus ativos em uma conjuntura de inflação crescente.

...

Baixar como (para membros premium)  txt (14.3 Kb)   pdf (177 Kb)   docx (23.8 Kb)  
Continuar por mais 11 páginas »
Disponível apenas no TrabalhosGratuitos.com