O Conceito de Região
Por: Emilie Ca • 2/8/2022 • Resenha • 1.214 Palavras (5 Páginas) • 178 Visualizações
Algumas notas sobre o conceito de região
Discutir sobre o conceito de região não é uma tarefa simples devido à sua complexidade em torno da aplicação e do significado. Por isso atribuir uma forma única de definição do conceito é tratá-lo de forma reducionista e limitada. Trata-se de um fenômeno geográfico cujo o fator espacial está relacionado a noção de território e poder, ou seja, de domínio, com diversas transformações e ressignificações. Sendo assim, objeto de estudo do pesquisador para entender tais complexidades, dinâmicas e variações.
Um autor que faz uma análise do conceito de região a partir dessa perspectiva é Pedro Ricardo da Cunha Nóbrega em seu artigo “Reflexões Didáticas sobre o Conceito de Região na Geografia”. Nóbrega é doutorando em Geografia Humana pela Universidade de São Paulo (USP) e teve esse trabalho publicado na Revista Tamoios no ano de 2015. Com isso, o objetivo desse texto é realizar algumas considerações sobre o conceito de região a partir das ideias desse autor.
Nóbrega inicia seu trabalho apresentando como a complexidade do conceito de região pode ser divida em três movimentos. O primeiro trata-se do senso comum, o qual entende região a partir do critério de localização. O segundo é o movimento histórico, ou temporal e espacial, que entende que o termo região sofreu transformações em seu significado ao longo do tempo a partir de diferentes contextos em que as sociedades incorporam diferentes discursos no processo de regionalização. O terceiro movimento está ligado às relações sociais em que essas práticas capturam os processos de regionalização (NÓBREGA, 2015, p. 108-9).
Isso demonstra, para o autor, como o conceito de região possui um aspecto polissémico. São fenômenos complexos em um amplo sentido de regionalização. Evidentemente não podemos enquadrá-lo em uma definição única e universal. Exemplo dessa variedade pode ser classificada em cinco diferentes abordagens que entendem a relação entre região e os indivíduos no processo de regionalização.
A primeira é a ideia de Região Singular que tem seus estudos baseados na relação entre sociedade e natureza. Nessa abordagem a organização social daria sentido a produção cultural de cada grupo. Por isso a atenção está voltada para o que se entende como Região Natural, podendo ser classificada de determinismo ou possibilismo. No primeiro a região determinaria o grau de evolução do grupo social que está inserido. Nos segundo, entende que os seres humanos possuem a capacidade de transformar os elementos da natureza, surgindo, assim, uma região cultural. Mas, ambos tem em comum a ideia de que por meio da técnica os homens são capazes de irem além das imposições naturais. Quanto maior os vínculos com a natureza, mais rudimentares serão as técnicas utilizadas por essa sociedade.
A segundo abordagem é Região como Classe de Áreas. Nessa perspectiva a região é classificada a partir de suas semelhanças, as organizando em blocos homogêneos. Como é uma classificação que coloca em segundo plano as diferenças entre as regiões, seus estudos estão baseados em instrumentos generalizantes, isto é, métodos e técnicas quantitativas. A análise deixa de ter seu caráter concreto e adota um abstrato e intelectual. Portanto, se limita ao uso de técnicas descritivas e estatísticas.
Essa abordagem pode ser dividida em: Região Homogênea que é classificada a partir de aspectos homogêneos pelo uso da estatística; Região Funcional, em que procura entender as influências e as relações entre diferentes locais ou polos; e Região Polarizada na qual “uma área é polarizada a partir de um conjunto de atividade e agentes econômicos” (NÓBREGA, 2015, p. 117).
A terceira forma de entender o conceito é o de Região de Vivência. Nessa ideia é levada em que a partir da cultura podemos interpretar a subjetividade dos indivíduos. Em outras palavras, a região é influenciada por fatores culturais com suas relações afetivas e experiências dando sentido a região, adquirindo um caráter de vivência. Por isso a importância dos elementos na relação com o local.
Há também a Região do Capital. A partir do método histórico e da dialética, a região é estuda sob a concepção dos modos de produção. A regionalização é percebida através dos elementos socioeconômicos materializados do capitalismo. Trata-se de entender como os modos de produção interferem na forma como os espaços são organizados, ou seja, como o capitalismo se manifesta. Para Nóbrega é a relação entre “Terra – Capital – Trabalho” (NÓBREGA, 2015, p. 120).
Por fim, temos Região do Poder. É pensar como a política transforma o espaço diante de suas relações de poder. Não se baseia nos fatores econômicos, e sim nas ações do Estado, assim, como o poder no cotidiano. Isso retira o caráter naturalizado da organização espacial porque o que está em jogo para determinar as transformações são os jogos de poder.
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