O EVENTO DE LETRAMENTO EM EDUCAÇÃO CIENTÍFICA: ANÁLISE DA LEITURA IMAGÉTICA E TEXTUAL DE INFOGRÁFICO
Por: Vanessa Chaves • 29/3/2020 • Artigo • 3.352 Palavras (14 Páginas) • 167 Visualizações
EVENTO DE LETRAMENTO EM EDUCAÇÃO CIENTÍFICA: ANÁLISE DA LEITURA IMAGÉTICA E TEXTUAL DE INFOGRÁFICO
Vanessa Carine Chaves[1]
RESUMO
Compreender as variadas formas de letramento, sua construção social, seu papel empoderador e as várias feições assumidas por meio das diferentes práticas de letramento ajudam a jogar luz acerca das possibilidades na construção do conhecimento. O presente artigo descreve um evento de letramento cujo objetivo foi a construção de uma oportunidade de exercício da leitura imagética e textual de infográfico por meio do uso de sequência didática baseada na metodologia MAPA, uma construção baseada nos princípios da Aprendizagem Baseada em Problemas e utilizada pelo Programa Ciência na Escola e tendo como ponto inicial a consolidação dos saberes prévios por meio da leitura de imagens e a construção e articulação de novos saberes.
Palavras-Chave: Leitura de infográfico, Evento de letramento, Educação científica.
1 O LETRAMENTO NUMA ABORDAGEM SOCIOLÓGICA E A RELAÇÃO ENTRE PRÁTICA E EVENTO DE LETRAMENTO
Entre os diferentes itinerários constitutivos da educação básica, sobretudo no que se refere às possibilidades de construção do conhecimento, o letramento emerge, tanto no que se refere a sua forma como nas bases em que este está calcada, como uma leitura mais ampla dessas possibilidades.
O esforço em apreender o sentido do termo letramento e lhe atribuir um papel significativo parte da premissa de se entender a multiplicidade de elaborações de diferentes letramentos e da base de referência social e política ali inserida. Nesse sentido, Street (2006) levanta que exista um
modelo “ideológico” de letramento, o qual reconhece uma multiplicidade de letramentos; que o significado e os usos das práticas de letramento estão relacionados com contextos culturais específicos; e que essas práticas estão sempre associadas com relações de poder e ideologia: não são simplesmente tecnologias neutras.
Em face a existência desse modelo, falar sobre um letramento não daria conta dessa complexidade e multiplicidade, nesse sentido Street (2013) sugere a utilização dos termo “práticas de letramento” para sinalizar essas diversas constituições e seu caráter amplo, além de afirmar que engajar-se com o letramento é sempre um ato social, desde a sua gênese, o que faz com que o modo como os professores ou facilitadores e seus alunos interagem seja visto como uma prática social que afeta a natureza do letramento e as ideias sobre este, em especial dos novos educandos e sua posição nas relações de poder. Essa lógica se contrapõe a ideia de letramento como sendo uma habilidade meramente neutra, igual em qualquer lugar e a ser distribuída para todos em iguais medidas como defendida no modelo autônomo. O modelo ideológico reconhece que as decisões políticas e em educação precisam estar baseadas em julgamentos prévios sobre que letramento deve ser distribuído, e por quê.(STREET 2003).
A partir dessa lógica conceitual, é necessário estabelecer também o que seria compreendido por evento de letramento sem deixar de levar em consideração o que é evidenciado por Lira dos Santos (2011) quando coloca que os conceitos de práticas e eventos de letramento são parte de um conjunto de ferramentas conceituais que tem possibilitado compreender de forma mais acurada como se dão os usos sociais da escrita em diferentes contextos sócio-histórico e culturais.
Compreendendo essas práticas como ações de caráter mais duradouro, constitutivo de identidade, calcado em um modelo ideológico é que Street (2006) entende nesta uma base diferente para o entendimento e estabelecimento de um grau comparativo sobre as práticas nas mais diversas culturas, sua relação dicotômica nos que se refere ao entendimento entre letramento e iletramento e como isto estaria associado com uma subcultura acadêmica que enfatiza o texto ensaístico e sua identidade.
Ainda nesse sentido, Euzébio e Cerutti-Rizatti (2013) descrevem uma aparente valorização explicita dos eventos de letramento de caráter erudito como fruto da prevalência, historicamente e, sobremodo na esfera escolar, de concepções de letramento legitimadas pela cultura mainstream, em um processo de opacidade da diversidade cultural.
Na proposição da realização do presente evento de letramento, optou-se por abordar o uso de imagens, especificamente o infográfico, calcada na ideia de Lopes (2004) que evidencia que um evento pode ser desenvolvido “numa sequencia de ações e envolver apenas uma pessoa ou um grupo delas, seja para elaborar uma peça escrita ou pra ler alguma previamente produzida” . Isso posto, é necessário compreender o arcabouço no qual está inserida a abordagem proposta no evento, como essa escolha se justifica e quais suas implicações.
2 FAZER PEDAGÓGICO NA EDUCAÇÃO CIENTÍFICA DO PROGRAMA CIÊNCIA NA ESCOLA E SUAS POSSIBILIDADES DE LETRAMENTO SOCIAL
2.1 A educação científica no estado da Bahia: Princípios e bases epistemológicas e diálogos com uma educação emancipadora.
O Programa Ciência na Escola – PCE, é uma ação do governo do estado da Bahia voltada para a tessitura de um fazer pedagógico calcado no princípio da promoção da Educação Científica por meio de uma tecnologia educacional que possibilite o desenvolvimento profissional do professor e a formação do estudante crítico, criativo, autônomo e capaz de protagonizar o seu processo de aprendizagem (BAHIA, 2017), tendo como base legal aquilo que estabelece a Lei de Diretrizes e Bases da educação (BRASIL, 1996 ) no seu artigo 3º no que se refere aos seus princípios , dentre os quais figuram a “liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber” e no que está pressuposto das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica (BRASIL, 2010) no artigo 6º quando diz que
Na Educação Básica, é necessário considerar as dimensões do educar e do cuidar, em sua inseparabilidade, buscando recuperar, para a função social desse nível da educação, a sua centralidade, que é o educando, pessoa em formação na sua essência humana.
É o apanhado desses princípios que estabelecem um papel central para o educando, entendido como sujeito na construção de conhecimentos que constituam espaços de debate e ampliação da noção de pertencimento ao seu lugar de fala que aproxima o PCE da Abordagem Baseada em Problemas - ABP, que “é um método de aprendizagem centrado no aluno, que deixa o papel de receptor passivo do conhecimento e assume o lugar de protagonista de seu próprio aprendizado por meio da pesquisa” (SOUZA e DOURADO, 2015). Fruto desse diálogo com esse contexto no qual o educando está inserido e sua construção social que surge o entendimento de que este seria o percurso metodológico mais adequado ao programa, uma vez que essa
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