Os Desafios no Abastecimento Hídrico em Zonas Rurais: Estudo de Caso no Povoado Cajazeiras

Os Desafios no Abastecimento Hídrico em Zonas Rurais: Estudo de Caso no Povoado Cajazeiras, Lagarto-SE

RESUMO: A qualidade da água modifica-se de acordo com o seu armazenamento, com o percurso que a mesma cumpre para chegar ao destino final, bem como com a interferência antrópica, especialmente pelo fato de que o ser humano tem exercido grande influência na qualidade dos corpos hídricos. O presente estudo buscou analisar as formas de abastecimento hídrico no povoado Cajazeiras em Lagarto/SE, a partir da percepção dos moradores locais, além de averiguar se estes mecanismos de abastecimento são eficientes frente às necessidades da população e identificar práticas (in) sustentáveis na área em estudo. A metodologia utilizada foi do tipo quali-quantitativo, a partir da análise de depoimentos, observação direta e aplicação de entrevistas. Os resultados encontrados permitiram concluir que o sistema de abastecimento hídrico local causa impactos ambientais, desde as formas de captação de água até impactos de outras naturezas sobre o meio. Apontou ainda a ausência de políticas públicas para a melhoria das condições de vida da população e uma maior organização civil para cobrar tais direitos.

Palavras-chave: Água; Impactos; População. 

1. INTRODUÇÃO

Elemento de extrema importância para a sobrevivência humana, a água abrange uma diversidade de usos indispensáveis aos seres vivos, dentre eles destacam-se: o consumo humano, produção de energia, aquicultura, abastecimento industrial, agricultura, pecuária e mineração (REBOUÇAS et al., 2006).

A água potável engloba todos os requisitos físicos, químicos e biológicos necessários para a sobrevivência dos seres vivos. Esta pode ser distribuída às populações, com ou sem tratamento, dependendo do local de estocagem (CARVALHO et al., 2013).

Na zona rural, onde o consumo de água por família é seis vezes menor do que na zona urbana, percebe-se que esse recurso é utilizado de maneira irregular devido a alguns problemas, como períodos extensos de estiagem e a não conservação da mata ciliar (SANTOS, 2008).

Nessas áreas, além dos mecanismos de tratamento se apresentarem insuficientes ou em alguns casos inexistentes, muitas comunidades que se alocam distantes dos centros urbanos buscam fontes alternativas para abastecer suas residências e desenvolver as atividades cotidianas, a exemplo da captação em rios, chafarizes, cisternas, poços artesianos e coleta de água da chuva, dentre outros. Carvalho et al (2013, p. 1) alerta que “essas situações podem fazer com que a água seja um veículo de transmissão de doenças, pois [...] podem estar contaminados com organismos patogênicos de origem fecal e/ou com substâncias tóxicas”.

A pesquisa teve como objetivo analisar as formas de abastecimento hídrico no povoado Cajazeiras em Lagarto/SE, a partir da percepção dos moradores locais e averiguar se estes mecanismos de abastecimento são eficientes frente às necessidades da população, bem como identificar práticas (in) sustentáveis na área em estudo.

MATERIAIS E MÉTODO

A área em estudo compreende o povoado Cajazeiras, localizado a 15 km da sede municipal de Lagarto-SE, situado na região centro-sul sergipana. A comunidade comporta aproximadamente 278 habitantes, num total de 80 famílias. Sua atividade econômica gira em torno das atividades agropecuárias (FRANÇA, 2007).

O estudo é do tipo quali-quantitativo, onde todas as informações são levadas em consideração, tais como: análise de texto, observação direta da realidade, do comportamento evidente a partir de entrevistas abertas e fechadas, observação participante, análise documental, estudos de caso, dentre outros (MOREIRA, 2004).  

Na pesquisa de campo foram realizadas visitas in loco, que consistiu na observação de fatos e fenômenos, levando em consideração que esta é condição necessária para coleta de dados (LAKATOS & MARCONI, 2003). Foram realizadas 44 entrevistas semiestruturadas com moradores, a fim de compreender quais são os principais problemas no abastecimento hídrico do povoado e como os moradores analisam a posição da gestão municipal frente aos problemas elencados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise de como o espaço está organizado é condição necessária para o diagnóstico das condicionantes socioambientais presentes nos diversos ambientes de estudo (CARVALHO, 2015). 

O sistema de abastecimento e captação hídrica para consumo do povoado Cajazeiras é proveniente de três fontes: poços (Figura 1), onde 7% da população afirmaram fazer uso desse recurso; cisternas (Figura 2), computando o maior índice de uso, 84%; e lagoas cavadas (Figura 3), que somou 9% da população entrevistada (Figura 4).[pic 1]

    Figura1.  Poço de captação de água.[pic 2][pic 3]

[pic 4][pic 5]

       

                                                                                  .

        

        Figura 3. Lagoa cavada.                                    Figura 4. Captação de água para consumo.

A implantação das cisternas no povoado Cajazeiras foi motivada pelo Projeto de Combate à Pobreza Rural (PROSPERAR), que no ano de 2012 realizou a instalação de 20 cisternas circulares, fato que justifica o uso frequente deste sistema de armazenamento hídrico. Além disso, a maior parte da população relata que o uso de cisternas se torna um problema, pois a ausência de chuva em períodos de estiagem, compromete o armazenamento contínuo de água para o consumo.

Bacci et al (2006, p. 48) relatam que “os efeitos ambientais estão associados, de modo geral, às diversas fases de exploração dos bens [naturais], como à abertura da cava, (retirada da vegetação, escavações, movimentação de terra e modificação da paisagem local)”.

Quando questionados sobre a disponibilidade em termos de quantidade de água para o desenvolvimento das atividades cotidianas, 58% dos entrevistados disseram ser suficiente, 5% disseram ser insuficiente e 37% afirmaram que o abastecimento atende parcialmente.