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Pluralidade Cultural De São Francisco DoConde

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Por:   •  21/9/2014  •  3.279 Palavras (14 Páginas)  •  1.084 Visualizações

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PLURALIDADE CULTURAL DE SÃO FRANCISCO DO CONDE E SUAS INFLUÊNCIAS

FLORISVALDO J. JOVINIANO

Resumo: o presente artigo envereda por discussões inerentes as principais manifestações sócio-culturais ocorridas nas delimitações territoriais do município de São Francisco do Conde, Bahia, destacando as relações existentes entre estas práticas e conteúdo programático explicitado em sala de aula pelos docentes de Geografia.

Palavras-Chave: Cultura, São Francisco do Conde, Geografia

Abordar questões inerentes ao processo de ocupação humana no Recôncavo Baiano, em especial na cidade de São Francisco do Conde, exige uma investigação criteriosa acerca da lógica geradora da produção do espaço nesta municipalidade. Situada no centro da região sedimentar compreendida entre as falhas geológicas de Salvador e Maragogipe, a localidade teve originalmente a função de entreposto comercial entre a capital da colônia e as vastas áreas de canaviais que circundavam as terras margeadas pela Baía de Todos os Santos.

Com a decadência da produção açucareira, São Francisco do Conde vivera momentos de ostracismo, embora tenha mantido preservadas várias de suas manifestações culturais relevantes oriundas da cultura africana. Com a descoberta de petróleo no Recôncavo Baiano e a instalação de uma refinaria dentro dos limites territoriais do município, a cidade se revigorara, passando a ocupar-se em preservar uma riqueza patrimonial e cultural singular.

Ao se tratar de cultura, convém resgatar o célebre conceito do Edward Tylor (1988), que destacava a terminologia como um complexo que inclui conhecimento, crenças, arte, morais, leis, costumes e outras aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como membro da sociedade. Neste sentido, é possível incorporar as variadas manifestações ocorridas em São Francisco do Conde como fruto de um resgate de vestígios coloniais deixados pelos portugueses, indios e africanos, sob os quais se incorporaram novos formatos, de modo a se estabelecer uma tradição reinventada.

As principais manifestações culturais de São Francisco do Conde estão associadas a um ciclo de festas inreverente, oriundas de preceitos e configurações da fé católica, a exemplo dos festejos de São João, da Queima de Judas e da festa de São Benedito. Ademais, mesmo a mais inreverente das folias, também muito comemorada na cidade, está atrelada a um calendário católico.

A pluralidade cultural deve ser compreendida como a extensão de uma conquista da cidadania, a partir do instante em que diversas manifestações podem revelar-se enquanto sujeitas participantes da sociedade sem as restrições impostas por regimes de exceção. Partindo deste princípio, é importante não apenas o reconhecimento da riqueza de valores em razão da irreversível expansão das tecnologias da informação, que transformaram a Terra em uma “aldeia global”, na qual as interações são cada vez mais dinâmicas e intensas a despeito das distâncias no plano físico.

O reconhecimento da riqueza cultural produzida pela manifestação da diversidade também perpassa por uma nova ética, na qual se destaca a responsabilidade sócio-ambiental e a valorização dos ritos e processos locais, sobretudo como prova da resistência da saga dos povos Afro descendentes em dar vivacidade a suas raízes e princípios.

Com a validação deste movimento de valorização da cultura local, diversos grupos perceberam a pertinência do momento de abandono do ostracismo e começaram a novamente entrar em “ebulição”. É o caso típico das manifestações ocorridas em São Francisco do Conde, pequeno e próspero município situado na região metropolitana de Salvador, às margens da Baía de Todos os Santos.

Em São Francisco do Conde, de acordo com Santo (1998), diferentes manifestações culturais podem ser verificadas, tais como Maculelê de Santo Amaro, Capoeira, Samba da Pitangueira, Marujada, Queima de Judas, Samba de Roda, Mandu, dentre outras, todas remanescentes de antigos formatos de festas coloniais, resultantes de um processo de miscigenação dos três principais grupos étnicos que se perpetuaram no Brasil: brancos, de origem lusitana, negros, oriundos da África Subsaariana e os índios, nativos da terra.

AS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS DE SÃO FRANCISCO DO CONDE

São Francisco do conde amargou um longo período de ostracismo com a decadência da produção canavieira ainda no período do Brasil Colônia. Este estado de abandono generalizado começara a mudar a partir da descoberta de petróleo no final da década de 40. O município voltara a se estabelecer a partir da tecnificação do espaço, quando foi propiciada a instalação da refinaria Landulfo Alves em Mataripe, em 1950

Desde então, com o apoio da companhia estatal Petrobrás e da prefeitura municipal, enriquecida com o royalites gerados pelo “ouro negro”, passou-se a apoiar o resgate de diversas tradições culturais remanescente do período colonial e que já estavam se perdendo da memória do povo local, devido ao falecimento de seus principais incentivadores abnegados ou pelo desinteresse da juventude, que prefere ocupar-se nos momentos de lazer com outras atividades como esportes, acesso á rede de computadores ou uma simples diversão diante de um aparelho de televisão.

Contudo, os esforços de preservação têm gerado bons resultados, a exemplo do resgate do Mandu, importante manifestação cultural nascida no final do século XIX oriunda de costumes derivados de cultos direcionados ás divindades do candomblé, uma religião discriminada ao longo de séculos pelos credos hegemônicos da Bahia, sobretudo por divulgar práticas ancestralizadas de antigos grupos de escravos.

Apesar desta perseguição, o candomblé e as práticas derivadas desta religião merecem tratamento diferenciado, por se tratarem não somente de um credo, mas por tornarem, ao longo de século um espaço de resistência e preservação das tradições baianas.

Segundo Souza Carreiro (apud Santo, 1998), as principais manifestações do mandu em São Francisco do Conde ocorriam no terceiro domingo de dezembro, em honra da “rainha dos grandes rios”. Yemanjá, na praia do Fortinho. Posteriormente, começaram a ser vistos também em festas católica e no carnaval local.

Segundo Santo (1998), não existem catalogados maiores estudos sobre a ocorrência dos mandus em São Francisco do Conde. O que há são inúmeros relatos presentes nas lendas transmitidas por populares, fruto de um repositório ainda hoje presentes nas comunidades locais de terreiros de candomblé. Portanto, o município ainda carece de uma investigação cientifica mais apurada acerca desta manifestação de suma importância nas tradições populares da Bahia.

Outra tradição popular muito festejada em São Francisco do conde é a marujada. Oriunda de remontagens do passado de potência colonial lusitana, os moradores deste município recriam um bailado popular, no qual dramatizam as grandes lutas portuguesas e suas conquistas marítimas. Fusão de várias tradições lusas, estas encenações comemoram o triunfo do catolicismo sobre os mouros mulçumanos que haviam dominado a Península Ibérica por século até serem expulsos pelas milícias de vários reinos cristãos.

As vestimentas se assemelham a trajes de marujo em cetim azul e vermelho. Busca-se neste instante remontar um passado glorioso, mostrando os grandes feitos náuticos de nossos colonizadores. Trata-se de uma manifestação popular singular, um dos raros instantes que o homem simples de São Francisco do Conde tem a oportunidade de encarnar as personalidades como o general, o Capitão Inglês, o Rei Mouro, o Padre, o Capitão-de-Mar-e-Guerra, o Infante de Marrocos, Cristãos e Mouros. Neste momento, marisqueiras, agentes de limpeza, sapateiro e todas os demais profissionais “não-valorizados” sentem-se o centro das atenções.

A marujada normalmente é encenada na festa em homenagem a São Benedito. Esta tradição remota a uma tradição que, segundo Santos (1998), teve sua origem em 1798, quando os senhores resolveram aceitar ao pedido de seus escravos para a organização de uma irmandade e foi realizada a primeira festa em louvor de São Benedito, os negros em sinal de reconhecimento, incorporados,foram dançar de casa em casa dos seus benfeitores.

A dança preferida para representar a Marujada, na época de São Benedito, é o retumbão, cuja performance, em ritmo de tambor africano, ao mesmo tempo que lembra o lundu de outras regiões do Brasil, se distingue devido a maior preocupação com os passos coreógrafos, sendo mais formalístico.

Outra tradição muito admirada pelos moradores de São Francisco do Conde é o maculelê, manifestação de origem africana, trazida para o Brasil por escravos Malês no século XVIII. No continente Africano, era usada como luta. Mais tarde, passara a ser utilizada pelos negros como mecanismo de defesa pessoal. O maculelê é um misto de dança e luta, com cadência de movimentos. Os participantes utilizavam pedaços de madeiras roliças,que variavam de 50 a 70 centímetros de comprimento.

A expressão maculelê é derivada de junção de dois termos: macu, significa forma advina de Macua, região de etnia banto, na costa africana. Lelê é sinônimo de madeira roliça. No recôncavo, esta manifestação foi reorganizada por um “preto velho” chamado “Tio Anjo”, pertencente ao grupo Malês. Sua sobrevivência ao longo de anos é acreditada aos “mascotes”, lideranças como Mestre Popó, personagem conhecida tanto em São Francisco do Conde quanto a vizinha Santo Amaro da Purificação, locais onde esta manifestação se constitui em grandes festa folclórica conservada com características originais.

Uma das mais genuínas tradições de são Francisco do conde é o samba da Pitangueira. Expressão da cultura popular do Recôncavo Baiano, esta modalidade tem como principal características uma variação coreográfica peculiar, normalmente marcada por passos não desenvolvidos, amarrados e concatenados com um ritmo mais cadenciado, aspectos que diferenciam esta variante do samba-de-roda que embala os festejos da vizinha Santo Amaro da Purificação.

A disposição dos participantes do samba da Pitangueira é organizada em formato de semi-circulo voltado para uma pequena orquestra de dois pandeiros, uma viola e um tamborim. Em um dos flancos ficam os instrumentistas chamados “tiradores de samba” que dão o ritmo inicial ás músicas e do lado oposto se posiciona os demais participantes, conhecidos como “relativos”.

O samba tem inicio quando os interpretes do “relativo” dão sua “resposta”. Nesta ocasião, um homem ou um mulher se dirige ao centro do semi-circulo com o intuito de cumprimentar os tocadores. Em seguida, baila na área em direção ao ponto de origem.

Outra manifestação popular comum na Baia e também em São Francisco do Conde é a Queima de Judas. Tradicional festejo de calendário católico, esta manifestação ocorre sempre no final da quaresma, após os atos simbólicos da paixão e morte de Jesus Cristo. Sua origem simboliza o merecido castigo ao traidor do messias, simbolizado em um boneco produzido e adereçado artesanalmente.

Os bonecos são confeccionados com tecidos e enchidos com pedaços de pano e palha. Dentro da cabeça e barriga são colocados fogos de artifício. Para produzir mais efeito, coloca-se em um poste ou forquilha, nos quais é possível pendurá-lo para que todos os que estejam assistindo a queima posam visualizá-lo. Antes de conhecer a figura simbólica de Judas a arder no fogo do inferno, os organizadores lêem seu testamento, normalmente um conjunto de sátiras direcionadas á autoridade pública e a membros da comunidade local.

Por fim, convém destacar a capoeira, uma manifestação cultural praticada originalmente com destreza por negros trazidos de Angola. No período colonial, a capoeira era uma forma de luta na qual o escravo fugido se escondia na vegetação rasteira para não ser apanhado pelos “capitais do mato”. Uma vez descobertos, utilizavam este artifício para se desvencilhar de seus perseguidores.

A capoeira espalhou-se pelo Brasil como eficiente instrumento que as camadas de baixa renda possuam para se defender e atacar seus oponentes combinando a força e agilidade muscular de pernas e braços. A popularização desta manifestação cultural rapidamente passara a ser alvo de preocupação das autoridades, preocupadas com a manutenção dos status quo. Por conta disso, uma série de dispositivos legais foram utilizados para reprimi-la. Até 1880, segundo Santo (1998), o Código Penal Brasileiro designava punições severas como castigos fiscos e desterro a seus praticantes.

Hoje, em São Francisco do Conde, manifestam-se duas ramificações da capoeira: a Angola , que preserva as tradições de origem africana, assim como os passos e golpes oriundos da costa sul-atlântica africana e a Regional, manifestação que incorporou elementos das artes marciais como jiu-jitsu, pugilismo e judô.

Outra manifestação cultural de grande relevância em São Francisco do Conde é o Capabode, cuja origem, segundo a tradição popular, remota de um tempo no qual predominava a escravidão como relação social de trabalho. Trazida para a Bahia por negros bantos angolanos durante o período colonial, esta tradição se espalhou pelo Recôncavo, em particular nas áreas onde a cultura agrícola dominante era a cana-de-açúcar.

Em São Francisco do Conde, a tradição do Capabode permanece viva no imaginário popular, sobretudo quando relatada pelos mais antigos habitantes do município. Conta a lenda que haviam grupos de escravos que saiam das fazendas onde estavam confinados com o intuito de pegar animais para serem sacrificados. Dentre estes animais, destaca-se o bode, cujos testículos eram retirados pelos negros para rituais religiosos.

De acordo com Santo (1998), estes escravos costumavam utilizar cabeças de animais com o intuito de esconder o rosto e não revelar suas verdadeiras identidades. Posteriormente, estes negros passariam a utilizar uma indumentária própria, confeccionada especialmente para o Capabode. Fazia parte destas vestes uma máscara aterrorizante, usada também para assustar e laçar os animais.

Uma vez capturados, estes animais eram sangrados e o produto deste ato era posto em uma grande cabaça presa à cintura com um pequeno furo, conhecida à época como bocapiu. As ações deste grupo não se limitavam a sangrar animais. Eles também saqueavam armazéns e algumas propriedades, daí a utilização do bocapiu para armazenar o fruto do roubo.

Esta manifestação reforça o preconceito vigente no período colonial contra os escravos, frequentemente acusados de diversos crimes como roubo, furto e diversos outros delitos, normalmente sem direito à uma defesa prévia que pudesse auxiliá-lo neste difícil momento. Não raros eram condenados a castigos físicos cruéis, que por vezes resultavam na morte do penalizado.

A DIVERSIDADE CULTURAL NAS ESCOLAS SÃO FRANCISCANAS

Após uma apresentação das ricas manifestações culturais em São Francisco do Conde, convém investigar como está sendo realizada a abordagem deste conteúdo nas escolas públicas municipais. Para tanto, foram entrevistados os professores de Geografia do ensino fundamental das escolas Ana Tourinho e Luiz Viana Neto.

A maior parte dos discursos compromete-se com a importância de se fomentar um debate em sala de aula envolvendo a questão da cultura local. Entretanto, nenhum deles aponta de forma direta de que forma trabalham esta temática em sua prática pedagógica. Ademais, em nenhum dos depoimentos colhidos, sequer foi feita uma citação relacionada a quaisquer manifestações culturais realizadas no município de São Francisco do Conde.

Este contexto aparenta coadunar com uma realidade escolar repleta de distorções, na qual a prática pedagógica está concatenada a um currículo ainda voltado para um período no qual os professores detinham, com um certo conforto, o monopólio do saber e os alunos não dispunham de meios diferenciados e ágeis para obter informações relevantes para sua formação. Hoje, ao invés de aglutinar estes saberes dispostos em outras fontes e aproveitá-los para o fomento de atividades pedagógicas, as instituições de ensino por vezes se recusam a aceitar estas contribuições, de tamanha relevância para o estímulo ao aprendizado de seus educandos.

Ao se distanciar da realidade vivida ou notada pelo aluno em seus diferentes ambientes de leitura da realidade, como a internet, rádio e a televisão, a escola cria um contexto com o qual seu público alvo não se identifica, pois nesta conjuntura não estão contemplados seus valores ou suas necessidades mais imediatas. No caso de São Francisco do Conde, há uma relação intimista dos educandos com as manifestações culturais populares. Entretanto, como esta realidade não é contemplada no âmbito escolar, os alunos não se sentem acolhidos em seus anseios pelos recintos escolares.

O currículo, de acordo com educadores renomados como Rubem Alves (ALVES, 2004), não leva em consideração o que os alunos desejam aprender. Segundo ele, a expressão grade curricular mais parece ter saído de um ambiente de cárcere, tamanha é a forma anti-democrática com os conteúdos são eleitos pelos docentes. Os professores costumam destacar o que será ministrado sem, ao menos, voltarem-se para responder uma simples questão: por que você ensina o que você ensina ?

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A cultura adquire formas diversas através do tempo e do espaço. Essa diversidade se manifesta na originalidade e na pluralidade de identidades que caracterizam os grupos e as sociedades que compõem a humanidade. Fonte de intercâmbios, de inovação e de criatividade, a diversidade cultural é tão necessária para o gênero humano, quanto a diversidade biológica o é para a natureza. Nesse sentido, constitui o patrimônio comum da humanidade e deve ser reconhecida e consolidada em beneficio das gerações presentes e futuras.

Nos últimos anos, várias entidades de natureza pública, privada e filantrópica, além de organismos internacionais, têm se interessado em difundir o patrimônio cultural da humanidade. A UNESCO , por exemplo, busca desenvolver a cooperação internacional para preservar e estimular a diversidade de culturas descrito pela Declaração Universal da Diversidade Cultural.

Em 2005, a UNESCO propôs um projeto de Convenção sobre o tema, uma norma internacional para assegurar o cumprimento desse propósito, e vem trabalhando na elaboração conceitos, metas e políticas em favor da diversidade cultural, com ênfase no pluralismo e no diálogo entre as culturas e os diversos credos e nas políticas de desenvolvimento.

No Brasil, o Ministério da Cultura, apesar das dificuldades geradas pelo severo contingenciamento dos recursos nos últimos anos, tem atuado de forma permanente no intuito de estimular as expressões das raízes culturais brasileiras e divulgá-las em âmbito nacional. Muitas parcerias com órgãos públicos e privados surgiram na intensão de fortalecer essas iniciativas, particularmente as voltadas para a ampliação do conhecimento da nação a respeito das muitas facetas de nossa cultura.

Entretanto, o alcance destas ações ainda está restrito a áreas nas quais já existem circuitos culturais consolidados e estruturas técnicas essenciais para a atividade cultural, como teatros, cinemas, galerias de arte, etc. As manifestações culturais populares, como as que ocorrem no município de São Francisco do Conde, são relegadas a um segundo plano. Normalmente, elas recebem apoio apenas das comunidades locais e do poder público municipal para se manifestarem.

Será necessário se implementar, nos próximos anos, políticas públicas voltadas para conscientizar as novas gerações da importância da cultura através da escola. Neste sentido, o professor exerce um papel de destaque. Destes desafios, um dos mais significativos é a construção de uma estrutura curricular capaz de contemplar os anseios dos educandos acerca da diversidade cultural, sobretudo no sentido de fazer com que os discentes se identifiquem com a escola e suas propostas, bem como percebam que este espaço fora concebido como local não somente de fomento intelectual, mas também como recinto no qual é possível compartilhar experiências saudáveis e essenciais para a formação do caráter.

Sem se identificar com as alternativas de cunho cultural que lhes são oferecidas ou possibilitadas, os alunos tendem a encaminhar para a apatia e a inércia em suas ações. A escola, neste caso, perde o brilho, ou melhor, o dinamismo fundamental para desencadear seus projetos com eficácia. É preciso garantir autonomia para os educandos, sem, contudo, deixar de atribuir-lhes responsabilidades.

Ademais, a Geografia necessita cumprir seu papel no tocante à apresentação da realidade cultural diversificada disposta em diferentes espacialidades. Esta situação se deve, sobretudo, a problemas de natureza epistemológica no âmbito desta ciência, na qual alguns especialistas defendiam que as questões culturais eram pertinentes à ciência geográfica enquanto outros acreditavam não haver uma fundamentação teórica que as sustentassem nesta área. Estes últimos defendiam que o melhor a se fazer é entregá-las a outros ramos do conhecimento, como a antropologia.

Por fim, convém destacar a importância dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) enquanto instrumentos norteadores da prática pedagógica concernente a manifestações culturais. De acordo com os PCN’s, a exposição pública da diversidade cultural não somente expõe a riqueza das tradições enraizadas em diferentes partes do território nacional como também fomenta a reflexão em torno das principais mazelas brasileiras, nas quais se destaca, no âmbito da Geografia, a desigualdade social e a luta da população de baixa renda pelo atendimento pleno dos direitos da cidadania.

REFERÊNCIAS

BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais: apresentação dos temas transversais, Brasília: MEC/SEF, 1998, p. 117.

SANTO, José Jorge do Espírito. São Francisco do Conde: resgate de uma riqueza cultural, São Francisco do Conde: Manual informática, 1998, p. 51.

TYLOR, Edward Burnett, Cultura Primitiva, 3ª ed., Lisboa: ULHT, 1988, p. 20.

ALVES, Rubem. Aprender para quê ?. Época, nº 344, Rio de Janeiro: Globo, 20 dez. 2004, p. 31-5.

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