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Racionalidade E A Origem Da Civilização Ocidental

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Por:   •  18/11/2013  •  4.201 Palavras (17 Páginas)  •  711 Visualizações

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1. Introdução

Tornou-se axiomático pensar que a nossa civilização fundamentado em princípios racionais e na racionalidade surgiu com o progresso técnico e científico iniciada com os gregos, pois foram eles que criaram uma extensa gama de conhecimentos, como também os grandes fundamentos do pensamento filosófico e do pensamento político. Contudo, essa tese tornou-se problemática. Com o avanço dos estudos e das novas descobertas na Mesopotâmia nesses últimos cem anos, tornou-se possível demonstrar que aquela civilização atingiu um grande desenvolvimento racional e uma grande racionalidade técnica, muito antes da civilização grega ter surgido. A partir deste diagnóstico, o objetivo deste ensaio é investigar o advento da racionalidade. Trata-se de demonstrar que a racionalidade técnica do ocidente tem sua origem na Mesopotâmia.

2. O sentido e o significado da civilização ocidental

Se a nossa civilização ocidental tem uma essência, essa deve ser a condição de sua existência, sem a qual não existiria. No sentido aristotélico, a essência é algo sem o qual aquilo não pode ser o que é. É o que dá identidade a um ser, e sem a qual aquele ser não pode ser reconhecido como sendo ele mesmo. A partir disso, a nossa civilização tem um lado formal, tem uma forma específica de ser e de se desdobrar naquilo que é. O que caracteriza a nossa civilização, em sua forma específica e singular, em sua forma material e espiritual, em sua significação histórica e teórica, é a racionalidade. A racionalidade é a essência do mundo em que vivemos.

A razão é a faculdade que calcula, mede, julga, deduz, compara, relaciona e coordena os meios com os fins, ou seja, é a faculdade que possibilita o “funcionamento abstrato do mecanismo de pensamento” (HORKHEIMER, 1976, p.11). Essa faculdade se tornou em sua evolução um instrumento formal, que foi usado em todos os empreendimentos humanos. A razão não é apenas a faculdade interior do homem, mas ela se personificou nos próprios objetos deste mundo. A razão tornou-se racionalidade: ralação calculada entre meios e fins. A ação racional com relação a fins baseia-se no fato de que o indivíduo orienta sua ação levando em conta os fins, os meios e as consequências implicadas nela. A etimologia do termo vem do latim rationem, que significa cálculo, conta, medida, regra. A racionalidade sendo ação calculada está presente no aparelho produtivo, no aparelho tecnológico e cientifico, nas instituições políticas, no hospital, na escola, no trânsito e na mídia. A operação, a norma, a coordenação, a ordem, o sistema, o cálculo, a busca da unidade define a racionalidade em sua efetividade.

Tornou-se axiomático pensar que a civilização ocidental surgiu com o desenvolvimento do conhecimento racional iniciado com os gregos. Há uma crença generalizada entre pensadores modernos e contemporâneos de que a razão e a racionalidade adquirem valor universal e significado no moderno ocidente, e que se desenvolveram a partir das ciências, desde as cosmologias pré-socráticas e da lógica aristotélicas.

Weber em seu livro “Ética protestante e o espírito do capitalismo” afirma que a racionalização do mundo ocidental se desenvolveu principalmente pelas ciências ocidentais em suas possibilidades técnicas. “Essa racionalização intelectualista (…) devemos à ciência e à técnica-científica” (WEBER, 1993, p.30). O desenvolvimento de uma ciência fundamentada em princípios racionais e no método científico é um produto do ocidente nascida com os gregos. A astronomia com fundamentos matemáticos, a geometria com a prova racional, a medicina com fundamentos biológicos e bioquímicos, as criações da mecânica e da física são produtos do moderno ocidente. Esse processo de racionalização das ciências ocidentais atingiu todas as esferas da vida social, tornando o “mundo desencantado”.

Adorno e Horkheimer também compartilham dessa opinião. No livro “Dialético do Esclarecimento” eles analisaram o conceito de razão em seu desdobramento dialético, que em sua evolução buscava se emancipar da mitologia e da metafísica e que a conduziria a sua autonomia e a sua autodeterminação. Através do conhecimento racional, que se iniciou com os Gregos, a humanidade procurou sair da obscuridade religiosa, da superstição e do medo das forças da natureza. “As cosmologias pré-socráticas fixam o instante de transição” (ADORNO; HORKHEIMER, 1985, p.19). A partir disso, o Logos tornou-se poder e instrumento que foi utilizado para dominar os homens e a natureza. A razão tornou-se racionalidade, tornou-se relação calculada entre meios e fins, o cálculo define a racionalidade pela eficácia e pela capacidade de classificar ordenar, dispor e dominar os homens e a natureza.

É natural pensar que os Gregos criaram a civilização ocidental, pois foram eles que criaram uma extensa gama de conhecimentos científicos, como também os grandes fundamentos do pensamento filosófico e do pensamento político. Contudo, será que este diagnóstico é correto?

Do nosso ponto de vista, a nossa civilização, fundamentada na razão e na racionalidade, não se desenvolveu a partir dos conhecimentos técnicos e científicos do ocidente, mas se desenvolveu a partir da evolução do comércio no oriente, em particular na região da Mesopotâmia, no Egito e Vale do Indo. Trata-se dessa hipótese que procuramos demonstrar.

3. O comércio impulsiona a civilização.

A nossa civilização entendida como os modos de existir, o cotidiano físico e simbólico, e o imaginário dos homens surgiu com o comércio. A razão e a racionalidade da civilização ocidental foi impulsionadas pelo comércio e se impuseram na antiguidade por volta de 3000 a.C como fenômenos ligados à própria organização dos indivíduos para viver em sociedade. Foi a racionalidade do comércio que fomentou o sujeito racional, autônomo e civilizado.

O comércio surge na antiguidade como um instrumento para regularizar e normatizar a vida dos indivíduos. Os conceitos e práticas das ciências, tais como classificar, ordenar, relacionar, separar, discernir, comparar, prever são conceitos das próprias práticas comerciais. Esses conceitos surgiram na história das ciências e da filosofia como reflexo das próprias relações materiais de existência dos homens, nas práticas de intercâmbio material e intelectual, desde as primeiras sociedades. A utilização técnica dos conhecimentos científicos, de extrema importância para as civilizações, foi certamente encorajada por condições econômicas. As comunidades antigas

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