Resenha: A Natureza Do Espaço
Casos: Resenha: A Natureza Do Espaço. Pesquise 862.000+ trabalhos acadêmicosPor: Carla____ • 21/9/2014 • 872 Palavras (4 Páginas) • 911 Visualizações
RESENHA
A NATUREZA DO ESPAÇO. Técnica e tempo, razão e emoção.
Milton Santos
Editora Hucitec, São Paulo, 1996
Quando lança em 1978 Por Uma Geografia Nova (da crítica da geografia a
uma geografia crítica), Milton Santos proclama a necessidade de uma teoria social
na Geografia. Em 1996, oferece-nos essa teoria social em A Natureza do Espaço
(técnica e tempo. razão e emoção). Nesses 18 anos, toda uma progressão em
livros, coletâneas, ensaios que avançam esse intuito: Por uma Geografia Nova se
desdobra no Metamorfoses do Espaço Habitado (fundamentos teóricos e metodológicos
da geografia), de 1988, já antes passando pelo Pensando o Espaço do
Homem, de 1982, e Espaço & Método, de 1985, e desemboca no Técnica, Espaço,
Tempo (globalização e meio técnico-científico e informacional), de 1994, que
antecipa A Natureza da Geografia.
Com risco de reduzi-la ao essencial, não erraria em dizer que a teoria do espaço
de Milton Santos fundamentalmente é uma teoria do lugar.
Por Uma Geografia Nova contém os elementos do corpus que se oferece desenvolvido
em A Natureza do Espaço. O espaço como histórico produzido, instância
estrutural da totalidade, mediação determinada-determinante da história, são noções
básicas do livro de 1978, que se robustecem e ganham o estatuto do edifício teórico
no livro de 1996. A novidade corre por conta do papel crescente que a técnica, mas,
sobretudo, o território, na sua relação ontológica com o espaço (o território é entendido
como uma dimensão do espaço) e interativa com a técnica, vão adquirir na trajetória
da teoria do espaço enquanto uma teoria social de Milton Santos.
Por outro lado, a teoria social exposta em A Natureza do Espaço é uma teoria da
ação. O espaço é o resultado da ação e objeto articulados, potência e ato dialetica-
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mente integrados num sistema (palavra perigosa). Não se trata de uma teoria da
ação pura. A ação exprime-se e se realiza no objeto. O objeto tem autonomia de
existência, mas não tem autonomia de significação. O que ele é, vem das diferentes
relações que mantém com o todo. A ação é quem lhe dá essa ligação e sentido, dado
o seu caráter de intencionalidade, uma essencialidade portada pela técnica na forma
da divisão do trabalho e que liga ação e objeto numa relação de sujeito-objeto.
Condição epistêmica, Milton Santos reolha por conseguinte a técnica, ao tempo
que geograficamente a reinventa. Mais que artefato ou mediação na relação
homem-meio, a técnica é em Milton Santos o processo constitutivo do território,
técnica e território vivendo uma relação recíproca de constituição. Não há território
sem ação técnica, e não há técnica fora de um território. Daí que a técnica só exista
como meio-técnico.
A inflexão dialética é o movimento de diversificação da natureza, processo
mediante o qual a natureza se renova pela modificação dos seus aspectos, renovando
sua identidade, e à qual o homem superpõe a divisão do trabalho (natureza
natural e natureza socializada do livro de 1978, reinventadas no de 1996). A totalidade
tão buscada pelo geógrafo é não mais então que uma dialética de diversidadeunidade,
onde cada modo de diversificação sucede um outro modo de diversificação,
a diversidade se resolvendo na unidade e a unidade se reabrindo na diversidade,
numa dialética de trocas de posição constantes sobre a qual a ação humana
intervém e cujo resultado é o lugar.
O lugar é, assim, o ponto do recorte territorial por cujo intermédio a pluralidade
total dos elementos encontra sua síntese. E sobre cujo suporte a técnica determinase
como território e o território determina-se como técnica, território e técnica integralizando-
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