Resenha Crítica Montanhas da Lua / Geografia: Isso Serve para Fazer a Guerra
Por: Sarah Campos • 30/9/2018 • Resenha • 784 Palavras (4 Páginas) • 1.400 Visualizações
LACOSTE, Yves: A geografia: Isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra - capítulo 1: Uma disciplina simplória e enfadonha? -, 1985; Tradução: Maria Cecília Franca/SP- 1988.
Bob Rafelson: Mountains of the moon, 1990. Carolco Pictures, IndieProd Company Productions, Zephyr Films Ltd; EUA.
Sarah Campos Lins
Estudante de Geografia - Bacharelado da 1º fase.
A análise de ambas as obras promove a importância do conhecimento geográfico, a maneira de como o Estado utiliza esse conhecimento (tanto de forma social, política e econômica), além de afirmar o poder que essa ciência tem de agir sobre determinada circunstância, seja ela social ou pessoal.
Lacoste em seu livro A geografia: Isso serve, em primeiro lugar, para fazer a guerra, defende que a geografia é mais do que uma matéria que se aprende na escola onde seus conteúdos são ensinados de forma totalmente decorativa e inútil quando aplicadas no dia a dia social. Ele mostra que em sua época, o debate sobre essa geografia escolar esconde de forma efetiva seu verdadeiro poder -que é utilizado pelo Estado de forma militar- pois nesse tempo a geografia ainda estava em fase de consolidação como ciência. Ele retrata o quão importante o conhecimento geográfico é de fato, pois ele se torna um instrumento temível de poder, se transformando num saber estratégico exposto em cartas, sendo competente principalmente aos donos dos aparelhos de Estado. Ou seja, devido ao conhecimento geográfico é possível a organização de territórios, controle dos homens que dependem do Estado e dos recursos em que nele estão, sua principal consequência é a ocorrência de guerras.
No filme de Bob Rafelson Mountains of the moon, o diretor demonstra de maneira exemplar como funciona a geografia determinada por Lacoste. Durante o século XIX, os exploradores e geógrafos Richard Francis Burton (Patrick Bergin) e John Hanning Speke (Iain Glen) financiados pela Sociedade Real Geográfica, passam por situações de dificuldade no continente africano em busca do objetivo que mudaria suas vidas: A nascente do rio Nilo, conhecido na época como o maior rio do mundo. Devido ao conhecimento geográfico e de instrumentos que facilitaram essa aventura em busca da nascente desse rio – como a interpretação de mapas, juntamente com a utilização e interpretação de coordenadas, bússolas indicando o caminho a seguir, determinando onde era norte ou sul, e termômetros para medir a altitude de cada local encontrado - foi possível fazer o reconhecimento de novas áreas e povos inexplorados, ajudando com o processo de roedura africana e também sendo importantíssimo para a expansão do imperialismo europeu, mais especificamente o império inglês.
Retomando a ideia de Lacoste que a geografia serve para fazer a guerra, existem acontecimentos durante o filme que comprovam sua afirmação: com o essencial conhecimento territorial do primeiro povo nativo africano que apareceu, quando o geógrafo Speke se afastou de sua equipe para caçar, percebeu que esse povo estava nesse território e como houve essa “invasão” do geógrafo, eles atacaram a sua equipe de exploradores no começo do filme; também como ocorre quando os exploradores adentram em território da tribo do rei *Ngola, onde os exploradores acabam sendo levados como prisioneiros pelos guerreiros do rei. E até mesmo dentre os membros da Sociedade Real Geográfica, quando o geógrafo Lowry confessa a seu pai que seu interesse no geógrafo Speke é somente comercial por ele ser de família inglesa, e devido ao sucesso (comprovado anos mais tarde) da expedição dos geógrafos Burton e Speke, Lowry mente sobre o relatório de Burton para Speke, podendo assim causar o desentendimento entre os exploradores e afastá-lo de seu companheiro somente para obtenção de fama.
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