Uma análise da teoria do Estado Isolado de Von Thunen
Por: Jaqueline Amorim • 23/5/2017 • Trabalho acadêmico • 1.610 Palavras (7 Páginas) • 670 Visualizações
Uma análise da teoria do Estado Isolado de Von Thunen
Jaqueline Amorim
A teoria do Estado Isolado é a mais antiga entre as teorias de localização, ele emergiu em uma realidade bem elementar da economia europeia do início do século XIX. A execução do processo de industrialização concentrava-se em um território inglês, o restante da Europa ainda tinha a agricultura como uma das principais atividades econômicas, mesmo que existissem fortes resquícios de atividades industriais e de desenvolvimento comercial em alguns países da Europa.
Surgida em 1826, a teoria do Estado Isolado idealiza um estado sem qualquer contato com o exterior e que sua atividade é desenvolvida internamente. Para analisar os aspectos espaciais. Para analisar os aspectos espaciais, Von Thuner construiu o modelo da planície isotrópica, ou seja, uma planície onde não existiam grandes acidentes geográficas, as rodovias sejam bem pavimentadas e as cidades bem localizadas. Sua análise baseou-se apenas no fornecimento de produtos agrícolas às cidades. Desse modo, ele dividiu esse Estado em círculos concêntricos, onde o centro consumidor, no caso uma grande cidade, seria o pólo atrativo para a venda dos produtos agrícolas. Para isso cada círculo representaria um determinado produto agrícola e sua localização está condicionada a natureza do produto e do custo de deslocamento (CESAD, 201_).
Os produtos agrícolas de consumo mais imediato teriam que estar mais próximos do centro consumidor e os menos perecíveis poderiam estar localizados mais distantes desse centro consumidor. Produtos da horticultura, por serem perecíveis e necessárias ao consumo imediato, suas áreas de produção teriam que estar bem próximos para que não houvesse perda do produto. Sua maior distância poderia comprometer o produto, além de aumentar os custos de transporte. Já produtos oriundos da pecuária, como a da produção da carne bovina, a distância poderia ser maior, já que essa atividade requer maiores áreas para a criação do gado e o produto ainda suportar o tempo de transporte até a cidade consumidora (CESAD,201_).
A aplicação dessa teoria pode ser observada na Costa Rica no início do século XX. Costa Rica, um dos menores países latino-americanos, nesse período, estava separada de seus vizinhos por grandes e também escassamente povoadas ou inabitadas florestas e tenha comunicação terrestre com o mundo exterior. Até o advento do aeroplano e a construção da Estrada Pan Americana, Costa Rica só podia ser alcançada por via marítima e era sem dúvida, uma espécie de Estado Isolado. A população do país está concentrada em pequena área no centro do Estado, onde, em torno da capital, São José, na chamada Meseta Central, se desenvolveram faixas econômicas que não podem ser compreendidas ou interpretadas sem o conhecimento da teoria de Von Thuner. São José, a capital do país, fica a uma altitude de 1 170 metros no lado sudeste da Meseta Central Ocidental, mais ou menos no centro das duas Mesetas em conjunto. É o centro econômico, político e cultural do Estado e, sem comparação, a maior cidade do país (mais ou menos 70 000 habitantes) (Waibel, 1948).
Segundo Waibel (1948), tais condições naturais e suas variações, tanto na direção vertical quanto na horizontal, determinam grandes diferenças em relação ao esquema ideal do Estado Isolado, de Von Thuner. Entretanto, o princípio ainda é reconhecível, porque se verificam duas premissas básicas de Von Thuner: uma planície, na parte central do Estado, na qual a população está concentrada. A área da Meseta Central, incluindo as encostas mais baixas das montanhas circunjacentes, é de mais ou menos 2 500 quilômetros, ou 5% da área total do país; nela se concentravam (em 1936) 452 000 habitantes, ou 76,5% da população global.
Esse mesmo autor relata que as cidades da Meseta Central estão entrelaçadas e ligadas por estradas reais e ferrovias, ao passo que no resto do país (com exceção das plantações de banana na costa atlântica) predominam os caminhos de carros e os atalhos de animais. Da parte central do Estado para seus limites, os meios de comunicação tornam-se cada vez mais primitivos. De modo análogo, os preços e a renda da terra, aplicação de trabalho e o investimento de capital por unidade territorial decrescem rapidamente da capital para a periferia da Meseta Central. Em consequência, os sistemas agrícolas tornam-se progressivamente mais extensivos e se dispõem em círculos e semicírculos em torno da capital; realmente, em virtude da forma oblonga da Meseta Central, as faixas econômicas são mais elíticas do que circulares (Waibel, 1948).
Outro fenômeno da Meseta Central de Costa Rica que tem semelhança com o Estado Isolado de Von Thuner. Uma das premissas fundamentais da teoria de Von Thuner consiste em que o nível de educação dos habitantes é o mesmo em toda parte e tão elevado que não há dificuldade em mudar de um sistema econômico para outro. Este é exatamente o caso da Meseta Central. Cerca de 90% de sua população é de brancos puros e seu padrão educaci6rial é tão alto que por duas vezes nos últimos cem anos foi possível substituir um sistema agrícola por outro.
A primeira fachada era a de monocultura. Antes da introdução do café em Costa Rica, na década de 1840, como uma cultura comercial, as cidades da Meseta Central eram cercadas de campos de trigo, milho, leguminosas, cana de açúcar, fumo etc., ao passo que em áreas mais afastadas o gado era criado em pastagens artificiais, em clareiras de florestas. O café, constitui monocultura; porque o seu elevado preço garantia uma renda líquida muito maior por unidade territorial, nestas férteis terras. Por exemplo, no distrito de Tibas, ao norte de São José, 90% da área total é ocupada pelos cafezais e os restantes 10% por hortas, cana de açúcar e pastagens. A segunda faixa era mista entre o cultivo do café e da cana de açúcar. Com o aumento da distância da capital, os preços da terra decrescem acentuadamente. O café cresce somente na melhor terra, ao passo que a cana de açúcar, a colheita mais lucrativa, depois do café, torna-se cada vez mais importante. Além disso, veem-se frequentemente nesta faixa campos de milho, de mandioca (chamada yuca em Costa Rica) ou de abacaxi e muitos "potreros", todos cercados de arame farpado (Waibel, 1948).
Deixando a faixa de café e cana de açúcar com a sua densa população, era possível penetrar em um panorama cultural, que era estranho para um pais tropical e qual se assemelhava notavelmente ao noroeste europeu. Os campos eram utilizados com milharais ou outras colheitas por poucos anos e então eram plantados com gramíneas e usados como pastagem por vários anos. Depois disto, o pasto é arado e a rotação se reinicia. A combinação de sebes, culturas e pastos era uma característica da Europa Norte-Ocidental e a expressão do chamado sistema de culturas e pastagens. No esquema de Von Thuner fica situado na quarta faixa econômica. Em Costa Rica, este sistema agrário estava seguramente relacionado, em parte, com a altitude elevada e o ar úmido. Mas ele aparecia também na parte oeste da Meseta Central Ocidental sob condições físicas inteiramente diversas (Waibel, 1948).
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