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A FORMAÇÃO DOS QUILOMBOS NO BRASIL: UMA ANÁLISE HISTORIOGRÁFICA.

Por:   •  4/11/2015  •  Trabalho acadêmico  •  5.271 Palavras (22 Páginas)  •  1.162 Visualizações

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A FORMAÇÃO DOS QUILOMBOS NO BRASIL: UMA ANÁLISE HISTORIOGRÁFICA.

RESUMO

Este artigo pretende destacar como a historiografia brasileira do século XX abordou a relação escravista e o surgimento dos quilombos. Para tanto, serão analisadas algumas reflexões historiográficas, desde aquelas que entenderam os quilombos como um espaço de resistência cultural dos africanos e crioulos até as interpretações mais atuais, que visualizavam os quilombos como resultado de interesses não só dos fugitivos, mas de toda sociedade envolvente. Tendo como ponto de partida Gilberto Freyre, com sua visão parternalista nas relações escravocratas que, a partir dos anos 1960 foi alvo de veementes críticas pela Escola Paulista de Sociologia formada por sociólogos e historiadores, cujos autores se empenharam na exacerbação da violência entre senhores e escravos, até chegar aos estudos dos anos 1980 onde o escravo começa a ser resgatado como sujeito histórico, tornando tais relações bem mais complexas do que pareciam.

PALAVRAS-CHAVE: Historiografia, quilombos, escravidão.

ABSTRACT

This article seeks to highlight how the Brazilian historiography of the twentieth century approached slave relationship and the emergence of the quilombos. For this, we analyzed some historiographical reflections from those who understood the runaway slave as a space of cultural resistance of Africans and Creoles to the most current interpretations, which visualized the runaway slave as a result of interest not only of the fugitives, but the entire surrounding society. Taking as a starting point Gilberto Freyre, with his paternalistic vision on the slave relationships, from the 1960s was the target of strong criticism from the Paulista School of Sociology formed by sociologists and historians, whose authors were engaged in the exacerbation of violence between masters and slaves, until the studies of the 1980s where the slave begins to be rescued as historical subject, making these relationships much more complex than they seemed to be.

KEYWORDS: Historiography, quilombos, slavery.

1. INTRODUÇÃO

Neste artigo pretende-se destacar como a historiografia brasileira do século XX abordou a relação escravista e o surgimento dos quilombos. Para tanto, serão analisadas algumas reflexões historiográficas, tendo como ponto de partida a obra de Gilberto Freyre (1900-1987), passando pela Escola Paulista de Sociologia, até chegar aos estudos dos anos 1980.

Gilberto Freyre traz à tona, no início do século XX, em seu livro: “Casa Grande e Senzala” publicada em 1933, uma interpretação inovadora, enfatizando a importância da escravidão para a formação da sociedade brasileira. Trata-se, pois, da primeira obra histórico-sociológica que aborda a escravidão, no Brasil, com uma visão positiva da contribuição do negro na formação da sociedade brasileira, rompendo com teorias raciais difundidas por intelectuais como o conde Gobineau (1816-1882) e Raimundo Nina Rodrigues (1862-1906) , desde meados do século XIX. Freyre faz distinção entre as influências exercidas pelos escravos e aquelas exercidas pelos negros, ou seja ele dissocia o escravo do negro. Em sua visão os negros não eram inferiores e sim inferiorizados por causa da escravidão, cuja cultura se misturava, se fundia à cultura dos senhores formando e/ou enriquecendo a cultura brasileira.

Já na metade do século XX, mais precisamente nas décadas de 60 e 70, surge a Escola Paulista de Sociologia , formada por sociólogos e historiadores, que descreviam um sistema escravista extremamente rígido observado pela perspectiva marxista estruturalista, que por sua vez, se contrapôs às concepções lançadas por Gilberto Freyre nos anos de 1930. A crítica destes autores recaiu sobre “o quadro apresentado por Freyre, em que as relações entre senhores e escravos foram descritas como doces e harmoniosas. Para tanto, esses autores procuraram enfatizar o caráter violento e desumano da escravidão brasileira (ROCHA, 2004, p.25)

No final do século XX, surgem estudos influenciados pela corrente culturalista do marxismo e pela obra de E.P.Thompson, procurando aprofundar no tema acerca da escravidão para além do estruturalismo e das classificações em esquemas rígidos, inscrevendo o escravo como sujeito ativo nas relações escravistas. Os pesquisadores desta historiografia “apontavam, ainda, a necessidade de rever o papel histórico desempenhado pelos escravos, como poderosos agentes no processo de formação da sociedade brasileira” (MACHADO, 1988, p.144).

Analisando o exposto percebe-se diferenças entre as reflexões historiográficas sobre a escravidão brasileira. De um lado Gilberto Freyre considerava os escravos como sujeitos “passivos” da história e valorizando sua cultura, por outro lado, os integrantes da Escola Paulista de Sociologia, procuravam construir outra versão para a história da escravidão brasileira desconsiderando a experiência cativa e sua atuação como sujeitos da história, dando ênfase à violência nas relações escravistas. E por fim a corrente historiográfica que se estabelece a partir da década de 1970 e, especialmente, após 1980, acerca da condição dos cativos como sujeitos ativos das transformações históricas, revendo seus valores sociais e culturais gerados ao longo dos períodos da escravidão.

2. A HISTORIOGRAFIA E OS QUILOMBOS NO BRASIL

Na primeira metade do século XX emergiu no Brasil um leque de estudos que versaram a respeito do protesto escravo na forma de quilombos. As interpretações partem desde o entendimento dos quilombos como espaço de resistência cultural de africanos e crioulos (um espaço africano nas Américas) até as interpretações de que havia relações contínuas, e muitas vezes profundas, entre quilombolas, cativos e livres, relações econômicas, culturais e mesmo familiares.

Antropólogos, sociólogos e historiadores , cada qual com teorias e métodos próprios, têm discutido sobre a presença de comunidades quilombolas no Brasil durante a vigência da escravidão.

A historiografia clássica designou como

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