A Teoria da Historia
Por: Atila Carlos • 16/5/2021 • Trabalho acadêmico • 1.319 Palavras (6 Páginas) • 174 Visualizações
Esta resenha irá dispor uma discussão fazendo uma análise a partir do vídeo do canal “Leitura Obrigahostória” do historiador Icles Rodrigues, e do artigo escrito pelo também historiador Jérôme Baschet, de forma a pontuar as principais questões e conceitos dos objetose o sincretismo entre eles. O artigo, que tem como tema central as causas e os possíveis efeito do COVID-19 na sociedade, começa abordando o tema a partir de três temporalidades, todas elas atribuídas da revolução francesa para os dias atuais. O autor informa que segundo o microbiologista “Phillipe Sansonetti” o COVID-19 é uma “doença do Antropoceno”, ou seja, ele estabelece que o coronavírus é uma doença proeminente do avanço da sociedade através do consumo desenfreado e suas consequências diversas. Ele aborda essas consequências atribuindo “O colapso e a desorganização do sistema vivo, o desequilíbrio climático, a decomposição social acelerada, a perda de credibilidade dos governantes e dos sistemas políticos, a expansão de crédito desmedida, a fragilidade financeira e a incapacidade de manutenção, são dinâmicas que reforçam que o sistema mundo se encontra em uma situação de crise estrutural permanente”. Esses seriam alguns aspectos culminantes do sistema em que vivemos e que de forma naturalista tende a trazer problemas sociais. Uma outra questão para melhor entender a proeminência do vírus é “a urbanização excessiva e o desmatamento, por sua vez, reduzem os habitats dos animais selvagens e os levam ao contato com os humanos... embora ainda nos falte conhecimento sobre ele”.
Essa abordagem feita pelo autor em relação ao COVID-19 vai de encontro com o tema central do vídeo que é regime de historicidade, mais precisamente o regime presentista. Os regimes de historicidade são a forma de como uma sociedade se relaciona com o tempo, e como essa relação afeta essas sociedades. Em um regime de historicidade, um tempo (que pode ser passado, presente e futuro) tem predominância sobre os outros. Essa ferramenta seria útil para estudar momentos de crise ou desordem no tempo, assim como o tema proposto no artigo. A partir nessa explanação fica mais evidente a forma de como esses dois objetos, tanto o artigo como o vídeo em questão, se conversam. O texto foi escrito utilizando uma perspectiva presentista e vou explicar o porquê. Dentre várias formas de se analisar um regime de historicidade presentista, uma definição nos ajuda a compreender: “A partir desse momento, não é o passado que esclarece o futuro, mas sim o futuro que joga no passado a própria presença”. E foi exatamente isso que Jérôme Baschet fez. Ele começa trazendo dados socias como forma de nos sinalizar que a partir desses, algo no futuro se torna eminente, ao mesmo tempo que culpa um tipo de política neoliberal que foi feita na Franças nos anos passados que culminaram em falta de recursos, diminuição no números de leitos, cortes de pessoal, profissionais de saúde já sobrecarregados em tempos considerados normais. Ele define essas políticas como algo criminoso. Ou seja, ele faz exatamente como nos informa a definição acima: Não é o passado, isto é, as políticas públicas neoliberais que esclarece o nosso futuro, mas sim, uma perspectiva futurista que joga no passado o presente, que dizer, os problemas presentes no combate ao coronavírus.
Essa é uma abordagem que podemos encontrar em vários outros problemas sociais. O historiador Yuval Noah Harar tem se tornado uma mente brilhante nos dias atuais em nos alertar para problemas futuros, utilizando uma perspectiva presente e trazendo aspectos passados unicamente como uma das formas de justificar esse presente. Em tempos passados o regime historiográfico passadista foi utilizado de uma forma mais abrangente. Há quem diga que ainda é utilizado nos dias de hoje. O que é factual é que o passado claramente nos aponta para problemáticas futuras que podem surgir a partir de questões que se passam no tempo presente e que tem semelhanças com esse passado. Obviamente podemos sim utilizar a história como um modelo poder servir como exemplo, mas com o passar dos séculos as questões foram ficando cada vez mais complexas e aceleradas que foram deixando com que a “história exemplar” ficasse cada vez mais enfraquecida.
Com o avanço da sociedade e seus problemas cada vez mais complexo, e com isso exigindo uma demanda de soluções cada vez também mais difíceis, fica um pouco mais subjetivo a utilização da história passada como um modelo de aplicabilidade para a resolução do mesmo. A partir disso, um regime de historicidade passadista passa a ser uma forma de analisar o problema e não a forma de que esse deva ser analisado. Como foi dito no vídeo, uma sociedade não muda de um regime de historicidade de passadista para presentista ou futurista de uma simplória. Para isso, deva haver um fato que teve grande importância na sociedade e que partir daí esse mesmo fato deva ser analisada de uma forma diferenciada para que a partir daí essa mesma sociedade possa caminhar em um sentido de progresso, de uma finalidade. Esse acontecimento segundo o historiador François Artog, foi a Revolução Francesa, que também serviu como o principal combustível para a consolidação do capitalismo. Esse regime econômico, por sua vez, é descrito no artigo de Jèrôme Baschet, como o causador do vírus em questão, fazendo até uma analogia de que não se trata de proeminência do Antropoceno, como dito acima, mas sim do “capitaloceno”. “Ainda que as configurações sejam variáveis, o mundo está organizado em função das necessidades imperiosas da economia” - diz o autor.
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