Análise A Vida é Sonho Calderón de La Barca
Por: gian • 29/7/2022 • Resenha • 1.822 Palavras (8 Páginas) • 340 Visualizações
NOME: Gian Nani Cappellano - 13646996
DISCIPLINA: História Ibérica 1 - Turma 2022/1º Noturno
Professor Dr. Francisco Carlos Palomanes Martinho
Análise: A vida é Sonho (La vida es sueño), Calderón de La Barca
“Eu sonho que estou aqui
De correntes carregado
E sonhei que em outro estado
Como príncipe vivi”[1]
O texto “A vida é sonho'', do dramaturgo Calderón de La Barca, é uma peça teatral, considerada a maior e mais reproduzida do autor, que foi elaborada durante o período Barroco (século XVII).
O Século de Ouro Espanhol (século XVII) é considerado um momento de intensa produção artística e cultural na Espanha e é demarcado pela publicação da Gramatica Castelhana de Nebrija (1492) e a morte de Calderón de La Barca (1681), evidenciando a importancia e relevancia cultural e artística do autor do texto analisado para a época em que ele se encontrava. Durante o período do Século de Ouro, ocorreu a formação da União Ibérica, com ênfase na dinastia dos Habsburgos que foi predominante no florescimento do “Siglo de Oro”. [2]
Neste período, se sobressaíram as tendências românticas, de comédia, místicas e satíricas, além das publicações de obras clássicas como Dom Quixote, de Miguel de Cervantes e A vida é sonho de Pedro Calderón de La Barca. O século XVII também foi de grande importância para as artes plásticas e para a ciência, com nomes como Diego Velázquez e Caravaggio representando a arte local. Além disso, a morte de La Barca, além de representar o fim do século de ouro espanhol, representa também a crise e o início da decadência do teatro espanhol.[3]
Durante o século XVII, o predomínio artístico foi dado pelo estilo Barroco. Helmut Hatzfeld, em sua obra Estudos sobre o Barroco, define o Barroco como o estilo que dá um aspecto ostentoso para a vida e revela um impacto exagerado somado à passagem de formas lineares para outras mais livres e sobrecarregadas.[4]
Hatzfeld define um “maneirismo barroco”, onde predominam adornos e tendências robustas e sofisticadas junto a descrições detalhadas, que é também onde encaixaria La Barca. O autor ainda retorna para um capítulo de análise sobre La Barca, onde diz que o poeta dramaturgo:
“rejeita a filosofia mundana renascentista e vê o mundo como um enigma que deve ser decifrado”.
Ainda diz que:
“o homem está exposto a enganos dos quais Calderón procura exprimir, usando com excepcional talento os recursos do claro-escuro, do eco, do paralelismo, do oximoro e das palavras polissilábicas de efeito majestos”[5].
A partir disso, contextualiza-se o autor e a obra no período em que estavam inseridos, histórica, cultural e politicamente, para dessa forma melhor compreender os significados e as intenções das obras.
Como sendo parte de uma classe artística influenciada pelo movimento barroco e pelo maneirismo, as obras da época possuíram um caráter religioso e que buscava e que traziam foco para as necessidades espirituais do homem[6].
Ainda sobre a Espanha e a correlação entre a contrarreforma e o pensamento religioso expresso nas artes, Mario González diz:
“Na Espanha, é peculiarmente intenso o atrelamento da arte e da literatura barrocas à cosmovisão católica contra reformista que, por sua vez, é a base ideológica que sustenta o sistema político espanhol na evolução do modelo implantado a partir dos Reis Católicos”[7]
Ou seja, a arte teve papel fundamental na estruturação e propagação do pensamento espiritual e religioso, sendo base para a estruturação da contrarreforma e refletindo diretamente o modo de vida e pensamento da sociedade da época, seja das classes mais baixas que eram submetidas aos dogmas religiosos católicos ou das classes dominantes que ditavam as regras éticas e morais que deveriam ser seguidas, tudo isso era expressado nas produções artísticas.
Em uma de suas maiores obras, se não a maior e mais conhecida, “ A Vida é Sonho”, La Barca carrega seu caráter barroco, marcado por temas filosóficos e religiosos, e traz a temática em que ocorre a mistura da realidade com a ficção, da realidade e do sonho, onde o protagonista se depara com essa dualidade e se ve em situações que o fazem duvidar de sua própria percepção de si e do controle sobre sua vida. Desse modo, o protagonista questiona seus castigos, questiona a ação divina e seus merecimentos, buscando compreender os motivos e os objetivos daquilo que lhe é colocado. “A vida é sonho” apresenta a dualidade barroca, a reflexão sobre o bem e o mau, o certo e o errado, traz consigo questionamentos morais e lições carregadas de dogmas e valores religiosos, mostra o papel de um bom governante e de um bom ser humano.
A obra traz a história do protagonista Segismundo, que condenado por uma profecia que pregava que ele traria desgraças ao reino, foi pelo seu pai, o rei Basílio, destinado a passar sua vida preso em uma torre tendo contato apenas com um carcereiro, Clotaldo.
Durante sua juventude, ainda preso na torre, seu pai, o rei, começa a se questionar se suas decisões e atitudes em relação à vida de seu filho eram realmente o melhor a se fazer.
Deste modo, o rei resolve colocar à prova a capacidade de seu filho e testar se ele era merecedor da liberdade e se seria capaz de governar o reino sem trazer futuras mazelas. Porém, para que caso reprovado no teste, o garoto não sofresse mais ainda de ter que voltar para sua torre após ter vivenciado o mundo real e ter tido contato com a vida externa, Basílio resolve que a melhor opção seria drogar Segismundo para que ele apenas acordasse em outro ambiente, fazendo com que a percepção do menino fosse de que aquilo seria apenas um sonho.
Ao acordar, o protagonista se vê em um palácio real cheio de riquezas, bem vestidos e com jóias, em um ambiente completamente diferente daquilo que vivenciou em toda sua vida e que seria capaz de imaginar por conta própria. Assim, ao acordar meio atordoado, dizem a ele que ele era um príncipe e que aquilo que ele dizia ter vivenciado anteriormente em condições ruins era apenas um sonho que havia tido.
Porém, ao seguir sua vida como príncipe, sendo testado pelo seu pai e observado sua conduta, Segismundo não escapa da profecia que haviam lhe destinado e começa a cometer erros e se demonstrar um mau governante, cruel e sem valores morais, revelando-se um tirano.
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