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Analise do filme "Os Deuses Devem Estar Loucos"

Por:   •  7/6/2016  •  Resenha  •  2.505 Palavras (11 Páginas)  •  3.261 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAIS

INSTITUTO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS SOCIAIS

DEPARTAMENTO DE ANTROPOLOGIA CULTURAL

CURSO: História

DISCIPLINA: Antropologia Cultural

PROFESSORA: Julia O’Donnell

Aluno: Agenor Figueiredo Neto

Análise do filme: “Os deuses devem estar loucos”

Ficha Técnica:

  1. Nome do Filme (original): The Gods Must Be Crazy
  2. Ano produção: 1980
  3. Duração: 108 minutos
  4. Direção: Jamie Uys
  5. Países de Origem: África do Sul, Botswana

O filme começa apresentando o “deserto mais traiçoeiro do mundo”: o Kalahari, onde a água de pequenos córregos e até mesmo rios duram pouco mais de três meses durante a estação chuvosa, mas desaparece em poucas semanas sob a areia, seguindo-se um período normalmente de nove meses de seca.

Apesar da permanência da relva propícia para o pasto dos animais que nesse período habitam ali em abundância, a falta de água para beber faz com que os mesmos se mudem para outras regiões, restando ali um pequeno povo chamado bosquímanos que aprende a viver nesse deserto onde, por necessidade, esforçam-se para captar nas manhãs de cada dia, gotas de orvalho para beber e a buscar tubérculos, frutas e leguminosas para a sua sobrevivência, pois dependem do que a natureza lhes oferece e quando o alimento se esgota nesse local têm de ir procurar outro onde encontrem alimento, pois eles não sabem produzir.  

Tendo uma vida pacata e feliz, esse povo vive em pequenos grupos de famílias. As vezes passam anos sem se encontrar umas com a outras. Vivem a maior parte do tempo isolados sem saber nada sobre outros povos do mundo. No Kalahari há bosquímanos que nunca viram o homem civilizado. È o caso do Xi, personagem principal desse filme,  que vê o avião como pássaro, a mulher e o homem branco que encontrou no caminho, como deuses, a garrafa vazia da coca-cola, lançada à terra pelo tripulante de um pequeno avião, como presente dos deuses e ao se deparar com modernas tecnologias da sociedade ocidental como veículos, atribui-lhes poderes mágicos e divinos.

Para eles não há normas e regras que têm que ser seguidas e nem têm que obedecer a nenhuma autoridade. Assim sendo, não têm noção de leis, nem do direito de propriedade e de posse, porque os objetos que utilizam vêm da natureza e como estão em grande número, são usados sem qualquer disputa e em harmonia. Não há entre eles relógios ou calendários para contar o tempo, horas, dias, meses ou anos.

Há dois chefes. Um deles é o mais velho, porque tem mais experiência de vida, o para eles equivale a mais sabedoria, por isso, ser idoso, é ser sábio neste tipo de cultura, e quase todos conseguem esse estatuto. O outro chefe é o melhor caçador do grupo, (neste caso em concreto, o Xi). Não tem crime, punição, violência, juízes ou chefes. A cultura é transmitida oralmente, visto que não existe a escrita. Deste modo, o poder político assume uma diferenciação a nível da oralidade. A memória social é transmitida oralmente dos mais velhos para os mais novos. Há uma divisão social no trabalho entre homens e mulheres. Ao homem cabe a caça e busca do alimento, enquanto à mulher cabe o cuidar da cozinha e do trato dos seus filhos. Os materiais usados são unicamente à base de madeiras, pedra e ossos.

Acreditam que os deuses só põem coisas úteis na terra para eles usarem. Nesse mundo deles não há nada ruim nem maldade e tudo o que vem de cima, vem do céu, oferta dos deuses que os amam. Quando escutam um barulho no céu creem que os deuses comeram muito e interpretam isso como flatulência deles. Respeitam bastante os animais e quando os matam pedem-lhes desculpa, afirmando que a sua morte tem como fim alimentar a sua família.

O filme mostra o contraste dessa cultura com a cultura dita civilizada, caracterizada pelo uso da tecnologia em larga escala criada para facilitar a vida, mas ao mesmo tempo torná-la complicada; em que todas as nossas ações se orientam em função do tempo e do dinheiro, o que a muitos gera stress. Que dispõe de meios que os poupam no trabalho e os facilitam na locomoção, comunicação e produção, mas que tem que se adaptar e readaptar todos os dias e todas as horas ao mundo que criou, seja ele, ambiente doméstico ou de trabalho. Que vive, na sua maioria, sob a forma de famílias nucleares (pai, mãe e filhos) e devido às tecnologias e meios que possuí, reside em aglomerados de casas e infraestruturas que deseja. Para que haja civismo, respeito e igualdade, orientam-se por regras e leis, que se não forem cumpridas, demandam em punição. Têm representantes que devem interceder pelas necessidades do seu povo. Vivem num mundo capitalista e de consumo e para obter algo é necessário dinheiro. Seus filhos passam 10 a 15 anos na escola para aprenderem a sobreviver nesse complexo meio em que nascem e que só vai complicando com a sua inteligência.

Podemos começar a discussão do filme com os textos estudados em sala de aula, focando primeiramente na pessoa do nativo e questionando: Esse nativo é um humano tanto quanto um civilizado? A essa pergunta, Geertz responde afirmando que os “nativos” sabem que são diferentes dos animais porque tornaram-se humanos. Segundo Geertz “Tornar-se humano é tornar-se individual, e nós nos tornamos individuais sob a direção dos padrões culturais, sistemas de significados criados historicamente em termos dos quais damos forma, ordem, objetivo e direção às nossas vidas. Os padrões culturais envolvidos não são gerais, mas específicos – não apenas o “casamento”, mas um conjunto particular de noções sobre como são os homens e as mulheres, como os esposos devem tratar uns aos outros, ou quem deve casar-se com quem...” (GEERTZ, 1989). E ele complementa: “(...) os nativos deixaram de ser apenas os ‘primitivos’ e se transformaram nos ‘outros’, sucessivamente remotos no espaço, remotos no tempo, menos remotos na mesma sociedade, até a conclusão recente de que ‘agora somos todos nativos’.

Quanto a garrafa de Coca Cola – símbolo universal da moderna civilização de consumo  – adentrando o universo dos bosquímanos, torna-se objeto de impressionante utilidade para  toda a tribo. Cada dia passam a descobrir novas formas de sua utilização na musica, na decoração de vestuário, no curtimento de peles de animais, na preparação de comida. Como era só um objeto e muitos o requisitavam, este elemento estranho à cultura tornou-se rapidamente num bem escasso e, passado algum tempo, começou a ser disputado e tornou-se alvo de discórdias e conflitos que originou sentimentos de posse e inveja, despertando a sensação de querer ter e não partilhar. Em pouco tempo a garrafa de vidro transformou a sua organização social e o relacionamento entre eles, causando dificuldade na sua comunicação, rivalidades e disputas violentas. Assim é o que acontece nas sociedades ditas civilizadas onde os objetos materiais influenciam e até moldam o comportamento dos seus membros tornando-se ao mesmo tempo alvos de disputas e infelicidades. Para a teoria do funcionalismo, elaborada por Malinowski, o indivíduo sente necessidades e cada cultura vai satisfazê-las criando instituições (econômicas, jurídicas, políticas, educativas) para dar resposta coletiva organizada, resultando em soluções para atender as necessidades.[a]

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