Apologia da História ou Ofício do Historiador
Por: João Vitor Garcia • 4/9/2015 • Resenha • 2.046 Palavras (9 Páginas) • 450 Visualizações
"Aliás, o conhecimento de História não é um dádiva, mas sim uma maldição. Porque você se torna responsável por dialogar com quem a ignora, por mais impossível que isso pareça ser. Um diálogo paciente e não-violento, na esperança de que entendam que a dignidade humana, construção de milhares de anos dessa História, é uma conquista que deve ser defendida a todo o custo." (SAKAMOTO, Leonardo, Blog do Sakamoto, matéria publicada em 16/08/2015)
De <http://blogdosakamoto.blogosfera.uol.com.br/2015/08/16/por-que-nao-mataram-todos-em-1964/>
Introdução
""Papai, então me explica para que serve a história". Assim um garoto, de quem gosto muito, interrogava há poucos anos um pai historiador" (BLOCH Marc, Apologia da História ou Ofício do Historiador, Zahar, 2002, pg 41)
O livro começa com uma premissa bem interessante. Com o questionamento de uma criança, sobre para que serve a história. Uma pergunta direta de filho para pai. Esta pergunta tão singelamente levantada, dita o ritmo do livro e a forma com que Marc Bloch responde a esta questão aparentemente ingênua, mas na realidade extremamente complexa. O historiador escreve com a mesma ternura com que falaria com seu filho, o que é a história, pra quem e para que serve e quem são o historiadores.
O autor segue a introdução, falando sobre o sociedade Ocidental e sua exigência com a memória, seja nas suas principais instituições como a Igreja cristã (assim como outras religiões, porém o cristianismo sendo a mais forte em nossa sociedade) que em sua mitologia, traz passagens, de tempos fantásticos muito antes do tempos dos homens. Seja com povos de quem herdamos valores, conceitos e mitos que são exteriores a nossa época.
"Nossa arte, nossos monumentos, literários estão carregados dos ecos, do passado, nossos homens de ação trazem incessantemente na boca suas lições, reais ou supostas." (BLOCH Marc, Apologia da História ou Ofício do Historiador, Zahar, 2002, pg 42)
Marc Bloch alerta sobre a má compreensão da história, o questionamento e o sentimento de ineficiência atribuído a ela sempre em que uma sociedade entra em crise. É preciso compreender antes para depois colocar em prática seus conceitos e aprendizados. O autor também nos lembra, que mesmo sem seu uso prático, a história entretém e nos encanta por sua beleza de nos transportar no tempo e no espaço com sua literatura, que instiga a imaginação de quem lê.Ler pelo simples gosto do conhecimento, pelo prazer que a leitura proporciona.
Na parte final da introdução, o autor entra na legitimidade da história, frente ao quadro rigorosamente positivista da época. Marc Bloch inova com a noção da história como problema. Fugindo da até então vigente historiografia positivista, onde a história era construída tomada como base o uso de documentos do Estado, da Igreja e de militares. A história como uma ciência humana foge do estrito e mesurável quadro de avalição positivista. Pois esta ciência não se encaixa na visão Comtiana de verdade absoluta uniforme e universal que rege a intelectualidade da ciências físicas. Aliás até entre as ciências exatas este conceito é ultrapassado.
Capítulo 1
• A escolha do historiador
História. Uma palavrava antiquíssima que vem desde tempos remotos. Porém diferente da etimologia que a compõem, o significado que possui, a forma de usa-la e compreendê-la mudam radicalmente com o tempo. A forma de fazer e entender história está em constante construção, variando no espaço e no tempo de acordo com os valores enraizados em cada civilização. A história científica que temos hoje é diferente da história dos gregos, que a utilizavam para passar seus mitos para próxima geração.
"Mesmo permanecendo pacificamente fiel a seu glorioso nome helênico, nossa história não será absolutamente, por isso, aquela que escrevia Hecateu de Mileto; assim como a física de lord Kelvin ou de Lagenvin não é de Aristóteles"(BLOCH Marc, Apologia da História ou Ofício do Historiador, Zahar, 2002, pg 51)
Por ser algo edificado em tantas diferentes perspectivas ao redor do mundo, é algo difícil de definir. E definir é limitar. Neste ponto, as ciências da natureza tem essa "vantagem" sobre a ciência humana. A física, matemática, química, tem sua função clara e com pouquíssimas divergências. Um resultado de um cálculo, ou está certo ou está errado (fora raras exceções), com nossa ciência não é tão simples.
• A história e os homens
"A história é a ciência do passado"(BLOCH Marc, Apologia da História ou Ofício do Historiador, Zahar, 2002, pg 51)
March Bloch começa a segunda parte do primeiro capitulo com uma crítica a um dito de senso comum. A desconstrução da história como "ciência do passado". Marc Bloch entende a história não como algo parado no tempo e imutável. Mas sim algo volátil. Esta frase que remete a história como algo, empoeirado, velho, o historiador como apenas um colecionador de um antiquário. diminui e limita sua real atuação. Então em continuação de seu contra-argumento, a tal infeliz expressão, o autor faz uma comparação com o desenvolvimento da humanidade, e coloca a história como uma criança, que foi evoluindo e se sofisticando de acordo a evolução da sociedade Ocidental. E diz, que em toda ciência se faz o uso da palavra história em uma mudança de duração. Por exemplo: A História da Geologia. A História das Placas Tectônicas. A História da Expansão do Universo. Embora conectadas interdisciplinarmente, essas histórias não pertencem aos historiadores. Mas sim aos cientistas de suas respectivas áreas. O que essas difere a história dos historiadores é o surgimento do ser humano.
"Já o bom historiador se parece com o ogro da lenda. Onde fareja carne humana, sabe que ali está a sua caça."(BLOCH Marc, Apologia da História ou Ofício do Historiador, Zahar, 2002, pg 54)
Com esta frase, de uma precisão cirúrgica, que captura a essência do historiador podemos resumir esta parte do capítulo. A história não é a ciência do passado, mas a ação do homem no homem no tempo e no espaço. Por trás das instituições, das grandes invenções, das guerras, e do Estado, estão os homens. Os homens com seu ímpeto, não apenas de sobrevivência, mas de melhorar o lugar que estão, são os que fazem a história. Cada ciência tem sua linguagem estética, que melhor se aplica a ela mesmo. Um cálculo, é tão importante quanto uma frase bem feita. Os dois são igualmente importantes dentro de seus respectivos universos.
...