Auto da Barca do Inferno
Por: henriqucendo • 20/3/2017 • Projeto de pesquisa • 1.890 Palavras (8 Páginas) • 255 Visualizações
O Auto da Barca do Inferno
Cena 1
As duas barcas (inferno e céu) estão posicionadas e o Fidalgo (Deputado) chega.
Diabo: Ô despacho, está tudo pronto ai?
Ajudante: Sim chefinho, está tudo nos trinques! Acho que teremos muita gente para a tripulação.
Diabo: Lembre-se de só falar quando eu mandar, então cale-se!
Ajudante: Tudo bem chefinho, me perdoe.
Diabo: Ora, ora, o que temos aqui? Deputado Dom Arique? Você?
Fidalgo (Deputado): Sim, eu mesmo. Vote 45000. Pra onde vai essa barca? Parece meio caída...
Diabo: Vai para a Ilha Perdida, saímos em um instante!
Fidalgo (Deputado): Tem certeza que chega até lá? Está bem... Bom, isso é para a ralé, eu não ando em um troço desses.
Diabo: Você diz isso porque ainda não viu por dentro, temos ótimas acomodações.
Fidalgo (Deputado): E qual é o destino final?
Diabo: Vamos para o inferno?
Fidalgo (Deputado): Inferno? Bem, esse lugar não parece muito acolhedor...
Diabo: Mas você só reclama, hein? O inferno é bem melhor do que aparenta, o clima é bem quente.
Fidalgo (Deputado): Quem você acha que vai subir nessa coisa?
Diabo: Quem está procurando barca não sou eu, senhor Deputado.
Fidalgo (Deputado): Eu não subo. Reze por mim, irei em busca de outro lugar.
Diabo: Eu? Rezar? Filho, você sabe com quem está falando?
Fidalgo (Deputado): Não sei quem é você, mas devo ter roubado seus impostos também!
Diabo: Estou perdendo a paciência com você, acha que tenho o dia todo? Vai subir ou não? Decida-se logo.
Fidalgo (Deputado): Não tem outra barca?
Diabo: Acho que não...
Fidalgo (Deputado) – gritando: Alô? OI? Tem alguém ai?
Anjo: Posso ajudar?
Diabo: Chegou o recalque...
Fidalgo (Deputado): Essa é a barca que vai para o Paraíso?
Anjo: Obviamente, meu senhor. O que deseja?
Fidalgo (Deputado): Desejo entrar, obviamente. Sou Deputado Estadual, vote 45000.
Anjo: Não embarcamos pessoas do seu tipo.
Fidalgo (Deputado): Mas por quê?
Anjo: A barca é pequena e a procura é grande. Além do mais, o senhor roubou e foi corrupto, não acho isso muito certo
Fidalgo (Deputado) –rindo: Se você levar esse critério, pouca gente embarcará.
Anjo: Então que assim seja.
Diabo: Parece que temos um ratinho com o rabo entre as pernas... O que deseja Deputado:
Fidalgo (Deputado): Vou ter que ir pro inferno mesmo...
Diabo: O que o senhor disse? Acho que não ouvi
Fidalgo (Deputado) – gritando: ACHO QUE VOU TER QUE IR PRO INFERNO! Afinal o clima é mais quente.
Diabo: Então, pode subir, amigão.
Fidalgo (Deputado): Oh céus, eu confiei no Estado e parece que não adiantou. Tomara que nenhum da classe C suba aqui... Mas espere, antes preciso ver minha mulher!
Diabo: Só se ela se matar por você, o que pouco provável. Amigo, venha cá, vou te explicar uma coisa. Você morreu, já era. Agora suba na barca e pegue um remo.
Fidalgo (Deputado): Eu tenho que me despedir, o senhor não entende!
Diabo: Ah, eu entendo... mas parece que em vez de rezar, ela canta de alegria. Você não tinha ninguém.
Fidalgo (Deputado): Mas, eu...
Diabo: PRÓXIMO!
Cena 2
Onzeneiro (Agiota) chega perdido.
Onzeneiro (Agiota): Oh meu Deus, onde estou?
Diabo: Deus não colega, por favor.
Onzeneiro (Agiota): O senhor pode dizer onde estou?
Ajudante: Eles não cansam de perguntar isso chefinho?
Diabo: O que eu lhe disse sobre falar? Enfim, Sr. Pereira, por que demorou tanto?
Onzeneiro (Agiota): Eu queria ter demorado mais.
Diabo: Acho que nem seu dinheiro pode lhe salvar agora, que peninha.
Onzeneiro (Agiota): Quanto eu te pago para subir na barca? O senhor aceita cheque? Parcela em quantas vezes?
Diabo: Vamos para o inferno, suba!
Onzeneiro (Agiota): Inferno? Eu não subo nem que me paguem! Acabei de morrer e pensei que não poderia piorar.
Diabo: Tenta subir na barca do Anjo, aposto que ele não é generoso como eu.
Onzeneiro (Agiota): OI? OLÁ?
Anjo: Não precisa gritar, senhor. O que deseja?
Onzeneiro (Agiota): Quanto é a passagem para o Paraíso:
Anjo: Acho que você não cabe, principalmente com esse saco de dinheiro!
Onzeneiro (Agiota): Se o senhor me deixar entrar, pode ficar com tudo.
Anjo: Mesmo assim, você não merece lugar aqui!
Onzeneiro (Agiota): Por quê?
Anjo: O senhor era agiota e cobrava juros altíssimos, era cambista e vivia nas costas dos outros. Vá procurar outra barca!
Onzeneiro (Agiota): Diabinho, querido. Olha quem voltou!
Diabo: Ih, voltou, é? O Anjinho não te aceitou?
Onzeneiro (Agiota): Na verdade, eu que não o quis. Aquela barca era muito apertada e achei que você usaria melhor o meu dinheiro.
Diabo: Sei, sei... Agora pega um remo e se vira.
Onzeneiro (Agiota): Meu Jesus, o que o senhor faz por aqui?
Fidalgo (Deputado) Meu filho, senta, rema e cala a boca.
Cena 3
Chega o Parvo (Nordestino alienado).
Parvo (Nordestino alienado): Ô di casa?
Diabo: Aqui, meu filho.
Parvo (Nordestino alienado): Bom dia, meu sinhô. Esse barcão é seu?
Diabo: Sim e estamos indo para o inferno.
Parvo (Nordestino alienado): Inferno? Não me faz gosto esse nome.
Diabo: Sobe logo, querido, vamos!
Parvo (Nordestino alienado): Inferno não! Painho me dizia que é do sete pata. Não subo! Vou procurar outra barca. Se o sinhô vai por inferno, cadê o barcão do céu?
Anjo: Bem aqui, meu caro.
Parvo (Nordestino alienado): Eu quero entrar ai.
Anjo: O senhor foi apenas um pobre que caiu na lábia de pessoas como o senhor Deputado...
Parvo (Nordestino alienado): Deputado: Esse aí me deu muitos botijão de gás e bolsa família, gente boa.
Anjo: Mesmo sendo vítima de outros, também cometeu seus pecados e não merece subir, mas também não merece o inferno.
Parvo (Nordestino alienado): Então para onde vou?
Anjo: Por enquanto fique aqui, o intermédio do céu e inferno.
Diabo: Blá, blá, blá. PRÓXIMO!
...