BRAUDEL, Fernand. Cristianismo, Humanismo, Pensamento científico. In: Gramática das Civilizações.
Por: Guilherme Casagrande • 23/2/2022 • Abstract • 3.222 Palavras (13 Páginas) • 127 Visualizações
FICHAMENTO
BRAUDEL, Fernand. Cristianismo, Humanismo, Pensamento científico. In: Gramática das civilizações. São Paulo: Martins Fontes, 2012, p. 309-339
O CRISTIANISMO
- O cristianismo, difundido no Império Romano e tornado a religião oficial em 313, teve certo tempo antes das invasões do século V e das catástrofes pelas vitórias do Islã do século VII e XI de constituir sua hierarquia e estabelecer sua hierarquia e seus fundamentos. Para isso teve os concílios (Nicéia, 313; Constantinopla, 381; Éfeso, 431; Calcedônia, 451, etc) e os padres apologistas e dogmáticos. Braudel coloca o Santo Agostinho também como importante nesse processo, com seu desejo de associar a civilização antiga e a civilização cristã. (p.310)
Assim, quando chegam as invasões do século V a Igreja não está em sua infância, mas ela se define como o próprio Império, e assim, salvará a si mesma. (p.311)
- Cada século teve tarefas e combates para a Igreja.
- Converter os recém-chegados, camponeses mal cristianizados e os habitantes de novas regiões ocidentalizadas
- Manter a hierarquia ligada a Roma e ao papado em meio ao feudalismo fragmentalizante
- as Investiduras (1122)
- Lutas contra os cátaros (século XIII)
- o grande debate entre concílios e papado (século XV)
- eclosão da reforma (século XVI) e ao mesmo tempo a contra-reforma, com os jesuitas no Novo Mundo
Enfim, Braudel cita vários dos conflitos e batalhas que a Igreja teve que enfrentar durante toda a sua história. Além dessas batalhas contra adversários mais organizados, a Igreja ainda teve que enfrentar a descristianização ‘’regular, monótona’’: fora dos grandes eixos velhos cultos pagãos surgem facilmente (‘’superstições que a Igreja, na falta de coisa melhor, não raro se contentou em cobrir com uma roupa leve’’) (p.311-312)
‘’Nessa altura, o cristianismo serviu de todas as suas armas: ensino, pregação, força temporal, arte, teatro, milagres, culto popular dos santos, por vezes tão insinuante que os próprios servidores da Igreja se alarmam e reagem (como o culto exagerado dos santos como o Santo Antônio, em Lisboa)’’ (p.312)
Assim, Braudel afirma que a obra do cristianismo seguiu em dois níveis: o intelectual (se defendendo de adversários) e o da ação sobre as massas (as dificuldades de evangelização) (p.312)
- A igreja sofreu grandes flutuações, e apesar de muitas vezes essa realidade escapar com demasiada frequência em linhas gerais é possível estabelecer um movimento geral:
Do século X ao XIII, há uma ascensão do cristianismo; peste negra e com ela um recuo imenso; Guerra dos cem Anos; na segunda metade do século XV há um avanço mas também muita inquietação (pré-reforma); e nos países que seguiram fiéis a Roma a Contra-Reforma; nos séculos XVI e XVII querelas espirituais extremas como o jansenistas; e no século XVIII um ‘’refluxo importante’’, um movimento científico contraria a igreja em nome do progresso e da razão. (p.313)
HUMANISMO
Só é possível compreender o pensamento europeu a partir de um diálogo com o cristianismo (diálogo esse violento ou não). (p.313)
- O termo humanismo: palavra tardia, criada por historiadores alemães no século XIX, e até então se conhecia humanistas (se aplicava ao grupo específico de homens do século XV e XVI e eles mesmos se deram esse nome).
Porém, o termo humanismo não ficou ligado apenas aos humanistas do Renascimento, mas o termo foi empregado por várias vezes ao longo da história (humanismo da Revolução Francesa, Humanismo de Karl Marx, etc) (p.314)
Qual a definição, então, de humanismo?
Braudel cita o historiador Augustin Renaudet: ‘’Pode-se definir com o nome humanista uma ética da nobreza humana. [...] O essencial continua sendo o esforço do indivíduo para desenvolver em si mesmo todas as potencialidades humanas [...].’’ (p. 314 - 315)
Ademais, o autor afirma que essa definição não mostra o sentido de movimento que indica a inclinação natural de todos os humanismos: ‘’ele engrandece o homem, liberta-o, diminui a parte de Deus, mesmo quando não o esquece inteiramente’’
Também: humanismo é sempre contra (submissão exclusiva a Deus, doutrinas que negligencie o homem, sistemas que reduzam a responsabilidade do homem). (p.315)
Braudel analisa então três casos, significativos, do humanismo:
- Humanismo do Renascimento
- Humanismo da Reforma
- Humanismo da Revolução Francesa
HUMANISMO DO RENASCIMENTO
- A Roma pagã nunca morreu no Ocidente, e é natural que a Europa cristã tenha se acomodado de boa vontade em coexistência por não haver solução melhor. O fato dela ser revisitada tão veementemente pelo renascimento já prova que, de fato, não estava morta. (p. 316)
Porém, durante a Idade Média o interesse pela Antiguidade foi quase nulo. A língua grega era quase desconhecida, e os manuscritos de obras antigas, tão procurada pelos humanistas, empoeirados.
O humanismo do renascimento é estabelecido por essas leituras, um diálogo ininterrupto com essas obras: ‘’ao lado de cada humanista, pode-se reconhecer com um sorriso de cumplicidade ou de malevolência o Antigo que o conduz pela mão e assim o explica ou o desmascara’’ (p.316-317)
- Como datar esse amplo movimento de idéias?
Avignon lançou o humanismo, e com ele o renascimento, animado com o regresso de Petrarca (1337), há muito tempo a cidade mais luxuosa da Europa por conta das residências dos papas. Porém, é em Florença que o Renascimento de fato tem sua plenitude e instala sua ‘hegemonia cultural’ até sua tomada pelos Imperiais e Cosme de Médicis, em 1530. (p.117)
Esse limite cronológico é válido para o movimento não só da Itália mas de todo o Ocidente, mas Braudel afirma que só conseguimos compreender de fato o sentido quando analisado tanto o passado (antes de 1337) quanto o futuro (pós 1530) (p.317)
passado: não houve uma ruptura tão grande quanto se imaginava entre Idade Média e Renascimento.
futuro: o humanismo não morre com o ‘’sopro glacial das guerras religiosas’’. O movimento triunfal do renascimento se interrompe, mas ‘’o que durou mais de dois séculos não poderia perder-se num instante’’. Permanece inesquecida essa confiança na grandeza e na inteligência humana, e toda a Europa foi tocada por esse espírito. (p.318)
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