Dicionário Temático do Ocidente Medieval
Por: Wilton Almeida • 15/2/2022 • Resenha • 823 Palavras (4 Páginas) • 304 Visualizações
“Idade Média não existe. Este período de quase mil anos, que se estende da conquista da Gália por Clóvis até o fim da Guerra dos cem anos, é uma fabricação, uma construção, um mito, quer dizer, um conjunto de representações e de imagens em perpétuo movimento, amplamente difundidas na sociedade, de geração em geração, em particular pelos professores do primário, os “hussardos negros” da República, para dar à comunidade nacional uma forte identidade cultural, social e política.” (pág 557). Partindo dessa afirmação da obra “Dicionário Temático do Ocidente Medieval” organizada por Le Goff e Jean-Claude Schmitt, em primeiro lugar para abranger dez décadas de história humana, é necessário compreender as diferentes concepções do período difundidas nos séculos seguintes, para que o entendimento sobre o sistema adotado nesse tempo conhecido como feudalismo ganhe sentido e caracterizações.
O século XVI foi marcado pela disseminação de mitos acerca do havia sido o período compreendido entre o século V ao XV, chamado pelas gerações seguintes de Idade Média. As percepções acerca dessa era no século supracitado estavam influenciadas pelo renascimento, movimento que tinha como ponto de defesa a retomada de valores greco-romanos, homem como figura central, hedonismo e ampla difusão do racionalismo, portanto, a compreensão sobre a Idade Medieval estava baseada em defini-la como um intervalo no tempo entre a próspera e racional Antiguidade Clássica e a nova sociedade que estava sendo construída inspirada pelo cientificismo. Ademais, os estudiosos do século XVI, caracterizavam o medievo como sombra, escuridão, ligando-o à estética , um tempo conservador que impedia a grande arte “a transição medieval será doravante, por muitos séculos, considerada com desprezo, como um período de profunda decadência no domínio cultural, intelectual e artístico(a arte “gótica” denegrida por Michel Ângelo) e como uma interminável noite que os raios do sol do século XVI enfim dissiparam” (pág 558).
Além disso, o século XVIII potencializou a ideia anteriormente construída de Idade Média como um período obscuro, mas dessa vez não o relaciona diretamente à parte estética e sim às questões voltadas para a concepção de ausência e/ou debilidade do uso da razão, fator responsável por impedir o avanço e progresso da ciência. Os pensadores do século XVIII estavam inspirados no iluminismo, movimento intelectual e cultural que pregava a disseminação da luz e conhecimento, por isso acreditavam na “ vitória das luzes sobre o obscurantismo clerical e o triunfo de uma civilização refinada sobre a grosseria e barbárie desses longínquos séculos de ferro.” (pág 558). Por fim, os estudiosos por crerem na superação de um passado considerado menos desenvolvido e isento de razão, definem a história como progresso, visto que essa perpassaria de um ponto arcaico, menos desenvolvido para um moderno, logo o presente seria mais progressista comparado a um passado remoto.
O século XIX, por sua vez, não tem por objetivo conferir sentido negativo e depreciativo à Idade Média, os pensadores desse período veneravam a era medievalista, nesse momento, portanto, havia uma renovação de interesses. A explicação para essa retomada é influencia direta da concepção romântica, que criticava a utilização completa da razão para a compreensão de todas as coisas “À universalidade da razão e da natureza afirmada por clássicos, os românticos opõem o sentimento de que cada momento da história é único, irredutível ao que o precede e ao que segue, e que é preciso restituí-lo com sua cor própria, respeitando seu tempo particular, como o faz com imenso sucesso “Augustin Thierry, em 1840, nos seus célebres Récit dos temps mérovingiens” (pág 539), como também havia a valorização da vida no campo, a Idade Média , deixa seu antigo posto de adversária e passa a ser protagonista.
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