O maravilhoso e o cotidiano no ocidente medieval.

O MARAVILHOSO NA IDADE MÉDIA

INTRODUÇÃO

        O fenômeno denominado “maravilhoso” pertence ao vocabulário medieval e, para os homens daquela época, representava um universo de significados que configurava a construção de um imaginário em torno de imagens e  metáforas visuais. A utilização do tema no processo ensino-aprendizado permite identificar os motivos que produziram o “maravilhoso” possibilitando entender para que ele serviu e que necessidades satisfez. Portanto, é de extrema importância e pertinência a abordagem do tema para o estudo das particularidades do período em questão.

        O maravilhoso engloba uma multiplicidade  de objetos criados por inumeráveis forças e seres sobrenaturais que  desempenham relação direta com a vida quotidiana. Grande parte do domínio do maravilhoso  situa-se no campo da imaginação e seu primeiro nível é conferir caráter verdadeiro e natural a tudo que por ele  é produzido. Segundo LE GOFF, a explicação para o surgimento, muitas vezes sem nexo, do fenômeno ocorre devido o fato de “ninguém interrogar sobre a sua presença, que não tem ligação com o quotidiano e está, no entanto, totalmente inserida nele”. (LE GOFF, 1990: p. 26).

        Assim como vários elementos culturais, o maravilhoso conserva a característica de mítico que “nunca conseguirá explicar-se senão recorrendo ao sobrenatural”. (LE GOFF, 1990: p. 22).  As representações criadas pelo maravilhoso contêm  uma diversidade de elementos e objetos que  são imprescindíveis para sua construção. Os exemplo mais recorrentes são as regiões e lugares (montanhas), os seres humanos e antropomórficos (gigantes, fadas, anões), os animais naturais e imaginários (leão, cavalo, dragão, unicórnio), os objetos (espada, cinturão, corneta, anel) dentre muitos outros.

        Nos avanços e alcances do maravilhoso percebe-se sua invasão em instâncias inesperadas que acabam por modificar a regularidade dos acontecimentos. O fator mais inquietante sobre o tema é justamente sua capacidade de ampliação e deformação do mundo normal escapando à compreensão racional dos fatos.

        A proposta de estudo do tema não deve ser tratada de forma  isolada da atualidade, uma vez que os exemplos que compõem o campo do maravilhoso estão cada vez mais presentes  no quotidiano do homem contemporâneo. A familiaridade com o tema é percebida pela riquíssima literatura sobre o assunto, através dos filmes e desenhos animados e pelas muitas histórias contadas e recontadas pela tradição cultural. Assim, um tema repleto de simbolismos deve ser reconhecido pelos seus encantos e possibilidades interpretativas articulando o aprendizado à realidade.  

         A herança deixada pelos fenômenos do maravilhoso permite ilustrar de maneira atrativa o período medieval despertando curiosidades, emoções e sensações durante o processo de exploração do tema. O autor medievalista LE GOFF escreve competentemente sobre a  funcionalidade do tema que, segundo ele, não pode o maravilhoso  ser visto “como evasão mas como realização”. (LE GOFF, 1990: p.34).

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

LE GOFF, Jacques. O maravilhoso e o cotidiano no ocidente medieval. Rio de Janeiro: Edições 70, 1990.