Fichamento, A história dos homens – Josep Fontana
Por: kamila.muniz • 19/3/2021 • Resenha • 2.066 Palavras (9 Páginas) • 1.079 Visualizações
Universidade Federal de Goiás
Faculdade de História
Fichamento
A história dos homens – Josep Fontana
Aluna: Kamila Muniz Medeiros
Professor: David Maciel
FONTANA, Josep. “A invenção do progresso”. In: A História dos homens. Bauru, SP: Edusc, 2004, p.143-170.
“Paralelamente à evolução do pensamento ilustrado sobre a história e com este mantendo contatos, mas com suficiente especificidade e coerência para exigir um tratamento separado, está a formação, na Grã-Bretanha, de uma visão da história orientada por uma concepção global do progresso. ” (p.143)
“As tendências que levaram a amadurecê-la datam do século XVII. Procedem, por um lado, da própria historiografia britânica, que tinha sido de pouca relevância antes de Walter Raleigh (1554-1618) [...] e sua História do mundo, ‘produto de uma década de encarceramento na Torre de Londres’, um relato que começava com a criação do mundo e acabava no ano 130 antes de Cristo. ” (p.143)
“Era, em muitos sentidos, uma obra tradicional, que seguia a Bíblia e apresentava a divina providência como a primeira causa dos acontecimentos. Porém, Raleigh[...] estava consciente da necessidade de dar uma base racional à história.” (p.143)
“Contribuiu para isso, completando o contexto global do providencialismo com uma atenção especial às ‘causas segundas’, estritamente humanas, que explicariam os acontecimentos concretos. ” (p.143)
“Mais importante seria o estímulo proporcionado por Francis Bacon (1561-1626) [...]. Numa concepção global do campo dá ciência entendida como um instrumento para o progresso humano, insistiu na importância de desenvolver o estudo da história, completando os três campos tradicionais da história natural, civil e eclesiástica com um quarto, dedicado a descrever ‘o estado geral do saber’ - uma história das ciências e das artes -, ao mesmo tempo que pedia, e nisso se observa a importância política que lhe- outorgava[...] ” (p.144)
“O movimento renovador fortemente influenciado pela leitura de Tácito[...] tornou possível a libertação da história do jugo do providencialismo sem necessidade de romper com a religião[...], ao estabelecer uma diferença entre as causas primeiras gerais, determinantes das grandes linhas do destino humano e que podiam ser deixadas à ação da providência, e as segundas, de caráter terreno, que bastariam para a explicação dos acontecimentos ‘ordinários’. ” (p.145)
“Mas o impulso transformador mais importante surgiu, sem dúvida alguma, das comoções sociais vividas na Inglaterra na ‘guerra civil e na revolução’. ” (p.145)
“[...] todos os princípios da ordem social foram postos em cheque, ao mesmo tempo que a fundamentação religiosa e os posicionamentos mais radicais apareceram pela primeira vez à luz pública.” (p.145)
“Não somente as camadas populares participaram nos movimentos[...]. Intelectuais da categoria de Locke, Newton e Milton compartilharam as idéias religiosas antitrinitárias radicais[...] ” (p.146)
“Derrotada a revolução, não foi fácil recompor a situação e restabelecer alguma forma de consenso social. Não se pôde voltar à monarquia absoluta, mas o novo regime[...] permitiu alcançar[...] objetivos semelhantes aos que almejara conseguir inicialmente, em 1641: um sistema político representativo[...], controlado pela aliança entre a aristocracia agrária capitalista que eliminara os obstáculos do ‘feudalismo bastardo’ e a classe de empresários mercantis[...] ” (p.146 e 147)
“A nova ordem social e a nova estrutura do estado necessitavam de uma nova legitimação, que já não podia ser a das monarquias absolutas assentadas no direito divino[...], mas que estaria baseada na idéia de que a sociedade civil teria sido fundada por meio de um contrato estabelecido entre os membros e o poder soberano. ” (p.147)
“A ciência cumpriria, em primeiro lugar, a função de explicar um cosmo de criação divina, dominado, porém, pela atuação de ‘segundas causas’: um mundo físico ordenado e regulado por leis que tinha paralelo na sociedade civil. ” (p.147 e 148)
“Thomas Hobbes (1588-1679)[...] recorreu a uma interpretação da origem histórica das sociedades humanas para dar uma versão dos fundamentos do contrato social em De eive (1642) e Leviatã (1651)[...] ” (p.148)
“A fria racionalidade ‘geométrica’ de Hobbes faria que o senso comum se escandalizasse frente a uma teoria que afirmava que a sociedade estava dominada pelo egoísmo e que quase todas as regras eram convencionais. ” (p.148)
“A nova sociedade necessitava de um modelo explicativo que[...] se expressasse em termos de governo representativo nascido da revolução de 1688 e[...] que associasse o interesse com a consciência[...], sem a qual seria impossível o funcionamento do mundo dos negócios. ” (p.149)
“Quem elaborou a fundamentação histórica do contrato social de acordo com estes termos foi John Locke (1632-1704) [...] “ (p.149)
“O mais importante, do ponto de vista do historiador, são justamente os escritos políticos: os Dois tratados sobre o governo (1690) [...] em que sustenta que os homens viviam em paz no estado de natureza, mas aceitaram submeter as liberdades a um poder superior a fim de proteger as propriedades[...] e afirma que a finalidade máxima dos homens ao reunir-se em estados e sujeitar-se a um [...] é ‘a de salvaguardar os bens’. ” (p.149)
“Ao estabelecer os princípios de uma veracidade social, a nova ciência experimental também contribuiu para assentar a confiança na manutenção dos compromissos, ao mesmo tempo que transmitia credibilidade à história, induzindo-a a usar critérios de verificação e uma lógica próxima à utilizada pelos pesquisadores. ” (p.150)
“A associação entre ciência e histeria não se estabeleceu apenas em termos da adoção comum de métodos[...], mas, também, porque os cultores de ambos os campos do saber tinham clareza de sua responsabilidade no estabelecimento de um novo consenso social. ” (p.150)
“O autêntico fundador do tipo de história que-respondia às necessidades da nova sociedade seria David Hume (1711-1776). Boa parte dos que a aperfeiçoaram eram escoceses como ele, que fizeram da visão do progresso ‘uma historiografia de concilação com a Grã-Bretanha’[...] ” (p.151)
“[...] Hume tomaria Tácito como modelo de estilo e Maquiavel e Sarpi, como de método. ” (p.153)
“Hume enriqueceu e desenvolveu a visão em alguns textos de Discursos, onde, pela primeira vez, o modelo da sucessão de fases da história humana, ligada ao desenvolvimento econômico que seria o motor do progresso, foi formulado. ” (p.154)
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