Fichamento Gênero: Uma Categoria Útil de Análise Histórica
Por: Fernanda Amorim • 6/6/2021 • Trabalho acadêmico • 1.678 Palavras (7 Páginas) • 709 Visualizações
Texto: Gênero: Uma categoria útil de análise histórica.
Autora: Joan Scott.
Ano: 1990
SCOTT, Joan. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação e Realidade, v. 16, n.2, jul/dez 1990
"Penso que deveríamos nos interessar pela história tanto dos homens como das mulheres, e que não deveríamos tratar somente do sexo sujeitado, assim como um historiador de classe não pode fixar seu olhar apenas sobre os camponeses. Nosso objetivo é compreender a importância dos sexos, isto é, dos grupos de gênero no passado histórico. Nosso objetivo é descobrir o leque de papéis e de simbolismos sexuais nas diferentes sociedades e períodos, é encontrar qual era o seu sentido e como eles funcionavam para manter a ordem social ou para mudá-la" Natalie Davis, 1975. (Pág.72)
O gênero como uma categoria de análise, de forma a se constituir uma nova história, não apenas uma história das mulheres, ou por exemplo, história dos negros, mas sim uma nova história, que dá voz aos oprimidos, e compreende o lugar de onde surge essa opressão, visando entender os espaços que eram ocupados por eles e como eram constituídas as relações.
“[...] O desafio colocado por essas reações é, em última análise, um desafio teórico. Isso exige uma análise não apenas da relação entre a experiência masculina e a experiência feminina no passado, mas também da conexão entre a história passada e a prática histórica presentes. Como o gênero funciona nas relações sociais humanas? Como o gênero dá sentido à organização e à percepção do conhecimento histórico? As respostas a essas questões dependem de uma discussão do gênero como categoria analítica” (Pág. 74)
Nesse sentido, as tentativas iniciais dos historiadores para teorizar o gênero, estiveram limitadas aos quadro teórico de referências tradicionais das ciências sociais, que eram limitadas por suas generalizações redutivas, que ignora a complexidade dos processos sociais que a História analisa e também o compromisso de gerar uma mudança que o feminismo tinha. Foi necessário então propor uma abordagem alternativa.
A utilização da palavra “gênero” por muito era utilizada com o intuito único de substituir a palavra mulher, o fato é que os historiadores buscavam afastar seus estudos de questões políticas, ou seja, do feminismo, a autora explica essa como uma tentativa de busca de legitimidade para os estudos feministas nos anos 80. Outros aspectos referente ao uso do gênero, segundo a autora, seria este vínculo eterno, onde não é possível desvincular a presença dos homens na história das mulheres, e também, o gênero como uma perspectiva de “construções culturais”, dos papéis pré-determinados e destinados a homens e aqueles para mulheres.
A forma com que os historiadores passaram a utilizar o termo gênero como uma delimitação para um novo terreno, que possibilitou novos estudos referentes a outros temas, se limitava apenas para compreender as relações entre os sexos, porém, se mantinha irrelevante a historiadores voltado as estudos de política e poder. Ou seja, apesar de que se percebia o gênero dentro das relações sociais, ela não aprofunda em nada em como elas funcionam, como são construídas e mudadas. Dessa forma não tem poder análitico suficiente para repensar os paradigmas históricos existentes.
“Os/as historiadores/as feministas têm empregado uma variedade de abordagens na análise do gênero, mas essas podem ser resumidas a três posições teóricas.R A primeira, uma tentativa inteiramente feminista, empenha-se em explicar as origens do patriarcado. A segunda se situa no interior de uma tradição marxista e busca um compromisso com as críticas feministas. A terceira, fundamentalmente dividida entre o pós-estruturalismo francês e as teorias angloamericanas de relação do objeto (object-relation theories), se inspira nessas diferentes escolas de psicanálise para explicar a produção e a reprodução da identidade de gênero do sujeito.” (Pág. 77)
A teoria que se baseia em explicar a origem do patriarcado, é problemática para os historiadores, pois se baseia no corpo para explicar a relação de dominação dos homens para com as mulheres. Isso pressupõe um significado permanente para o corpo humano, não inserido dentro das construções sociais, e por consequência, uma historicidade pro próprio gênero, em certo sentido, a história se torna um epifenômeno, que segundo a autora, fornecendo variações intermináveis para o mesmo imutável, e a desigualdade de gênero vista como fixa. Quanto as teorias marxistas, essas tem se limitado em pensar as questões de desigualdade de gênero apenas por uma perspectiva material, e as relações estabelecidas sempre retornam para reflexão acerca dos modos de produção.
“[...]no interior do marxismo, o conceito de gênero foi, por muito tempo, tratado como um sub-produto de estruturas econômicas cambiantes; o gênero não tinha aí um status analítico independente e próprio.” (Pág. 77)
“A linguagem é o centro da teoria lacaniana; é a chave de acesso da criança à ordem simbólica. Através da linguagem é construída a identidade generificada (gendered). Segundo Lacan, o falo é o significante central da diferença sexual. Mas o significado do falo deve ser lido de maneira metafórica. O drama edipiano, para a criança, coloca em ação os termos da interação cultural, já que a ameaça de castração representa o poder, as regras da lei (do Pai). A relação da criança com a lei depende da diferença sexual, de sua identificação imaginativa (ou fantasmática) com a masculinidade ou a feminilidade. Em outras palavras, a imposição de regras de interação social é inerente e especificamente generificada, pois a relação feminina com o falo é forçosamente diferente da relação masculina. Mas a identificação de gênero, mesmo que pareça sempre coerente e fixa, é, de fato, extremamente instável.” (Pág. 82)
Para a autora, é problemática a forma com que Lacan fixa apenas em questões relativas ao sujeito individual, e como centraliza ao debate das desigualdades de gênero o antagonismos subjetivo que é produzido entre homens e mulheres, o que torna redutivo os estudos dos historiadores sobre os dados do passado. Mesmo que a teoria se preocupe com a relações sociais, segundo a autora, ao ligar a castração à proibição e à lei, ela não permite introduzir uma noção de especificidade e de variabilidade histórica.
“[...] A história do pensamento
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