Nacionalismo e Socialismo na América latina no século XX
Por: Brutus_1251 • 25/9/2018 • Resenha • 2.365 Palavras (10 Páginas) • 219 Visualizações
Universidade de São Paulo - USP
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas - Departamento de História
Nacionalismo e Socialismo na América Latina no Século XX
Com a expansão mundial do capitalismo no final do século XIX e início do século XX, a questão nacional adquire outra dimensão, fazendo com que este tema se transforme no centro dos debates políticos de movimentos e organizações que lutavam pela libertação nacional e pelo socialismo. Nas primeiras décadas do século XX, a discussão sobre o nacionalismo e a luta anti-imperialista ganha força nos debates sobre o futuro da revolução socialista na América Latina.
Como parte desse movimento de resistência surgem vários intelectuais intrinsicamente vinculados a organizações e partidos políticos que vão se debruçar diante da questão nacional, geralmente combinando a luta pela libertação nacional com a luta anticapitalista, com a luta pelo socialismo, fazendo com que a análise da mesma adquira um caráter cada vez mais classista. Esse caráter classista estaria ligado à impossibilidade e à falta de interesse das classes dominantes dos países da periferia e semiperiferia do capitalismo de garantir uma verdadeira independência política e econômica, pois as mesmas sempre estiveram estruturalmente subordinadas aos interesses da burguesia dos países centrais. Portanto, seriam países onde a realização de uma efetiva soberania nacional se transforma numa tarefa da classe trabalhadora e não da chamada “burguesia nacional”.
Ao longo desse trabalho gostaria de discutir um pouco das ideias e pensamentos de caráter político e econômico acerca de nacionalismo e socialismo que estiveram em voga na América Latina ao longo do século XX e de que forma e como se deram essas experiências em alguns países latino-americanos, tendo como base as aulas e os textos da disciplina “História Política” ministrada no 1º semestre de 2018.
Revolução Mexicana de 1910 e Governo nacionalista de Cárdenas
O acontecimento mexicano é descrito como a primeira grande mobilização social da América Latina no século XX. O processo começou como uma autêntica revolução, isto é, com o objetivo de promover uma transformação estrutural na sociedade, para depois normalizar-se e garantir algumas mudanças que não representam um processo completo de modificação. Tanto é verdade que até hoje existem movimentos sociais que buscam retomar o ideal da Revolução Mexicana para completá-la e transformar a estrutura social e produtiva da sociedade do país.
A revolução mexicana foi desgastada ao longo de tormentosas sequências. A primeira irrupção camponesa em 1910 converteu um conflito entre fracções moderadas na maior convulsão da história do país. Esta fase esgotou-se depois de uma década de confrontos armados, que desembocaram num governo de arbitragem entre os grandes sectores em luta (derrota dos zapatistas e neutralização dos carrancistas em 1919).
Os setores mexicanos oprimidos da população não triunfaram em todas as suas reivindicações, mas também não foram vencidos e a revolução apesar de vitoriosa ficou incompleta na realização dos seus objetivos de modernização do país e a reforma agrária. Após quase três décadas de luta em 1933, Lázaro Cárdenas assume a presidência e coloca em prática muitas das propostas de reforma agrária de Zapata. A partir desse momento, o México começou a se modernizar.
Sob uma plataforma de governo populista e nacionalista, o governo Cárdenas implementa melhorias sociais, promove a reforma agrária e no fim de seu mandato nacionaliza o petróleo mexicano. Mas o próprio Cárdenas orientou estas medidas para um novo desenvolvimento do capitalismo mexicano e não sob uma proposta de governo socialista. Incentivou a acumulação privada através da redução dos impostos, criou um sistema bancário moldado às necessidades dos grandes grupos e auxiliou com fundos públicos os sectores empresariais em dificuldades. Manteve ainda uma boa relação comercial com os Estados Unidos e evitou a extensão das nacionalizações ao estratégico sector mineiro.
O complemento político deste esquema de capitalismo de estado foi a cooptação paternalista dos sindicatos operários e agrícolas. A burocracia dessas organizações foi consolidada à medida que a esquerda se isolava. Quando a etapa radical concluiu a seu papel, Cárdenas saiu de cena e Ávila Camacho (direita) pôs em marcha as medidas exigidas pelos novos poderosos. Então começaram as três décadas de monopólio político do PRI, que acentuaram a concentração da riqueza em muito poucos setores capitalistas. Junto à mistificação ritual da revolução, o novo regime político apadrinhou a acumulação privada. As conquistas populares foram paulatinamente esvaziadas e dissipou-se o seu conteúdo inicial que eclodiu em 1910.
As contribuições de Mariátegui e Haya de la Torre para o pensamento nacional peruano e latino americano
No Peru, em torno da experiência da Reforma Universitária que ocorria nos países latino-americanos a partir de 1918, da Revolução Mexicana e Revolução Russa, emergiram duas figuras importantes na política e ideias nos anos vinte: José Carlos Mariátegui e Víctor Raúl Haya de la Torre. O embate de ideias entre os intelectuais peruanos sobre o caráter da revolução latino-americana forneceu muitos dos parâmetros que ainda hoje são utilizados para analisar política e teoricamente a situação da América Latina.
Mariátegui e Haya de la Torre, iniciaram juntos a jornada política. Neste primeiro momento eles partilhavam diversas posições, a principal delas, era o dilema entre uma independência formal e uma dependência substancial (tradição marxista). Concordavam, portanto, na crítica ao imperialismo e na necessidade da Frente Única para contrapô-lo, o que se concretiza com a fundação da APRA em 1924. Outra preocupação comum era a questão indígena, que ambos seguiam os passos de González Prada ao enxerga-la como questão econômica e social, cuja solução era política. Cabe aqui destacar a contribuição de Mariátegui que, além de muitas outras questões, desenvolveu um indigenismo que buscava destacar a hipocrisia da ideia de raça. Mariátegui escreveu um conjunto de crônicas, críticas literárias, artigos, ensaios e uma vasta produção literária e teatral. Discutiu temas como nação, educação, trabalho e muitos outros, mas, para ele, o elemento fundamental a ser enfrentado era a "questão indígena". Segundo sua obra, deveria haver uma nova abordagem da questão do índio, que ressaltasse a questão econômica, política e social gerada pela luta pela terra.
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