Narradores de Javé
Por: Silvana Santos • 13/6/2016 • Resenha • 817 Palavras (4 Páginas) • 354 Visualizações
OS NARRADORES DE JAVÉ[1]
SILVANA PEREIRA SANTOS[2]
Filme brasileiro que retrata a cultura sertaneja e o processo de oralidade histórica de um pequeno povoado do sertão da Bahia, Vale do Javé.
Os moradores do vale ao descobrirem que a terra será transformada em barragem, se reúnem em assembleia no salão paroquial da igreja católica para decidirem o que fazer e tentar salvar o vale. Porém ficam sabendo que para salvar o povoado terão que torna-lo patrimônio da humanidade através de fatos científicos e tudo no vale é de boca falada e não documentada, daí surge à ideia de contar a história do Vale do Javé. Resolvem então de comum acordo chamar o carteiro também conhecido como maior mentiroso da região, Antônio de Biá, que para não perder o emprego, já que a cidade é formada por analfabetos, escreveu cartas a conhecidos de diversas cidades com histórias mentirosas, e ao ser descoberto foi expulso do vale, mas a população agora precisava dele para produzir a grande história de Javé.
Antônio começa a ouvir o povo e ver que não há nada de científico que possa salvar o vale visto que não tem nenhum acontecimento importante que possa torna-lo patrimônio, e fica enrolando o povo, pois as várias histórias contadas pelos moradores se assemelham, mas sempre puxando a sardinha para o lado de quem esta narrando o fato.
Não existem argumentos que possa levar o Vale de Javé a ser tombado como patrimônio, e o mesmo serão inundados pelas águas e os moradores obrigados a saírem de suas casas, fato que faz o povo renegar Biá novamente.
A população então começa a deixar o povoado e as águas a cobrir o vale, os moradores observam de longe, e Biá começa a escrever a nova história do Vale De Javé e os mesmos que antes lhes deram as costas narram suas versões dos novos acontecimentos.
O historiador muitas vezes deixa de ser dono de si próprio para contar as histórias de outras pessoas, tido muitas vezes como um grande mentiroso, que cria, aumenta ou inventa suas verdades para contar as verdades de outros.
Existem muitas histórias contadas e não escritas, que são fatos reais, porém sem muita confiabilidade, pois há quem acredite mais naquilo escrito do que dito de boca em boca.
Para Antônio de Biá, ‘uma coisa é o fato acontecido, outra coisa é o fato escrito, o acontecido tem que ser melhorado no escrito de forma melhor para que o povo creia no acontecido’. (Narradores de Javé, 2004). Esta também é uma visão de muitos historiadores, onde as versões de histórias podem ser de quem narram, porém a escrita é de quem escreve e assim o faz como quer. Para os vários moradores que contam as suas lembranças para criarem a história de Javé, nessas narrativas estão as suas verdades, que muitas vezes não importa para uma versão geral da história a ser contada, mas que para eles são fundamentais para explicarem como lá chegaram e viveram até o dia da chegada das águas.
É difícil a meu ver, um historiador optar por verdades de poucos quando outros poucos têm outras verdades também a ser ditas, porém para se obter sucesso em uma pesquisa, ela tem que estar cientificamente incontestada, podendo ser analisadas por outras versões, mas não desmentidas e sim acrescentadas de mais acontecimentos.
Há várias formas de contar a mesma história, tudo depende do ponto de vista de quem as narram, o historiador tem o ofício de contar histórias por muitas vezes tendo que recriá-las para assim ter acesso a mais informações.
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