Nota de leitura
Por: jli4 • 19/10/2015 • Trabalho acadêmico • 1.203 Palavras (5 Páginas) • 273 Visualizações
O texto ‘História, mito e identidade nas festas de reis negros no Brasil – Séculos XVIII E XIX’ de Marina de Mello e Souza fala sobre a organização das festas do Congado e sobre a sua importância tanto para os negros escravizados e para a Coroa Portuguesa também. A eleição dos reis negros se dava pela identificação de uma mesma etnia e, além disso, essa escolha foi uma forma encontrada de recriarem uma nova organização social, descobrindo uma nova identidade e a construção de novas comunidades. A principal função do escolhido seria organizar as festas em homenagem aos seus santos padroeiros e quando a festa ocorria, os negros saíam pelas ruas da cidade dançando e comemorando.
Um pouco mais adiante, a autora conta como os negros receberam o catolicismo, chamado por John Thorton de “cristianismo africano”, os negros adotaram alguns símbolos, ritos e explicações católicas para a sua religião. Incorporado a essa lógica, o cristianismo foi integrado às religiões tradicionais como mais um movimento a trazer novas possibilidades de uma relação harmoniosa com as divindades e consequentemente uma vida melhor para as pessoas (pág. 253-254). Considerando a história da conversão da corte congolesa ao catolicismo e o trabalho dos missionários desenvolvido na região do Congo e de Angola, é possível entender como a cristianização foi elemento incorporado à formação de uma identidade que, mesmo ao adotar elementos vindos da cultura lusitana, reforçava os laços que uniam as comunidades negras à África (pág. 255).
Para os coloniais e estudiosos, as festas de reis negros eram bem recebidas, pois era uma forma fácil de fazer com que os negros liberassem as tensões acumuladas pelo escravismo e “esquecerem” seus problemas, retornando para o seu “trabalho” mais tranquilo. Para os negros, era muito mais que isso, era um momento de reforço da sua identidade e com a escolha de representantes para a organização e realização das festas, reafirmava uma hierarquia interna. Há um relato de um viajante no texto sobre uma festa, Pohl conta sobre como um monarca negro reagia com a presença de um estrangeiro suspeito, mas que no final, ao descobrir que o forasteiro queria apenas conhecer e participar da festa, ele é recebido por todos com cantos, danças e um banquete de feijão e aguardente de cana.
E por fim, a autora fala sobre como depois do século XIX a Igreja Católica começou a restringir esses eventos, pois queria controlar a religiosidade popular e o Estado tinha o desejo de se afastar do passado colonial. No final do século XIX e começo do XX, quando entraram em vigor as novas relações sociais de produção e dominação, muitas vezes as congadas passaram a expressar a identidade de um grupo definido pela sua condição social, de pobres, havendo crescente participação de pessoas mestiças e brancas nas festas, sendo os cargos de rei e rainha sempre reservados aos negros (pág. 259).
No texto ‘O Corpo de Deus na América: A festa de Corpus Christi nas cidades da América Portuguesa – Século XVII’ escrito por Beatriz Catão Cruz Santos fala sobre a organização e a realização da festa de Corpus Christi ou Corpo de Deus, segundo a autora, a importância social era medida por várias formas: a proximidade da hóstia, segurar as varas do pálio e entre outros. Havia algumas tarefas que eram designadas apenas para autoridades, como por exemplo, a já citada: segurar as varas de pálio. Os que tinham esse direito eram pertenciam ao Senado ou ao príncipe herdeiro.
A festa de Corpus Christi era obviamente feita para celebrar o corpo de Deus, mas também tinha outro objetivo: manter a hierarquia social. Pessoas de ‘nível mais alto’ ocupariam cargos importantes na festa e com a diminuição da sua importância, menos destaque tinha a sua participação. Umas das atrações realizadas por forneiros, carniceiros, telheiros, caieiros e lagareiros da cidade era conhecida como judenga – uma dança de caráter expiatório, voltada particularmente para os cristãos novos (pág. 1110) – e segundo Guimarães, a judenga fora “uso em todas as festas da Câmara e atingia todo o espavento na de Corpus Christi”. É uma descrição da dança em que se pode destacar a presença simultânea de “homens e mulheres disfarçados com máscaras”, que “pervertiam os ofícios divinos” e “inquietavam toda a gente”. Mais adiante, acrescentaria a representação, “vão vestidos ridiculamente”, “matraqueando”, “todo aquele dia gastam em semelhante dissolução e desconcerto”. Portanto, a representação da Câmara indica uma série de atributos que apontam para um movimento desordenado dos corpos (pág. 123).
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