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O Fichamento da Carta do Vespúcio

Por:   •  16/8/2019  •  Trabalho acadêmico  •  1.454 Palavras (6 Páginas)  •  191 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO – INSTITUTO MULTIDISCIPLINAR

MARIANA DE BRITO SILVA

Curso de licenciatura em História

Disciplina: História da América I

Docente: Luis Guilherme Kalil

NOVA IGUAÇU

2018

“Mundus Novus” é uma carta escrita por Américo Vespúcio após seu contato com terras que, posteriormente, foram atribuídas o nome de América, já que as terras em questão não surgiram do nada com esse nome, os próprios habitantes não se viam como americanos, isso é uma catalogação europeia. Dirigida para o banqueiro e político italiano, Lorezo di Medici, Vespúcio descreve as coisas com as quais ele se depara. É importante atentar-se ao fato de que toda essa descrição parte de um homem em um contexto totalmente diferente, impregnado com uma cultura distante, ou seja, ele enxerga o tal “Mundo Novo” com um determinado filtro, com um olhar treinado para ressaltar algumas coisas e ignorar outras, um olhar de um homem italiano a serviço do rei de Portugal e que faz tal descrição para outras pessoas também europeias que, em sua grande maioria, nunca tiveram contato com essas terras, logo é preciso fazer uma leitura partindo do que é comum para poder ser entendido dentro de sua lógica. Essa leitura diz muito mais sobre Vespúcio e todo o contexto o qual ele estava inserido do que propriamente os habitantes desta terra. Para o fichamento em questão foi escolhido o termo habitantes e seus sinônimos do que índios, para não colocarmos no mesmo balaio grupos culturais distintos e riquíssimos.

No primeiro parágrafo Vespúcio saúda o político e já faz uma afirmação: há um continente, um mundo novo habitado para além do Atlântico, que vai na direção contrário do que muitos acreditavam na época, de acordo com ele.

Ele faz anotações do que julga ser importante para ser relatado, a princípio conta como começou a viagem, da passagem no litoral do continente africano, levando 2 meses e 3 dias e que nesse meio tempo não avistaram terra alguma, para então chegar no “novo mundo”, partindo do litoral africano, algo que demorou 44 dias de chuvas e desolação. Após isso, no dia 7 de agosto, ele e sua tripulação desembarca em terra firme e, logo após os agradecimentos a Deus, desconfia de que ali não se tratava de uma mera ilha e sim um continente, devido a extensão do litoral e quantidade de seres que ali habitavam.

Em determinado momento da carta é perceptível a imagem que Vespúcio tem de si mesmo ao se gabar que, por conta do seu conhecimento científico, eles conseguiram se localizar, alegando saber mais do que os marinheiros experientes.

No decorrer da carta, Vespúcio alega ter desembocado algumas vezes ao longo do litoral dessas terras e ter sido recebido com hospitalidade e de forma paternal, o que, se pararmos para analisar, tamanha hospitalidade pode muito bem decorrer do estranhamento e surpresa dos habitantes locais com seres que diferem de seus semelhantes, podendo ser interpretados como divindades e por isso em alguns casos eram feitas oferendas (que para o europeu era só uma tentativa de trocar mercadorias). Ele alegou também ter tido uma conversa com eles, que podemos imaginar que foi por meio de gestos/sinais, visto que ambos não compartilhavam da mesma linguagem, nem tampouco do mesmo universo, o que daria uma margem maior para interpretações distintas.

É interessante notar que em determinado momento ele fala que se depara com uma grande quantidade de pessoas, tanto que não se consegue enumerar e faz uma breve comparação com o livro Apocalipse. É perceptível a comparação com o livro bíblico que contém um teor de final dos tempos, é notável também o desinteresse em procurar saber e tentar enumerar grupos tão diversos, sendo mais fácil coloca-los num mesmo grupo: o outro.

A partir daí há uma descrição física dos habitantes, como a coloração de suas peles, que julga ser assim pela exposição excessiva ao sol e sem vestimentas. Até o momento Vespúcio os descrevem com uma certa doçura (o que nos faz pensar o que era doçura para ele), até dizer que eles têm os rotos bonitos que os mesmos destroem ao perfura-lo. Percebe-se como ele coloca seu juízo de valor nessa questão, que perfurar seu corpo é um dano, dano esse a criação de Deus. Ele descreve que esses furos são preenchidos com pedras (apenas os homens fazem isso nos seus rostos), sendo algo exoticamente artístico e que Medici ficaria admirado se visse algo tão fora dos padrões europeus, novamente aqui encontramos o padrão europeu como referência.

No parágrafo seguinte Vespúcio trata as mulheres locais como seres libidinosos, devido ao que fazem com as partes íntimas dos homens. O que Vespúcio caracteriza como libidinoso é tudo aquilo que foge da referência de mulher não libidinosa, e que referência é essa? Claro, a mulher europeia do seu convívio. O que as mulheres daqui fazem não as tornam libidinosas, com esse teor pejorativo que o olhar de Vespúcio sugere, mas faz dessa atitude um ritual próprio da cultura delas.

Descreve o quanto eles partilham as coisas entre si, não havendo bens próprios (podemos interpretar isso como um pequeno auxílio na mentalidade dos europeus de que eles podem tomar para si certas coisas do “mundo novo”, já que não há um rei ou dono daquilo), nem rei. Acaba por vê-los sem ordem, sem lei, vivendo apenas com base na natureza. “Os povos geram guerras entre si sem arte nem ordem. ” (Pág. 3) É algo interessante ele analisar isso, visto que seu próprio povo fomenta guerras e mais guerras, porém, na visão dele, há nessas guerras uma certa ordem e arte.

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